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Contos-->Satanic Request -- 04/10/2002 - 17:30 (Marcelo Santos Barbosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não quero dizer quem sou, onde vivo ou como me encontrar, pois acho esses detalhes sem importância. Estou morto, é o que basta, e ao mesmo tempo vivo, o que eu lamento profundamente.
Tudo o que eu mais amava me foi tirado, amigos, irmãos, mulheres, o dia, poderia ser eu uma criatura feliz? Mas já basta de lamentos, quero apenas contar o que me aconteceu, simplesmente, cruamente.
Sou novo nesse mundo, tudo aconteceu no verão de 67...Amor livre, paz na terra, viagens de LSD, loucura...Alguns certamente se lembrarão se seus cérebros não estiverem queimados. Eu morava num lugar tranqüilo, porém com uma vizinhança que eu ignorava, simplesmente...Essa foi minha chave para a escuridão onde me encontro.
Algum tempo antes da minha “morte” comecei a sentir coisas estranhas, pressão, angústia, não era efeito das minhas viagens de ácido ou meus êxtases musicais, não se esqueçam que eu vivia numa época onde reinavam Beatles, Stones, The Who... Bons tempos onde nada mais importava além de meus discos, minhas viagens e minhas mulheres, era diferente.
Numa daquelas noites loucas dormi depois das 2 horas da manhã, mas logo que peguei no sono senti uma forte pressão na minha cabeça, o que me fez pular, não era uma simples dor de cabeça, senti uma nuvem penetrando pelos meus poros e tomando meu corpo, uma nuvem negra como a mais negra noite, hoje compreendo, mas na época pensei ter tido um pesadelo onde uma voz bem baixa me falava: - Estamos prontos, venha e junte-se a nós...
Quando o dia começou a nascer no horizonte sai em busca de aventura, naqueles tempos com um pouquinho de qualquer droga se conseguia muita coisa, logo arrumei companhia e consegui arrastá-la para um parque na vizinhança, onde por acaso havia muita mata fechada, que eu já conhecia e em meio a fumaça mágica e calmante do cigarro começamos a transar ferozmente, foi quando por um impulso olhei para o alto e no meio da folhagem de uma das árvores, vi, bem distintamente dois pequenos pontos vermelhos parados e olhando fixamente prá mim, mas o que era aquilo? E uma voz, a mesma da madrugada brotou na minha cabeça novamente, como num eco macabro dizendo: - Junte-se a nós...Não fuja.
Uma angustia forte tomou conta de mim e até me esqueci que estava acompanhado, comecei a gritar: - Pare com isso cara, quem é vc? O que quer de mim? Não liguei quando a mulher que me acompanhava e que não me recordo sequer o nome, saiu me xingando e me amaldiçoando...Apesar da confusão, tive quase certeza que era efeito do fumo...Agora é com essas poucas memórias que me divirto e que às vezes me fazem sorrir...
Procurei nesse dia ficar cercado de gente que eu conhecia, companheiros de noitadas intermináveis que se reuniam durante o dia para filosofar sobre o mundo, as guerras, a ameaça nuclear, a paz...
Voltei para casa quando a noite já começava a cobrir a Terra, e quando entrei no caminho de casa senti que estava sendo seguido, virei várias vezes para trás; a rua não estava deserta, mas parecia que eu estava num mundo à parte, foi quando fui tomado pela sensação mais assustadora que eu que eu havia presenciado. Do fundo de uma velha casa abandonada ouvi a mesma voz de antes, mas agora eu via de onde vinha, eram quatro, talvez cinco pessoas que pareciam estátuas de mármore, parados um ao lado do outro e apontavam seus grandes dedos para mim: - Você está perto de conhecer a verdade, não fuja, o lado negro quer uma coisa que você pode nos dar...
Não consegui fugir, não consegui falar, parecia que algo me estrangulava e aquela voz parecia não sair daquelas pessoas, pois estava brotando dentro da minha cabeça, com uma clareza que nunca tinha sentido em nenhum ser.
Uma outra que estava com eles disse: - Agora vá...Sinta-se à vontade para fazer tudo o que quiser, pois na hora devida, lhe cobraremos o que queremos...Preste atenção nas sensações, pois elas fugirão um dia...Prá sempre...
E foi como se alguém me empurrasse e tudo que me lembro foi da falta de mobilidade nas minhas pernas que não queriam me obedecer e meu coração...Pensei que explodiria no meu peito!
No meu desespero de entrar em casa quase transpassei a porta, só me lembro de estar no canto do meu quarto, chorando feito uma criança assustada diante do inevitável...Drogas tinha que ser efeito de uma bad trip ou algo parecido...Agora parece coincidência, mas a primeira coisa que ouvi naquela noite foi um disco dos Stones chamado Their Satanic Majesties Request, sugestivo não? Não imaginei que o pedido da majestade satânica seria meu sangue, minha vida...
Esse foi o último acontecimento, depois se passaram alguns dias, semanas talvez, sem que nada se manifestasse sobre mim...E voltei a minha velha rotina. Não quero aqui contar todas as minha aventuras nesse meio tempo, não quero transformar esse relato em uma história de sexo, drogas e Rock and Roll.
Foi quando aconteceu...Uma de minhas “amigas” foi encontrada morta e decapitada perto do bosque que eu freqüentava, a cabeça foi encontrada quase em frente da “casa” do meu pesadelo; aquilo poderia ser um sinal de alerta...E foi.
Nessa noite fui “procurado” em mais um pesadelo, de repente me vi rezando em uma igreja e os anjinhos gorduchos que eu sempre achei engraçados saiam dos seus lugares e voavam sobre mim numa cena aterradora, acordei assustado e gritei: - Me deixem em paz! Paz? Pelo que me lembre foi a última vez que essa palavra ecoou na minha cabeça, pois logo em seguida me senti prezo e senti duas garras segurando meu ombro com uma força que jamais sentira, depois foi a escuridão...
Quando acordei me deparei com uma cena macabra: um balé infernal, onde só distingui sombras no meio de uma escuridão, quebradas apenas por pequenos pontos que julguei serem velas; um cheiro horrível de carniça, sangue, e minha cabeça rodava sem parar; sentia de vez em quando mãos com unhas afiadas passando pelo meu rosto, pescoço e só quando a dança parou que pude sentir e ver o que eram aquelas figuras e não pude conter as lágrimas e pela última vez rezei, inútil, mas foi o que consegui fazer, enquanto as criaturas iluminavam o ambiente, mostrando sua brancura, seus olhos vermelhos e suas presas...
“Nós somos um, nós somos a escuridão da Terra, do infinito, que o sangue do inferno envolva teu corpo mortal e arranque de ti o tesouro das trevas...”. Um hino? Só depois vim a entender que era um hino de exaltação ao grande Mestre.
Como se mergulhasse num grande abismo me vi envolto por todos e senti muitas mordidas, pescoço, braços, pernas, como cachorros ferozes destroçando a vitima, gritei e minha voz foi diminuindo, como minha vida.
Meu coração começou a acelerar os batimentos e senti meu corpo enrijecer, então era isso, o fim da minha vida de êxtases, apaguei.
Quando acordei meu corpo doía muito, pensei que tinha levado uma surra e que havia sobrevivido; me levantei, mas logo percebi que algo estava errado, pois quando quis tomar um gole d’agua, vomitei, junto com grandes quantidades de sangue e senti minha boca queimar!
Mas, enquanto no desespero procurava explicação para isso um deles apareceu, de repente como se tivesse aberto uma porta ao meu lado e se propôs a me esclarecer algumas coisas.
- O que são vc’s, o que fizeram comigo, por que?
- Calma, agora tens todo o tempo do mundo, tens o próprio tempo a tua disposição... Somos humanos aperfeiçoados, ou não! Não morremos, não comemos, não temos alma...
- Cara se isso for uma brincadeira, juro que vou foder todos vc’s...
- Ah! Isso é mais uma coisa que não podemos fazer...
- Pare! O que sou agora?
- Vc é uma criatura, um vampiro se preferir, Filho da noite, amigo das trevas, e agora meu irmão em sangue, logicamente.
- Não acredito...
- Vc já tentou colocar agua na sua boca e viste o que aconteceu, espere até a sede tomar teu corpo, ai verás que não minto, vou contigo para garantir teu alimento. Só espere.
Quando fiz menção de perguntar mais alguma coisa a criatura tinha desaparecido; procurei um espelho e o que vi foi um homem com enormes olheiras, totalmente branco meus olhos, não acreditei, eles continuavam verdes, porém envolta da íris havia um circulo vermelho!
- Hum...Psicodélico... Ri da minha grande ignorância.
Noite alta na cidade que foi minha, e senti um grande impulso de ver meus amigos e claro amigas, porém não encontrei ninguém além da desagradável criatura já minha conhecida.
- Chegou a hora, vamos nos alimentar?
- Não estou com fome, mas quero ver como se faz, aprender e me livrar da sua companhia indesejável.
- Então está bem, siga-me, amiguinho...
Observei cada detalhe, cada passo, cada olhar em volta e não acreditei quando a criatura se aproximou de um homem, bastante forte e com apenas um golpe arrancou sua cabeça e mergulhou em seu pescoço decepado, sugando até não sobrar uma gota a mais de sangue, meu Deus...Cara como?Maneiro...Jóia!
Me entusiasmei e a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi me vingar daqueles que de alguma forma me prejudicaram, as piranhas que não quiseram dormir comigo ou aqueles músicos idiotas que só pensavam em dinheiro e não davam a mínima para seus seguidores. Não me alimentei essa noite, voltei para casa e fui dormir, nenhum caixão cara, nem o chão embaixo da minha cama, dormi no meu colchão limpo e macio, pois eu merecia isso.
Quando acordei na noite seguinte, estava faminto, porém sem coragem de atacar ninguém, mas logo meu corpo me fez saber que não teria outro jeito, sai, e logo me vi diante de um cara que pelo cheiro e pelo estado em que se encontrava estava totalmente drogado e com certeza não ia encontrar nenhuma resistência ao meu ataque, foi o que eu havia imaginado, me pus de joelhos e destrocei seu pescoço, e todo o resto daquele ser inconseqüente, mas o que estou falando, eu fui um deles!
Tive a impressão e agora sei que o sangue com as drogas fica mais fraco e assim alimenta menos, triste não? Então precisava de mais, muito mais para me saciar.
Naquela mesma noite invadi, sem pensar muito, uma casa próxima à minha, com gente que não me faria falta, suguei três adultos e uma criança de no máximo dez anos, deixei-os nas camas, quietos e brancos como se a morte tivesse chegado na hora certa.
Vocês que estão lendo minha história devem estar se perguntando, por que agora eu parecia satisfeito com meu destino e no começo da história eu era, sou, um miserável infeliz? Pois responderei suas perguntas.
Logo meu campo de caça diminuira e juntando isso com uma característica não muito comum à nossa espécie, a preguiça, comecei a ter acessos de raiva extremos e então comecei a atacar meus antigos companheiros, minhas namoradas e isso me deixou simplesmente horrorizado comigo mesmo, aos poucos me tornei recluso e só me alimentava de animais, dos poucos que eu achava; foi quando recebi a visita do meu amigo sobrenatural.
Olhou direto para mim, sem se mostrar agradável me falou: - vc me envergonha, não tem nojo de si mesmo?
- Não lhe devo satisfações da minha vida!
- Se vc chama isso de vida...Vá se alimentar direito, vc não se olha no espelho, espantalho. Falando e sorrindo.
- Está bem agora vá, me deixe só...
Na verdade foi a última vez que o vi na minha frente, algum tempo atrás apenas o senti pelas redondezas, mas voltando ao meu relato, um episódio foi a gota d’agua para esse mundo misterioso acabar prá mim. Numa noite de muito calor e muita fome, estava eu perambulando pelos lugares que me traziam recordações boas quando ouvi meu nome, pensaram que eu iria revelar, mas não vou, e quando me virei vi a sombra de uma mulher, bem frágil e pequena, quis fugir, mas não consegui...Era minha mãe...
Não quis falar, não quis olhar, mas ela se aproximou de um jeito tão meigo, tão absurdamente reconfortante que foi impossível resistir. Seu olhar foi de uma velha amiga que de repente não conhece o companheiro, minha aparência contribuiu para isso.
Ela nem imaginava o que acontecera comigo e eu não fiz questão que ela soubesse. Ela era uma pessoa problemática e já tentara suicídio algumas vezes, cortando os pulsos, se jogando na frente de carros, overdoses...
Mas a questão é que não queria ter que relatar isso, pois é doloroso, mas vai ser a última vez, então deixe completar minha história. Ela me levou prá casa naquela noite e quis me alimentar, foi a última vez que chorei e ela vendo minhas lágrimas veio para perto de mim e sem querer saber o problema me disse:
- Tua aflição é grande, não precisa me dizer, tenho te observado há algum tempo. Apesar de tudo, continuava bela.
- Vc não imagina o que está acontecendo e é melhor me deixar sozinho, não quero criar problemas.
- Vc é meu filho, e eu não tenho mais ninguém...Que problemas você poderia me trazer?
- Se te dissesse que estou morto, vc entenderia?
- Você sabe muito bem que eu já morri há anos! Isso era a mais pura verdade e eu era testemunha.
- Mas não morreu como eu, não quero falar sobre isso.
Aquela altura estava tonto de fome e uma coisa me chamou a atenção: os cortes nos pulsos dela, fruto de sua última tentativa de suicidio, não tive como me esquivar eram nítidos demais, e como eram recentes ainda espalhavam cheiro de sangue!
- Saia daqui! Simplesmente não estava agüentando.
- Meu filho, só quero teu bem, não me negue isso!
Com um gesto totalmente materno me abraçou e junto de seu peito senti um calor e uma sensação perdidas para mim, simplesmente não resisti...
- Mãe é capaz de perdoar tudo?
- Sim meu filho, nessa vida em tudo se dá jeito, menos na morte.
Peguei sua mão beijei sua cicatriz e olhei nos seus olhos pela última vez e disse:
- A única coisa boa que posso te dar é o descanso e a tranqüilidade, por isso te peço perdão.
Ela não teve tempo de articular seus pensamentos, me agarrei ao seu pulso e com uma mordida forte e precisa arranquei suas veias e seu sangue que me tinha dado origem voltou ao meu corpo fechando o circulo de nossas vidas, sua última reação foi me abraçar forte, mas senti seu corpo amolecer e morrer em meus braços, frágil e vazio, como sua vida.
Depois disso, vi os anos passarem rápido demais, solitários demais...Vi meus ídolos morrendo, envelhecendo. Eu fiquei acima de tudo isso e ao mesmo tempo abaixo, pois não tive escolha e ainda selei o destino daqueles que tinham escolhido viver...





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