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Contos-->Insípido. Inodoro. Intemporal. -- 04/10/2002 - 22:09 (Helder Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era algo.

Não era como fumaça de incenso, nem como som de flauta de bambu entregue ao vento por dedos habilidosos. Não era como graça de gato em constante equilíbrio ou o que a alga traz guardada em sua armadura de sal e água. Lua na vidraça. Porta-retrato. Ikebana. Calidoscópio. Qualquer outro lugar comum em formato de signo. Não era.

Só algo.
Não era medo. Medo traz consigo uma tipóia que leva o braço do sonho junto a um peito desassossegado, uma gosto amargo no lábio rachado de tantas rezas e solicitações. Ventos cozinhando com calma uma caminhada para fora do peito.

Amor também não é. Mas do amor não sei designações e verbetes de enciclopédias não conseguiram boa explicação. Também não dá muito para acreditar em amantes, pois não sei se o amor cega ou gera clarabóias.

Algo.

Nada físico, quântico ou cibernético. Causa e efeito. Rabo de pavão. Gomo de sumo doce. Memorando. Relato. Verso cabralino. Nada disso nem essência ou gosto meio rastro como o da boa gastronomia servida com vinho maduro e célere.
Nem um pouco parecido com o talco das estrelas. Tampouco condicionado a nada sem qualificação. Apenas algo sem nem ser mesmo coisa. Nem se sabe se leu livros, nem se sabe como acontece ou se mesmo paira solene como uma benção. Sem mapa ou itinerário, mas com conhecimento de flores, artimanhas de pétala e perfume.

Sem previsão de acontecimento. Um relógio de espelhos reduz a chance do concreto conceito. Mas tem uma alma de muro preste a ruir depois de ter guardado todo pensamento provinciano, que perde aos poucos o amparo da hera, que posso chamar de confinamento estreito ordenado pelo tão imputado desígnio de se ser sociável.

Algo. Sem designação.

Quase que hemorrágico, mas sem estanque. Dique imenso de verbos e constatações. Quase que um vento, mas indeterminado de intensidade e ritmo. Semblante, aceno, meneio. Qualquer coisa que o corpo conduza consciente. Mas também espirro, bocejo, soluço — involuntariedades sem hora nem terço.

Molécula. Bit. Unidade. Grama do mais puro centeio. Nem isso. Mas ciente do seio das nuvens. Bebedor de chuva. Soturno e ancestral como um todo de vísceras amenas. Sazonado mas adolescente trazendo libido ainda não domada e por isso investida somente de instinto, sexo com sofreguidão.

Consentido do fundo do olho como um risco, cauterizando antes de vazar um azul. Um som abafado no descaso do ouvido, ar gelado pelos cômodos da garganta e caminhar entre neurônios, veias, músculos nem sabidos em outrora.

E claudicante, mas conhecedor do caminho, vence segundo a segundo os metros insinuados. Instruído pela estrela. Com uma tarefa que somente ele compreenderá pelo aprendizado.

Com aspecto de faca de lâmina oxidada. Um podre nobre, entronizado de químicas e metamorfoses. Algo. Mas sem etapas, metas, projetos. Cometido embaixo e entre seixos, quase pedra quase terra orgânica ambientada de putrefações necessárias e semi-imortalidade.

Era algo. Insípido. Inodoro. Intemporal.

Inefável.


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