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Artigos-->A língua portuguesa é fácil -- 18/10/2010 - 14:51 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Afirmo e reafirmo. Primeiro, só para causar um choque no digníssimo leitor. Depois para emendar: é tão fácil que faltou muito pouco para você nascer sabendo falar o português. É tão fácil que você, apenas de ouvir falar, aprendeu a construir enunciados com uma complexidade maior que a de qualquer estrangeiro de quarenta anos que estudasse a nossa língua no FISK deles. Não ria. Essa sua convivência diária com a língua - que não é só convivência, é uso – deveria ser o passaporte seguro para fazer e acontecer no comando da “última flor do Lácio”. No entanto, a maioria dos brasileiros tem medo da própria língua.

Boa parte da culpa é – novidade! - dos professores. Lembro-me de que o terror da criançada eram os professores de português e matemática. Isso, num passado muito remoto. E hoje? Continua a mesma coisa. Professores de português são odiados. Sei lá, pode ser leviandade minha, mas, se o mundo odeia o professor de português e cada escola tem pelo menos um professor diferente, ou há uma consciência que se apossa de todos os docentes e padroniza as atitudes ou todos eles ainda ensinam o português como o meu professor Jairo, o que na prática dá no mesmo: é chato ter aula de português assim!

O Seu Jairo olhava para nós, seus alunos amedrontados, e, de dentro do seu terninho safári, deixava claro pensar que nenhum de nós estava à altura do vernáculo, do léxico, das normas do português correto, o português dele. Que, perto de sua sapiência, éramos, e sempre seriamos, no máximo, semiletrados. Creio que, ao menos comigo, o Seu Jairo errou, mas se tenho uma relação positiva com a língua não é pelo trabalho dele, mas apesar do trabalho dele. Ou da falta de trabalho.

Tubo bem, façamos uma ponderação sobre o Seu Jairo. As intenções dele eram as melhores. O seu jeitão castiço, antiquado mesmo para os anos 1980 (ou principalmente para aqueles estranhos anos new wave-rock nacional...), talvez fosse uma forma de tentar nos mostrar a sacralidade, a grandiosidade, a extrema importância da língua-mãe e dos professores encarregados de nos ensinar seus mistérios: semivogais, anacolutos, adjuntos, orações reduzidas, aféreses e um baú cheio de nomes que deveriam ser mágicos e acabavam sendo menos acessíveis que o inglês. Ah.. o inglês, matéria normalmente ensinada por “teachers” mais descolados, fãs dos Beatles, do Pink Floyd, viajados viajandões. Na comparação, perdiam os Jairos. Resultado: tem muito quarentão hoje que fala inglês sem medo, mas tropeça no português. Ai, Jairo! Ai, Jesus!

Que o Seu Jairo fosse assim, fácil entender: ele seguia o modelo de seus antigos professores. O que me espanta é encontrar Jairos comandando as cadeiras de língua portuguesa em escolas públicas e privadas no ano de 2010! Professores que continuam acreditando que a língua portuguesa é difícil, que seus alunos estão lá para aprender o idioma e que apenas alguns eleitos conseguirão o sucesso mínimo. A maioria ainda opta pela repetição do modelo que recebeu dos professores do século passado. Um ciclo difícil de quebrar. Então, parece óbvio e é até ululante: se o mestre acha que a jornada é impossível, quem conseguirá estimular o discípulo a seguir em frente? Ai, Buda! Ai, Jesus!

A língua portuguesa só parece um monstro faminto. E fica com essa aparência porque quem a ensina se fixa numa nomenclatura ultrapassada e em exceções que são apenas isso: exceções mesmo. Acompanho alunos do sexto ano do Ensino Fundamental, antiga quinta série. É absurdo que esses jovens sejam obrigados a trabalhar com conceitos de voz passiva, sujeito indeterminado e pretérito mais-que-perfeito de forma tão árida quanto aquela que se ensina em cursinhos pré-vestibulares.

Ninguém com onze anos de idade merece – ou precisa - decorar as conjunções subordinadas adverbiais causais! A língua portuguesa - Ai, Jairo! Ai Jesus – é muito mais interessante e fascinante. Por que esconder isso de nossos alunos?



* Professor, publicitário e diretor do Núcleo Cassiano de Língua Portuguesa. Teve a sorte de ter a Dona Dinha e a Dona Ilza para compensar o Seu Jairo.
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