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Contos-->Percevejo! -- 05/10/2002 - 23:25 (Gustavo Aragão Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

PERCEVEJO!


Certa noite, tranqüila, de sexta-feira, eu ficara inquieto , preso em meu quarto. Assistia tv, mexia no computador numa busca incessante de algo para fazer, quando de súbito me lembrei de um bombom que havia colocado na geladeira num dia anterior que não me lembro decerto qual fora. Então, num instante peguei-me a imaginar o quão saboroso seria aquele apetitoso bombom e o quanto prazeroso seria para mim desfrutar daquela guloseima. Contudo, resolvi buscá-lo. Ainda do meu quarto olhei pelo basculante e pude notar a luz da cozinha acesa. Mas a preguiça tomava conta de mim e eu em estado de sonolência pensei duas vezes antes de ir. Enfim, tomei coragem e fui, pois a minha vontade de saborear aquele doce era maior que eu. Ao levantar-me calcei meu par de chinelos e abri a porta abruptamente. Logo me veio uma claridade forte incandescente que era fornecida pelas fluorescentes. Avistei as salas de estar e de jantar, que encontravam-se meio escuras, iluminadas por pequenos e suaves feixes da luz que clareava a cozinha. O silêncio era ensurdecedor. Fui rumo a geladeira seguro dos meus passos, mas observando todo o meu redor. Era uma sensação de segurança acompanhada de um temor não muito óbvio. Passei pela mesa, andei em direção ao armário, mas depois retornei a sala de jantar que ficava defronte a porta do meu quarto, e pensei de forma desnecessária, durante alguns segundos:
“Aonde será que está o bombom? Estou com uma ...fome.”
Quando fiquei mais seguro da minha decisão e que resolvi de forma decidida pegar o doce, comecei em passos firmes ir em direção a geladeira, mas eis que surge em minha frente, um inseto cimicídio, asqueroso, fétido, verde como uma folha, de carapaça levantada e antenas apontadas para o alto, repousava no chão junto ao meu pé, se tivesse dado mais um passo correria o risco de esmagá-lo involuntariamente. E pensei:
“ Meu Deus, uma vez escutei dizer que tinha uma determinada espécie de percevejos que sugava o sangue e se por um acaso conseguisse permear algum sofá ou colchão o bicho se reproduziria rapidamente, e conseqüentemente o dono do sofá ou do colchão teria que se desfazer deles, pois a partir daí não prestaria pra mais nada”
Porém eu não tinha conhecimento de quais seriam as características deste percevejo, mas por ser um humano logo pensei no pior e, meu coração começou a bater mais acelerado, a minha adrenalina foi a mil. De imediato, meio eufórico e temeroso, pensei:
“ E agora o que faço? Eu tenho que dar um fim nisto, porque se ele ficar voando por aí pode causar algum problema.”
Logo me veio a idéia de esmagá-lo com meu chinelo. Então o tirei do meu pé e o levantei ao alto com toda minha força, raiva e ao mesmo tempo com um sentimento de pena e compaixão por aquele bichinho tão pequeno e que nada havia feito para prejudicar-me ou sequer chatear-me. Mas ao seguir o instinto destrutivo, que é próprio do ser humano, peguei impulso para esmagá-lo quando estava descendo meu braço fortemente sobre o bicho; não consegui, parei em meio a execução, e, refleti:
“Pobre percevejo, representas pra mim um mundo que está prestes a ser esmagado pela ignorância e violência humana. Pobre de mim que sou um fruto de um mundo injusto, violento que se autoconsome na representatividade dos homens. Não consigo me


controlar. Vivo somente em busca de coisas que me beneficiem. E agora? O que faço? Sou um homem. Tenho que esmagá-lo. Vou esmagá-lo”
Levantei novamente meu braço abruptamente com toda minha força e o desci feito uma marreta pesada sobre aquele inocente bichinho. E o som do chinelo no chão cortou aquele silencio assustador, e soou por toda casa, que continuara silenciosa, logo depois do som ser propagado. O estalo do chinelo me parecia se traduzir num gemido de dor e o odor subira de imediato e se espalhou pelo ar. Por alguns instantes fiquei estático e vazio de pensamentos, depois falei:
“Antes eu o tivesse pisado involuntariamente!”
Deixei minha chinela onde estava. Fui à geladeira peguei meu bombom e o comi com volúpia, voltando posteriormente ao meu quarto. Ao chegar no quarto deitei-me, cobri-me com meu edredom azul e dormi.
(Gustavo Aragão Cardoso)

*** Todos os direitos estão reservados ao autor.
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