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Cordel-->DIA DO ÍNDIO II - O RETORNO -- 24/04/2000 - 23:32 (Mario Galvão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Conforme eu disse, compadre,
Depois de tanta porrada,
Nesta minha pátria amada,
Embora que tanto a ame,
Eu parti para Miami.
Decidido a ficar rico,
Não querendo ser pinico,
Desses tais de gringo rico,
Que nunca comeu inhame.

O que eu não tinha previsto,
É que sem o tar de visto,
Brasileiro lá não fica.
Olha o tamanho da pica!
Mas, fui dando meu jeitinho,
Rumando prá Vera Cruz,
Cruzando Rio Grande, fronteira,
Depois de muita canseira,
E de muito comer cuscuz,
Cheguei ao fim do caminho.

Joguei sete e meio em Las Vegas,
Lavei privada em Nevada,
Dormi com uma loira ensebada.
Fugi delas em Salt Lake,
Brasileiro é bom de break.
O difícil foi Nova York.
Lá eu perdi o meu torque.
Os home cercaram meu prédio.
Eu fui preso! Que remédio!

Debaixo de um holofote,
Queriam mostrasse a carteira.
Dentro só tinha besteira,
Foto de mulher pelada.
Nada de cartão verde,
Nem de carta da embaixada.
Sem ter um só na algibeira,
Me embarcaram num caixote,
Dizendo: Este não tem nenhum.
Com esse enorme bigode,
Deve ser lá de Cancun.

Lá fui eu preso e fechado,
E achei: Tou mesmo ferrado!
Mas, que destino bondoso...
Um marinheiro prestimoso,
Me atirou dentro da água,
Bem defronte à Nicarágua.
Nadando feito cortiça,
Que eu não rejeito liça,
Cheguei inteiro à Manágua.

Lá fiquei arrepiado.
Vi que a globalização,
E que esses danado ladrão,
Estão indo muito fundo,
Tomando conta do mundo.
Não tinha praia, cassino,
Ou qualquer empreendimento,
Que não fosse dos menino.
Eta povinho danado!
Até os cabaré e os bingo,
São propriedade dos gringo.

Depois de muito suor,
E carregando banana,
Consegui uma folguinha,
Tirei féiras nas Bahama.
Lá conheci brasileiro,
Bem sorridente e faceiro,
Que aproveitava o dinheiro,
Do Banco que tinha vendido,
Depois de quase falido,
Para europeu bem fagueiro.

Me disse o alegre patrício,
Que tinha por nome Maurício:
Meu amigo, cê num sabe,
Que precisamos voltar,
A tempo de comemorar,
Os nossos quinhentos anos.
Tá uma festança maior,
Na nossa Pátria querida,
Comanda o capitáo mor,
E os padre de toda ermida!
Até outra primeira missa,
Já mandaram celebrar,
É festa no sul da Bahia,
No céu, na terra e no mar.

Fiquei todo arrepiado.
Me senti arrependido,
De um dia ter saído,
Ter fugido do País.
O patriotismo voltou,
A bandeira tá no ar,
Já é tempo de voltar.
Peguei logo uma carona,
Do Maurício a lanchona,
Levantou na água um muro,
Rugindo prá Porto Seguro.
Me segura seus baianos,
Tô de volta, eu e meus panos,
Pros 500 anos saudar.

Me senti Cabral de novo,
Lá vou eu, vou ver meu povo,
O DOM A CÊ EME louvar,
Até "Seu" EFE HAGÁ CÊ,
Deu vontade de beijar.

A medida, entretanto,
Que a lancha chegou na praia,
Quae que nóis dois desmaia,
De ver o que acontecia,
O triste que se passava:
O relógio da Globo marcava,
Com meio ponteiro quebrado,
Uma longa procissão,
De gente de pé no chão.

Ela gritava, sincera,
Nóis somo os tais de sem terra,
Expulso das construção,
Das fábrica, até das roça,
Por não ter uma informação,
Conhecimento, educação.
Tamos os lombo doído,
Nóis semos os excluído,
Pela globalização.

E por incrível que pareça,
Na outra ponta de terra,
Surgiu uma gentarada,
Brotando quase do nada.
Armados de arco e flecha,
Lança, tacape e borduna,
Era gê, tupi e juruna,
Tupinambá, indiarada.
Um grito: Queremos respeito,
Surgiu de dentro do peito,
Da revoltada manada.

Cêis roubaram nossa terra,
Incendiaram ocas quebradas,
Doença, morte, aguardente,
Recebemos dessa gente.
Nos trataram feito fera,
E agora querem dançar,
E tomar água de coco,
Em cima dessa cagada?
Tem que fazer igual o Papa,
Ajoelhar, pedir perdão,
Por tanta abominação!

Eu e o Maurício,
Diante da Cruz, frontispício,
Ajoelhamos humildemente.
Olhamos o mar tão bonito,
O sertão, os rios, a serra,
A festa dos milionário,
E soltamos uma oração,
Do fundo do coração:

Deus zele por nossa Terra
Semeie aqui o perdão
Para indio, sem-terra, irmão.
Nos dê vergonha na cara,
Honestidade e retidão,
Afastando a corrupção.
Implante a Lei e Justiça,
Que sejam igual para todos,
Sem tugir, sem lentidão,
Prá rico, pobre ou ladrão,
Prá branco, índio e mulato.
Na cidade ou no mato,
Todos sejam cidadão.

Riquezas mais bem repartidas,
Conforme o merecimento,
Da ação e do trabalho,
Num regime social.
Que a gente receba o estrangeiro,
Sem ter que lhe dar inteiro,
O bocado, o feijão e o sal.
Sejamos filhos de Ghandi,
Distinguindo em perfeição,
O que é bem, o que é mal.

Vejam vocês que essa história,
Começou com brincadeira,
Com piada e gozação.
Quem leu a poesia inteira,
Viu que o assunto é mais sério:
Ou a gente toma jeito,
E administra direito,
Ou vai tudo prá cucuia.
Não haverá outro jeito,
Se não voltar a ser tapuia.
Vai ter que pegar os tacapes,
Igual nosso irmão Guararapes,
Varrer o gringo pro mar?
Ou deixa o Brasil acabar?

Mario Galvão é jornalista e profissional de RP


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