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Artigos-->tipos esquesitos -- 13/07/2000 - 17:02 (gutenberg costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos








ALGUNS TIPOS ESQUISITOS QUE CONHECI







(*) Gutenberg Costa





No mês de janeiro passado, (2000) indo para a querida terra de Mossoró/RN, em companhia do amigo Júlio Duarte, fui por sugestão deste, tomar um café regional, desses de fazer inveja as fazendas do século passado, no" Campo"restaurante, do senhor Walfrêdo Soares Carvalho, que fica na BR 304 , quilômetro 100, entre Mossoró e Assu/RN. "Seu" Walfrêdo está com 65 anos de idade, usa um bigode recheado e óculos de grau . Já perdeu a conta de quantas mulheres passaram em sua vida. Atualmente vive com uma que tem idade de ser sua filha. Logo na entrada do restaurante, nos deparamos com uma grandiosa placa com os dizeres de guerra: - " Recebemos cheque especial para 30 dias de qualquer Banco, menos do Banco do Brasil". Em sua frente ninguém ouse defender o tal Banco estatal. Entre as inúmeras esquisitices que eu notei de "seu" Walfrêdo, estão a de só ler o velho testamento e não lê o novo, nem muito menos acredita que existiu Jesus Cristo. Segundo ele , essa história da vinda do filho de Deus a terra é: - "Conversa para boi dormir!". O seu restaurante fecha antes da hora do jantar : - "Depois de fechar a minha porta eu não atendo nem ao Papa!" . Nenhum freguês se atreva a reclamar a demora da comida, pois poderá ouvir um belo grito de dentro da cozinha:- " Aqui não tem comida de geladeira como na sua casa não, e se o senhor estiver muito apressado, vá comer lá na frente!". Também não pergunte quanto custará cada alimento, que o afobado dono poderá lhe indagar em sua cara: - você veio com dinheiro contado ou deixou a carteira com a mulher em casa?!. Confessou-me que odeia freguês que se alimenta ao gosto da esposa e na hora de pagar a conta o dinheiro sai da bolsa da mesma. "Deus me livre de pisar no rastro de um homem deste quilate!. Quando lhe perguntei se o mesmo não se afobava com sua atual mulher? O velho Walfrêdo respondeu-me de imediato, sem mesmo se preocupar com as feministas do Estado em que nasceu Nizia Floresta. - " Com mulher a minha conversa é pouca e só lhe dirijo duas palavras, uma para saber se já preparou o café da manhã e a outra para perguntar se arrumou a cama na hora em que vou dormir!. Mulher só presta para duas coisas: - Fazer raiva se estiver perto e fazer falta se estiver longe!. Sua filosofia de vida é : - " Mil vezes melhor ser justo, do que ser bom! E eu não vim para agradar e nem sou dentista para ver gente me mostrando os dentes!". O papo com "seu" Walfrêdo não iniciou-se muito bem porquê logo fui repreendido quando lhe perguntei o seu nome: - " Me chame de João, José, Manoel, Joaquim...." O senhor é assuense, seu Walfrêdo? : - E o senhor veio tomar café ou será um delegado que veio me interrogar ou um Padre querendo saber de meus pecados?". Quando eu lhe falei de dois nomes do vale do Assu, sua terra, nomes do meu coração, um deles já no céu, ouvi do esquisito senhor comerciante dois estranhos elogios aos meus amigos : - " Esse vivo não vale merda de gato e esse outro que já morreu era o maior vigarista do mundo, que não pagava, nem promessa a Santo!".

O papo só amenizou um pouco para o meu lado quando eu confessei que minha família materna era da cidade de Pendências/RN e eu era um dos netos do industrial salineiro “seu” Hermógenes Medeiros. Aí o mesmo disparou um "tiro" mais alegre e cordial: - " O senhor pode até não prestar, mais pela consideração que seu avô me tinha, pode qualquer dia trazer a sua rede e passar uma chuva por aqui!". Quando o amigo Júlio Duarte, que estava sentado ao meu lado revela em meio a nossa conversa que eu sou escritor, em cima da bucha ouvimos da própria boca daquele homem polêmico: " - Todo escritor para min é mentiroso! E a mentira começou quando a Bíblia estava sendo publicada pelo seu xará alemão!". Na nossa despedida, "seu" Walfrêdo apertando a minha mão com muita força, ainda solta a matraca: "- Eu vivo disso, mais aqui eu não aceito manicaca, cabra ruim e muito menos cheque do Banco do Brasil!". Pena, foi eu não ter uma filmadora ou máquina fotográfica as mãos nesta hora ,para registrar a imagem do homem mais zangado atualmente no Estado do Rio Grande do Norte. Terra de Câmara Cascudo!.



É mais do que justo se fazer o registro histórico neste espaço aqui, do avô materno do consagrado humorista norte-rio-grandense, conhecido artisticamente como, "Espanta" – o "seu" Ernesto Cunha, lá de Currais Novos/RN, que quando estava consertando o telhado de sua casa e alguém ia perguntá-lo o que o mesmo estava fazendo, ouvia a seguinte resposta: - " Estou cavando uma cacimba, fela da puta!". Ou quando ia saindo da vacaria, com uma garrafa de leite, e nesta ocasião aparecia um matuto provocador que lhe indagava: - “ Seu Ernesto, o quê o senhor está carregando?” E o seridoense enfurecido, quebrando a dita garrafa de vidro no chão, dizia-lhe aos gritos : - " Estou levando querosene, filho duma égua!". .. Os causos do velho Ernesto juntos , dariam um volumoso livro.



Em 1992, por indicação do poeta popular Abraão Batista, de Juazeiro do Norte- CE, eu vi com os olhos que a terra a de comer, o velho carro de "seu" Lunga, que é uma cópia “xerox” do nosso Walfrêdo, Ernesto, Antônio Medeiros e tantos outros que conheci ou conheço em minha vida. Pois bem, vamos ao seu Lunga do Juazeiro do Padre Cícero, que certa vez a Prefeitura local, resolvendo implantar um belo e moderno calçadão na rua em que mora o esquisito “seu” Lunga, pediu antecipadamente que os donos de automóveis os retirassem das suas garagens, pois a nova construção seria impossível a passagem dos mesmos. A obra foi construída, mais “seu” Lunga não deu ouvido aos engenheiros da prefeitura de Juazeiro do Norte e até hoje o seu carro estar dentro de sua garagem para todo turista ou curioso como eu ver e dar risadas, com o feito.



Na minha própria família materna existiram alguns tipos esquisitos. Minhas duas filhas, juram que eu sou um deles!. Mas agora eu vou escolher o meu saudoso tio-avô Antônio Alves Barbosa de Medeiros, que tantas vezes me abençoou depois de também abençoar a sua querida sobrinha ,Estela - minha mãe!. Ao meu ver foi um dos mais célebres tipos esquisitos e o homem mais opinioso que já deu em Pendências/RN. Meu citado tio-avô, era um homem claro, forte , baixo, olhos azuis, cabelos longos e uma barba branca e também longa. Seu aspecto era de dar medo nos pequenos sobrinhos- netos que o visitavam. O mais esquisito em tio Antônio é que o mesmo passou mais de 60 anos sem colocar a cabeça para fora da porta da frente de sua casa. Nem uma sequer espiadinha no janelão frontal ou uma leve pisada na calçada. O motivo teria sido, segundo minha mãe, que : Quando o mesmo era recém casado, teria aproveitado para tomar "umas e outras" no mercado da cidade e daí ter brigado feito o cão valentão ,com Deus e o mundo . O seu pai, meu bisavô, tomando conhecimento do escandalizante fato, o teria chamado severamente aos "cabrestos" ou o enquadrado na dura “lei de Chico de Brito”. Esta citada bebedeira chamou à atenção de toda a população da então pequena Vila de Pendências. O caso é que desta data em diante, o meu tio- avô, nunca mais saiu de casa, nem para visitar os seus familiares, nem nas horas alegres ou de morte!. O seu roçado e criação de gado localizava-se nos fundos de sua casa, portanto ele não ganhava o pão saindo de casa. A residência era quase que comandada pela sua esposa e os seus filhos é que cuidavam das compras, vendas e outras providências pelo resto da citada cidade. O mesmo só saiu de sua morada, deitado no caixão mortuário em direção para o "Buraco de Camundá", como era conhecido popularmente naquela época o cemitério local. Imaginem leitores, que para “dobrar”, o cabeça chata Lunga e os papa- jerimuns - Ernesto, Antônio Medeiros e o vivente Walfrêdo , nem um milagre dos Santos Padres: Cícero Romão Batista - do Ceará e João Maria - do Rio Grande do Norte, juntos!. Não acham?.



















(* ) É Pesquisador, escritor e folclorista. Membro da Comissão Norte-rio-grandense de Folclore e do Instituto Histórico e Geográfico do RN.

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