PIGMALEÃO
Não era nenhum padrão de beleza,mas inteligentíssimo.De poucas letras mas de uma esperteza descomunal.Sonhava em ser loiro, alto,de olhos azuis, falando inglês,mas aí seria covardia,diziam seus amigos de bar.Viajado,viajadíssimo,conhecia quase todo o mundo e os museus das principais cidades,não porque gostasse mas porque a mulher o levava.De ums tempos prá cá recusava-se terminantemente a conhecer qualquer novo museu.Eram todos iguais,portanto vendo um tinha visto todos.
Gostava de termos novos embora nem sempre entendesse o significado de algums que empregava,principalmente quando em língua estrangeira."Follow up" por exemplo para ele,
significava algo como
prepotência,presunção,superioridade.”Não me venha com follow up que já lhe conheço há muito tempo”,dizia na defensiva quando se sentia previamente ameaçado por um interlocutor.Corporativismo para ele não tinha o significado de “spirit des corps”,mas literalmente a expressão física do corpo,um sujeito forte,era muito corporativo e mais uma vez na defensiva dizia “Não tenho medo de seu corporativismo”
Competitivo sempre, era agressivo e quase desleal nas disputas com os adversários ,mas terno e bondoso com aqueles que gostava,sem nunca deixar de ser ferino e malicioso em seus comentários.Apostava em tudo e por tudo a qualquer tempo,mesmo contra seu time de coração, quando lhe davam alguma vantagem.Nem sempre ganhava e quando perdia fazia questão de pagar rigorosamente,para poder cobrar depois, como dizia. Bem casado,bem sucedido,rico,tinha entretanto um vazio na alma,como se lhe faltase algo a realizar.
Tinha uma visão machista,muito especial sobre as mulheres, adorava e adotava a frase de um milionário paulista"Quem gosta daquilo duro são os viados,mulher gosta mesmo é de dinheiro."
Um dia conheceu uma mocinha pobre,meio ignorante mas bonitinha,bonitinha e incrível,virgem.Teve a primeira transa com ele.Depois concluiu, que por algum motivo que sua sociologia própria não sabia explicar; pobre transava mal.Gostou porem da garota que era gentil,delicada inteligente como ele e carinhosa,tinha algo de nobre na sua simplicidade que o atraiu.Não era humilde,virtude ou defeito como ele via,que detestava. Resolveu fazer algo por ela.Primeiro uma casinha nova,depois vários banhos de loja, um curso supletivo rápido que ela, esperta, aproveitou muito,algumas viagens,enfim as coisas boas e úteis que o dinheiro pode comprar. No que dependia diretamente dele,tudo sobre os segredos do sexo,do qual era professor graduado.Um Pigmaleão fazendo sua Galatéa.
Dois anos depois era um mulherão,elegante,aparentando alguma cultura,uma deusa na cama e na arte da sedução.
Despertava inveja nos amigos.A um, mais chegado,cedeu-a por uma noite.Deliciado o amigo propôs uma sociedade,afinal as despesa cresciam, a cada dia.As viagens para Nova York,o carro novo,as jóias, as roupas de grife.As exigências aumentavam na medida que as experiências sexuais iam sendo diversificadas. Agora a moça estava pronta para a vidae e ele tinha um grande orgulho disso,sobretudo quando recebia os relatórios agradecidos e deslumbrados de outros amigos, aos quais tambem abrira a sociedade e que já formavam um verdadeiro consórcio,uma "joint venture",eram cinco a dividirem despesas e prazeres. Ele o administrador direto, o presidente da empreitada.
Até que um dia,um choque,um total imprevisto.Um dos amigos apaixonou-se perdidamente.Deixou a mulher,já velhusca e uma relação desgastada,os filhos criados.Resolveu largar tudo pela garota,mudar de vida ,ser piloto ,viajar pelo mundo com ela,ser feliz de verdade.O presidente convocou uma reunião emergencial com os condôminos,inclusive o apaixonado.Este,foi muito convicente e todos se comoveram.Por pura amizade,resolveram abrir mão daquela fonte de prazer e juventude que tinha revigorado suas vidas e dar ao amigo a grande chance que não tiveram,renderam-se à sua coragem. Emocionaram-se ao final da reunião,algums até choraram.
Hoje os quatro condôminos restantes,mantêm a parceria e garimpam no Triângulo das Bermudas,uma área da cidade onde circulam muitas mocinhas como aquela,uma nova Galatéa para começarem tudo de novo,no fundo cada um procura uma nova chance de ser feliz.
ANTONIO LUIZ RAMALHO CAMPOS em Junho de 2000
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