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Contos-->LAGES -- 06/10/2002 - 21:21 (JOÃO EVANGELISTA DE SÁ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS LAGES
AUTOR: JOÃO EVANGELISTA DE SÁ

As folhas dos bambuzais faziam barulho com o zunir dos ventos soprados no mês de agosto e o cheiro de mato queimado vinha de todos os cantos e trazendo no ar os sinais do fogo representado pelas cinzas de folhas que caiam como se fossem plumas.
À tarde, as trocais cantavam tristes nos galhos secos do pé de jatobá que havia no alto da colina.
A seca, retrato de um povo nordestino, estava a castigar a terra. As nascentes começavam a minguar suas águas, estas que formavam os pequenos riachos daquele lugar.
Os habitantes dali viviam apenas na esperança de que algum dia com a chegada do progresso à vida viesse a ser diferente.
As famílias iam se reduzindo sobre o teto, pois os mais novos saiam em busca de melhoria de vida. A cada dia onde a alegria reinava dava-se lugar à solidão.
Lá no pé do morro vivia sobre uma casinha coberta de sapé, a família do Juquinha, bem mais abaixo, onde ainda escorre as águas de um riacho, logo depois de um pé de imbaúba a Dete do Belizário subia e descia as escadas de uma casa de varandas a gritar por seus quatro filhos na hora da refeição, ou quando não estava de ida e volta ao roçado para levar de comer ao seu esposo que se encontrava a lavrar a terra.
Até aquela residência havia como acesso uma boa estrada, porém com uma suave declividade, que se dava para notar o escorrer das enxurradas nas épocas de veranico. Não muito distante dali, morava o Sinhô Mané Rita, pai do João do Toddy, assim conhecido pela forma de pedir uma branquinha.
Quanta gente boa?... Quanta gente má?... Quantos doentes mentais?... O Juquinha de Maria Ferreira mesmo era um. Além de doente ainda se encharcava na bebida. Ajuntando as duas coisas, bebedeira e doença em dias de lua cheia, punha-se na estrada a dizer palavrões que aos ouvidos acostumados não chamavam atenção.
Também por ali, vivia o João Bobo, Sobrinho do Zé da Cota, este era quase que o reflexo do Juquinha, mas se diferenciava pela preguiça. Enquanto que o Juquinha com uma foice nas mãos fazia um desastre, com o garfo o João Bobo abaixava uma montanha.
A Bia, irmã do João do Toddy só esperou que ele batesse em retirada do Córrego para apossar de seu quarto. Antes de dois meses da mudança do João do Toddy, a Bia, sua irmã, chegou com mala e cuia vindo de Belo Horizonte.
A danada não estava batendo bem da cabeça. Com pouco tempo por ali, deu a se mostrar do que era ser anormal. Catou todos os pedaços de retalhos de sua madrasta Maria, irmã do Figinim, e deu a fazer bonecas sem cabeça e espalhar pelos caminhos, cercas e porteiras dizendo ser aquilo “coisa” de outro mundo. Bobice dela e dos que por ali moram. Não existe “coisa” de outro mundo. Tudo não passa de superstição.
Por falar em supertição, caminhando poucos passos da casa do Mané Rita, dois irmãos iniciaram um pequeno comércio, o qual o denominaram de Secos e Molhados.
Turco e Tatão, os donos daquele comércio, são irmãos e ainda por cima gêmeos, estes fazem parte da família do Sinhô Zico e Graça do Turco, um morador no largo da Igrejinha. Então eles são dois de uma família de sete moças e mais um rapaz. Pois é... Estes gostavam de contar muitos causos de assombrações.
Uma vez, de passagem por ali, tomando pousada na residência do Sinhô Zico, a qual se distanciava da venda, mais ou menos coisa de trinta a quarenta metros. Ouvi tantos causos contados por aquela gente que até cheguei a pensar na existência dos personagens das histórias. Contavam e se arrepiavam como se tudo fosse verdade.
Na noite em que lá estive, Dona Graça contou que ao entrar em casa a porta da cozinha abriu sozinha e que um pequeno rádio de pilha começou a funcionar sem que ela houvesse acionado os botões. Depois de ouvir atenciosamente o causo, as crianças menores tremiam de medo.
Aquele papo delongou por muito tempo, dando a encerrar quando o Tatão contou o causo do Sapatinho de Ouro, que avistou no alto da chapada, vindo lá da casa do Zé Mateus. Disse ele que a “coisa” brilhava tanto e que cada vez que ia ao encontro dela, ela se distanciava até sumir de suas vistas e que aquilo parecia um pezinho de sapato. Muito brilhante! Muito brilhante!
Os causos não eram coisa de louco, não. Faziam as histórias como passa tempo. Fantasiavam, riam e viviam felizes.
Os loucos, dentre tantos, poucos já se foram para a outra vida, outros dali mudaram e ainda restam alguns.
As Lages continua lá, com seus causos, mas já sem muitas famílias. Dá-se para contar aos dedos. Estas estão reduzidas sobre o teto. Os filhos cresceram e saíram. Deu-se o êxodo naquele lugar. Foram em busca de sonhos. Tudo se deu por causa das águas que de já tão pouca matava o gado. A terra de tão fraca se via descoberta e queimada.
As Lages, lá continua como encanto, como canto, como um canto.
Com pouca gente, mas com os causos; sem os loucos, mas ainda existe.
Ela existe, mesmo que ainda nua e seca. Está à espera de seu povo que irá dizer da sorte e relembrar os causos.
FIM

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