Natal nos trópicos
Há Natal nos trópicos
Mesmo sem a neve dos filmes,
Sem os pinheiros da taiga européia,
Sem chaminés para Papai Noel descer,
Sem meias penduradas ao lado das chaminés
Se não há chaminés
As árvores de Natal são artificiais
Mas o Natal nos trópicos é autêntico e válido
Papai Noel visita o Brasil com sua vestimenta
Vermelha como a violência com as crianças da periferia
Quente como o semi-árido nordestino
As renas não puxam seu trenó
O Brasil não tem renas. Tem veados
Que são primos distantes e quebram o galho
O Brasil não tem pinheiros. Tem ipês roxos
E amarelos que são mais coloridos e vistosos.
O Brasil não tem chaminés. Papai Noel entra pela janela
Como se fosse um bandido, mas em vez de assaltos
Ele dá presentes para as crianças boazinhas.
E o que é ser criança boazinha no Brasil?
É ser criança que apanha da vida, mas seque em pé.
É ser criança que vive cercada das drogas, mas não se entrega.
É ser criança que trabalha pela família, mas segue criança.
É ser criança em má companhia e continuar sendo inocente.
É quase não ter o que comer, mas divide um prato se o tem.
É ser criança calejada e forjada pelas mãos duras da realidade
E ainda assim ter os sonhos de criança.
A essas crianças, quando Papai Noel além de dar um carrinho,
Uma bola de futebol ou uma boneca bem simples, quando pode
Ele dá, num de seus inúmeros disfarces para ser anônimo,
Um prato de comida,
Um saquinho de balas,
Um afago, um abraço, um beijo,
E quando pode...
(porque Papai Noel não é político pra fazer promessa impossível)
Dá um futuro melhor, dá chance de estudo,
E sempre, mas sempre mesmo!
Papai Noel dá esperança à essa criança
Porque diferentes da criança que faz boneco de neve,
Que come peru e põe sapatinho na janela,
A criança do Brasil só quer ser lembrada
Como todas as outras as crianças que tem tudo
E ser feliz como elas são quando há Natal nos trópicos.
Francisco Libânio
21/12/02
11:43 AM |