Usina de Letras
Usina de Letras
153 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62214 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50608)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Pedro madruga -- 09/10/2002 - 20:45 (Renato Essenfelder) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Após despedir-se da sua amada, já na ponta da madrugada, Pedro sentou-se no meio fio, frio, e pensou. Foi então que a poesia passou por sua cabeça como um pássaro, e roçou-lhe a fronte pesada com suas asas de rapina. Uma ravina se lhe formou sob os pés, o chão que julgava ter seu coração roubou, e na espiral lenta de granizo deixou-se confundir, perder ou encontrar conforme se esvaíam as pétalas daquela madrugada.

Acalmado, sorriu porque era poeta, e porque poeta era confundiu foices com versos. Assim antigo.

Após despedir-se da sua amada, já na ponta da madrugada, Pedro já não mais sabia quem era. Achou que era rainha, que imperava sultão nalgum deserto afastado da melancolia que o frio lhe impunha. Imaginou como seria governar haréns e praticar horrores na ditadura, esvaziou o último absinto enquanto encaminhava os reféns às jaulas imaginárias: compensação do próprio infortúnio.

Quis estar nos submarinos soviéticos, ser arquiduque na Áustria, estar na ponta dos dedos dos anjos do Apocalipse. Comprar coroas de flores e anunciar o fim. Pedro na calçada imaginava e imaginava sem conhecer o próprio destino, triste e pálido como toda madrugada.

Então não sabe se adormeceu ou se era o sonho que acordara fora da hora, fato é que deixou-se envolver pelos flocos de brilho azulado que o céu abandonava enquanto trocava sua imensa pele abissal. Limpando de si os restos do céu criatura, sorveu o último gole da última garrafa quente que lhe restara.

Não estava triste, estava a 30 minutos da morte.

Todo seu corpo sabia, as pernas resistiam em andar, os braços pesados arqueados para trás, os cabelos eriçados, os músculos retesados tentando impedir o ponto fiado. Tudo, menos a ciência, tinha a exata medida e razão da morte de Pedro.

Não que quisesse ou fizesse por algo, por contra. Demitido da sua amada, já na ponta da madrugada, nada mais a Pedro importava. Não que realmente a amasse, não que estivesse frio, tarde ou madrugada (toda a sua história foi enfeitada).

Parado de pé sobre a calçada, depois da chuva rápida gelada Pedro pôs-se a caminhar, voltando para a casa. Se ficasse talvez sobrevivesse, quem sabe algum dia se saberá? Com o pouco tempo que lhe restasse, sem saber por quê pensou.

E pensou. Ele pensou e pensou.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui