O TROCO
Razão demais para
Avançar o passo
Nessa guerra de hormônios
Nas entranhas;
Embora o olho austero,
Esperto, atento,
Seja uma ameaça que
Não tem tamanho.
Porém, o passo dado
Às escondidas
É o trapezista
Quando pisa em falso.
Na cova da ousadia
O grão lançado
Prenunciava ser
De boa lavra.
Mas a alma gêmea,
Aquele amor da vida,
O olho aberto
Para as conseqüências,
No vau escuro de
Uma madrugada,
Pegou carona
No tropel dos ventos.
Daí pra frente
Só constrangimentos
E as lágrimas vertidas
Nos lençóis.
A repressão endurecida,
Tensa,
Com acrimônia
Lhe negava a voz.
Chegada a hora
Natural das dores
Que a natureza
Impõe às suas Evas,
O fruto foi doado
Às escondidas
E a mãe forçada
A abandonar a gleba.
Depõe a dor, a ira,
O fardo, a mágoa,
Na Rua Imperatriz
Da Mauricéia.
Depois fez instalar
Sua oficina
Numa pensão
À Rua do Rangel.
A cama por ser farta
E muito ardente,
Seus dotes sedutores
Ganham fama.
Bastante mel na
Taça de Cupido
Com a abelha-mestra
Dirigindo o enxame.
Por oportuno o tempo
Opera o tempo
E põe a mente ativa
Em lugar próprio.
Os rancores, as mágoas
E as tristezas
Na tumba fria
Só restavam os ossos.
Porém, por desaforo
Volta à gleba,
Mostrar sucesso
Ou provocar cobiça,
Com o veneno
Do corpo perfumado
Sob as rendas
Francesas dos vestidos.
Em mãos pacotes caros
Com presentes
Aos entes seus,
Vizinhos e amigos;
Relevando os
Deslizes e atropelos,
Nascendo beijos,
Abraços e elogios.
Sem comentário sobre
Os seus negócios;
Queria mesmo era
O perdão dos pais.
O fruto estava longe
Em mãos seguras,
Motivo de deixar-lhe
O peito em paz.
Volta ao palco da vida,
A peça espera
Que o ator possa
Interpretar a cena.
Só que um projeto
Oculto prosperava,
Aguardando o desfecho
Conveniente.
Navegar é preciso
Diz o lema.
Viver é perigoso,
É arriscado.
Informações chegadas
Davam conta
Do vôo de um pássaro
De quebradas asas.
Pousou no leito
Onde apontou desculpas
E o coração partido
De remorsos.
Tinha planos
Tecidos de futuro
Com promessas de amor
E vida nova.
Porém a ferramenta
De barbeiro,
Do tipo bom de corte
E resistente,
Nas caladas da
Noite faz um rio
De cortadas artérias
Por vertentes.
A surpresa
Se fez mercadoria
De bom trânsito
Nas páginas dos jornais.
Mas as algemas
Por dever de ofício
Enlaçaram seus punhos
Delicados.
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