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Contos-->O visitante -- 10/10/2002 - 11:11 (Whisner Fraga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O visitante


Pois que se diga, embora prudência uma qualidade dos mais velhos e eu, uma garota que odeia chamem mulher, ainda que o corpo me contrarie, qual criança não o é?, isso pensa minha mãe, embora eu com já vinte e dois dizem belos anos. Aliás, caminhava, tenho dessas de ir da rodoviária aproveitando o sereno e minha casa é perto, seis ou oito quarteirões, embrenhada nesse auto-papo que jamais me levou a lugar, concluo, sem temor de me encarar e tranqüila pela proteção da noite iniciada.
Ele não, homem, e já o notara desde jamais, barba bem-feita, cabelo recém-cortado, como se aproximasse, notando em mim solidões apressadas, um rumorejar de ousadias e presságios, então que aprumei o cenho e me cheguei a mim, dizendo pasmada que era hora e que sendo assim um afogueado dispersando a tristeza, só via respostas e à minha frente, ele.
Que veio com conversas-arrebiques, dispondo em frases entrecortadas a sua retórica e tendo dito algo em francês, examinei longamente seu traje condizente com a situação a que se referia e depois, quem não sofre de doenças piores, um câncer aqui, um enfarto dali e ele, então apaixonado, revelara, quebrando também o lustro inicial, e quem eu, vêem flechas por onde atirar?, e eu?
Simplória a sua necessidade que quis crer em arroubos e, longe já a minha preocupação comigo mesma, tartamuda nas palras do íntimo, desassossegada com tramas alheias, vi-me ainda de novo em asas de cupido, travestida de além disso, ele que precisava de um telefone, era assim que reataria com a noiva e que após, para essa confluência que dizem duas criaturas desencontradas mas que perpetuam destinos, desatinei, dele sabia o quê?, nem nome, apelido, idade, ou mais, que rezava em sorrisos qualquer desconfiança, chamei-o assim para casa e lá, onde sabia apenas mãe e meu irmão mais novo, criatura dócil porque recém-nascida, eu roubada de mimos, mostraria o telefone e crente na sua história o deixaria só, para declamar quantas ironias e outros planos para aquela que chamaria sua mulher e que eu, garota.
E se ele em mim, aspergido o fel do cinismo, controlasse arguto a dose e tendo-me a seu lado implorando a gota desse vício recém-inaugurado, quando chegamos e em casa minha mãe e em seus braços meu irmão, convidei-o a entrar e ele aferiu a proposta, vasculhasse uma ingenuidade à qual se desacostumara, já cônscio de seus domínios, encarando-a, exalei ciúmes em ódios recentes, disse-lhe: mãe, meu amigo precisa fazer uma ligação, a senhora se importa?, ela prenunciando-o genro assentiu imediatamente, apontando o aparelho que estava na escrivaninha ao lado da cabeceira de sua cama.
Perguntou-me se namorado e eu, tímida e metódica, disse que ainda não, mas quem sabe?, e ela olhou-me lépida, quase a me lembrar que fomos amigas. Que seja o que queira, mas não o deixe ir antes de comer alguma coisa, vou à cozinha e então preparo algo para os dois, antes que recusasse, estava perto da geladeira e quis mesmo impedi-la?
Ele ao telefone e brando, vejo-o de perfil, não sei se fala ou finge, ligou mesmo para alguém?, já o deixáramos só, então essa a malícia que a mãe dissera eu aprenderia fora de casa?, talvez a julgasse crescida, mas onde encontrar-me assim?, após dois anos de convivência, repúblicas, pessoas estranhas, quase desregradas, mulheres!
Não se alongou, veio ao nosso encontro, assustada quando me abraçou na frente de mamãe e sorrindo disse que tudo estava resolvido e antes eu respondera a ela que meu amigo era de Rio Claro e que viera a Araraquara a meu convite e que chegando aqui se esquecera de avisar a família, assim argumentei e minha mãe: avisou seus pais que está em casa de amigos?, ele, nem alterando a expressão respondeu que sim e que inclusive mandou um beijo para todos, que já me conhecem de outras viagens e que confiam em mim, fizesse o justo e estava tudo bem, olhando-me, senti-me cúmplice e de alguém que conhecera há pouco.
Jantamos, ele se aproximando, quero dizer que conversava e assim contava histórias tão dignas, que ávida por crer em sua bondade e impedida por meu orgulho de contar a verdade à minha mãe, acreditei e nesta crença encerrava temores e esperanças. Ou de vez o conflito e qual maior, a angústia ou a vaidade?
Menina. Depois fomos para sala e após a sobremesa, percebendo que estávamos sós, comentou algo de meu pai e antes que pudesse calá-la, ela disse que viajando e de volta somente daqui a duas semanas, percebi a saudade consentindo com o desabafo e ele nos olhava e nada concluíamos.
Depois tudo estaria terminado, quando disse que estava ficando tarde e que assim perderia o último ônibus para sua cidade, minha mãe, penalizada com a situação do estranho, que parecia cansado, convidou-o a passar a noite ali em nossa companhia, é sempre bom ter um homem em casa, o mundo anda tão violento, ajuntou, acentuando ênfases nesse pedido que mesmo um amigo concordaria em ficar.
Ajeitou sua cama na sala, um colchão que guardávamos para visitas, eu em meu quarto deixei a porta aberta, quem sabe poderia proteger minha casa se quisesse roubar algo?, o que contaria à minha mãe se no dia seguinte ao acordar visse todos os nossos bens levados embora?, resolvi ficar acordada, vigiando-o. Ele dormia e eu jamais, um respirar mais alto, um virar o corpo, tudo me assustava.
Madrugada e o vi de repente abrir os olhos e sem pressa se levantar, dirigindo-se para meu quarto, caminhando como se nada quisesse revelar, até a hora de executar o plano que tecera desde que nos encontramos.
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