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Contos-->SALVADOR -- 10/10/2002 - 11:16 (Ricardo Soares Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Deitado na cama, acendi um cigarro. Eram 6 horas da tarde, já estava escuro, era um dia de Julho, chovia torrencialmente e estava frio. Na porta do meu quarto, na parte superior, havia um vitral com vidros coloridos, e era por ali que naquele momento entrava um pouco de luz no quarto. A casa era muito antiga, do tempo que os vidros e os móveis vinham da Europa.
Junto com o ruído da chuva escutava também o rádio que estava sintonizado numa estação argentina, tocando velhos tangos. Pessoas conversavam no salão, mas só ouvia um murmúrio. Estava cansado, naquele dia tinha trabalhado bastante.
Ouvi um miado de gato, continuei deitado, o bichano insistiu no que parecia um triste lamento. Levantei, dei a última tragada e apaguei o cigarro, abri a janela e peguei o gato. Era um lindo filhote, molhado da chuva e tremendo de frio. Na pensão era proibido ter animais. Deitei novamente e coloquei o bichinho dentro do casaco e fiz carinho. Logo o bichinho já se aqueceu e começou a ronronar. Levantei, deixei o gato sobre a cama, abri a porta do quarto e fui até o salão. Era Sexta-feira haviam 3 hospedes que esperavam suas caronas para irem para casa passar o fim de semana. Sofia, sempre muito gentil, fazia sala para os rapazes.
_ Boa noite. Por favor, Dona Sofia, a senhora poderia me alcançar um copo de leite e anotar na minha conta.
_ Pois não. Disse ela e me alcançou.
Naquele fim de semana eu não iria para casa, chovia muito a vários dias, as estradas deveriam estar muito ruins.
Peguei o copo de leite com um pires em baixo e voltei para o quarto. Coloquei o pires no chão e dei um pouco de leite para o gatinho que já estava sentindo-se tão bem que até já queria brincar.
A Dona Sofia era uma mulher de 31 anos, era morena clara, cabelos e olhos castanhos, tinha 1,70 m de altura e uma proporcionalidade que deixava os hospedes babando. Era uma pessoa gentil e simpática com todos, mas reservada, ela e mais 3 empregados trabalhavam na pensão. E havia o Senhor José, seu marido, ele tinha 50 anos, um português grande, forte e grosso, era caminhoneiro e geralmente estava trabalhando fora, fazendo fretes com seu caminhão. As mulheres daquela época sempre usavam vestidos, e os que Dona Sofia usava, geralmente, eram justos e deixavam ver as curvas do seu corpo. O seu caminhar era algo muito sensual e feminino, aliás, todos os seus gestos eram um feitiço para mim. Ela era uma pessoa simples mas estava sempre bem alinhada, o cabelo, a roupa e os sapatos sempre mostravam o seu cuidado.
Certo dia enquanto almoçava, haviam também outras 10 pessoas no salão, reparava nos detalhes dela, estava usando uma blusa decotada e aparecia a alça do sutiã, na hora do movimento ela ajudava no salão levando os pratos até as mesas, retirava a louça e tirava pedidos, sempre gentil conversava amenidades com um ou outro hospede. Então ela estava parada, anotando o pedido de outra mesa, ficou de frente para mim, comecei a reparar como seus olhos eram bonitos, grandes, brilhantes e com sobrancelhas grossas e bem desenhadas. Naquele momento, parece que ela sentiu que estava sendo observada, olhou para mim com uma mensagem que naquele momento não pude exatamente decifrar. Era um olhar sério mas não de desaprovação. Me fitou por 3 segundos e meio. Me atrapalhei tanto que não sabia se cortava o bife ou comia inteiro.
Bem, voltando para o gatinho no meu quarto, deitei novamente por cima da colcha, não tirei nem os sapatos. O bichano pulou para cima de mim me olhou e miou.
_Se tu miar novamente, vai ter que voltar para a chuva amiguinho. Não me arranje confusão com a Dona Maravilhosa Sofia.
Fiz um carinho e ele se aquietou novamente se aninhando encostado no meu corpo. Acendi a luz de cabeceira e peguei o Seleções, que adorava ler. Em seguida ouvi o ruído de um carro chegando, era a carona dos rapazes que iam para casa. Então ficou mesmo só o ruído dos pingos de chuva. Ideal para ficar abafado na cama lendo o Seleções. Ouvi quando o relógio de parede no salão bateu 8 horas da noite. O fato de estar sozinho com Dona Sofia na pensão me atrapalhou um pouco a concentração na leitura. Ouvi seus passos, no assoalho de madeira, passar pela porta do meu quarto. Daí pensei: Ela é casada e daqui a pouco o Seu José está chegando. Não posso arrumar complicação pra mim, nem pra ela, decididamente não vou fazer isso. Continuei lendo e tentando me enganar.
Na verdade o que estava, gostosamente, me confundindo era que a uns dois dias atrás, após a janta, todos foram para seus quartos e permaneci no salão escutando rádio. Dona Sofia com mais uma funcionária arrumava a cozinha. Terminado o trabalho a funcionária foi embora. Dona Sofia me perguntou se eu queria mais alguma coisa, porque ela já estava encerrando a cozinha. Sem querer abusar, pedi um chá. Ela preparou duas canecas de um gostoso chá com canela e sentou-se em uma poltrona próximo, cruzou as pernas e aconteceu a seguinte conversa:
_ Muito obrigado pelo chá, Dona Sofia. Está muito gostoso.
_ Por nada. Mas não precisa me chamar de “Dona”. Disse ela me olhando nos olhos. Fiquei nervoso, não sabia onde colocar as mãos.
_ Tá bem, Dona Sofia. Aliás, Tá bem, Sofia.
_ Assim é melhor, senão me sinto muito velha.
Naquele momento vi que realmente estava acontecendo alguma coisa entre nós. Então o nervosismo deu lugar a um agradável jogo.
_ Velha ? Te acho jovem... e muito bonita.
_ Obrigado. Tu também é um homem bonito. Tens namorada ?
_ Não. Brigamos já faz algum tempo.
O rádio estava sintonizado em uma rádio norte americana em um programa de jazz. Peguei um cigarro, coloquei nos lábios, quando abri o isqueiro para acender, ela disse imperativamente:
_ Quero um !
_ Desculpe, não sabia que fumava. Alcancei o maço, ela pegou um, colocou nos lábios, acendi o isqueiro e o seu cigarro. Ela agradeceu, deu uma longa tragada e disse:
_ José não me deixa fumar. Mas gosto de fumar um cigarro de vez em quando.
Olhando para sua boca, comecei a sentir um desejo enorme de beijá-la. Tipo de um formigamento pelo corpo, uma forte atração. Naquele momento paramos de falar, olhei dentro dos seus olhos e me pareceu que ela sentia o mesmo. Levantei da cadeira e me aproximei, ela levantou-se também. O coração disparou mas estava seguro, peguei sua mão, era macia e quente.
Então ouvimos o ruído do caminhão estacionando. Rapidamente ela apagou o cigarro no cinzeiro e foi para a cozinha. Jogou uma porção de feijão em cima da mesa e começou a escolher. Sentei e continuei escutando a música que era muito agradável.
Seu José entrou e disse para Sofia:
_ Prepare uma janta enquanto tomo um banho.
Dei boa noite para Sofia e fui dormir. Durante os dois dias que se passaram, tudo se deu como se nada daquilo estivesse acontecido até chegar no ponto em que estávamos anteriormente, deitado na cama lendo seleções.
Miau...miau...miau
Maldito gato.
Toc toc na porta.
_ Tens um gato aí dentro ? Perguntou Sofia do lado de fora do quarto.
Abri a porta.
_ Desculpe Sofia, ele estava molhado e com frio, amanhã levo ele embora.
_ Não tem problema. Coitadinho. Essa noite ele pode dormir aí no teu quarto, mas não deixe o José perceber, ele pode não gostar.
_ Obrigado Sofia. Amanhã cedo, quando for trabalhar levo ele e dou para uma colega que estava procurando por um para espantar os ratos da sua casa.
_ Tudo bem. Daqui a meia hora vou servir a janta. Para jantar hoje é só eu o José e tu.
Dei leite pro bichano não miar, ele bebeu e foi dormir na minha cama. Fui para o salão jantar, em seguida chegou o Seu José, ficamos conversando e escutando rádio. Sofia colocou a janta na mesa, jantei e, sem demora, fui para o meu quarto com medo que o gato miasse. Cheguei e vi que ele dormia como uma pedra. Deitei, Peguei o Seleções e fui ler. Alguns instantes depois que havia deitado, ouvi o ruído de um carro chegando, bateram na porta e chamaram pelo Seu José. Ele foi até a porta e as pessoas pediram sua ajuda para socorrer umas famílias de flagelados, com toda aquela chuva já a dias, haviam vários lugares na periferia da cidade onde a água havia invadido as casas. Sem demora, Seu José deu partida no seu caminhão e foi à filantropia. Continuei deitado, lendo. Após alguns minutos senti sede. Calcei os chinelos e, de pijama, fui até a cozinha, acendi a luz, peguei um copo no armário, enchi com água do filtro de barro. Bebi. Apaguei a luz e fui voltando para o meu quarto no escuro, de repente, me assustei que correu um frio pelas costas, vi a brasa de um cigarro no escuro da sala. Acendi a luz. Sofia sorriu. Estava fumando no escuro.
_ Assustado ?
_ É. Me assustei mesmo. He he
Ela estava com um daqueles vestidos lindos, havia tirado os calçados. Os pés descalços no chão e as pernas ligeiramente abertas, me deixou louco.
_ Tenha uma boa noite. Disse ela.
_ Boa noite para você também. E fui para o meu quarto, deitei e tentei continuar lendo. Desisti, Larguei o livro, apaguei a luz de cabeceira e fiquei escutando a chuva, tentando relaxar e dormir. Ouvi quando Sofia fechou a porta do seu quarto. Quando fechava os olhos só me vinha uma coisa a mente, Sofia. Não conseguia desviar o pensamento. Não consegui dormir. Levantei novamente, calcei os chinelos, abri a porta do quarto e fui até o banheiro. Naquele instante trovejou forte e faltou a luz elétrica. Tateando, abri a porta do banheiro e fui, lentamente às escuras, me dirigindo para meu quarto. Quando cruzava pelo quarto dela, ela abriu a porta com um castiçal aceso na mão.
_ Passeando ? Perguntou ironicamente.
_ Não. Estava te procurando.
Delicadamente peguei seu queixo e beijei suavemente seus lábios, fechamos os olhos, senti sua língua procurando a minha, então nos abraçamos e nos beijamos loucamente. Ela estava vestindo um chambre, passei a mão nas suas costas a senti sua pele quente e macia. Ela deu dois passos para dentro do seu quarto, colocou o castiçal sobre a cômoda e voltamos a nos beijar. Coloquei as mãos dentro do seu chambre e percebi que ela estava vestindo somente aquilo.
Violentamente tirou a blusa do meu pijama, mordeu e beijou meu peito, lambeu meu pescoço e sussurrou ao meu ouvido:
_ Estava louca para ser tua.
Nus, rolamos pela sua cama numa loucura de prazer e paixão. Chegamos ao clímax juntos, ela gritou no exato momento que outro trovão monstruoso explodia nos céus chegando a vibrar as janelas.
Naquele momento, rapidamente, chega o caminhão do Seu José. Ouvi o ruído da porta do caminhão fechando. A chave abrindo a porta dos fundos da pensão. Pulei da cama, mesmo no escuro vi meu pijama no chão, peguei-o, fui pra janela, a cremona estava emperrada, não consegui abrir, ouvi os passos pelo corredor, a porta do quarto abriu no exato momento que consegui girar a cremona da janela, me pegou, não vai dar tempo, entrou um facho de lanterna no quarto, abri a janela e senti o ar frio com respingos de chuva da rua.
Miau...miau...miau
Tendo escutado o miado. Mesmo depois de abrir a porta do quarto, Seu José voltou e foi ver onde estava o bichano que miava. A porta do meu quarto havia ficado aberta e o gatinho fugiu, estava na cozinha dando um passeio de reconhecimento.
Aproveitando o auxílio divino, passei para o lado de fora da janela, não tinha para onde ir, pois era um poço de luz da casa. Sofia atirou para rua a outra parte do meu pijama, os chinelos e fechou a janela.
Pelado, em pé na chuva, fiquei só escutando pela janela.
Seu José entrou no quarto com o gato no colo.
_ De onde saiu esse bicho ? perguntou ele.
_ Não sei, deve ter entrado durante o dia fugindo da chuva. Disse ela assustada.
_ Bem que estávamos precisando de uma gato para controlar os ratos. Né meu amor ?
_ Claro, é uma boa idéia. Disse Sofia
O Seu José havia vindo em casa só trocar de roupa. Pois estava todo molhado, disse para Sofia que voltaria só pela manhã. Saiu, ligou seu caminhão e foi embora novamente.
Sofia abriu a janela, antes de eu entrar para dentro de casa já estava me beijando, uma loucura, nos amamos a noite toda. Que fêmea maravilhosa que era aquela mulher. Depois daquele dia nos amamos mais duas vezes e cada vez melhor do que a outra. Cheguei a me sentir um tanto apaixonado, mas nem me passou pela cabeça em realmente ficar com ela. Ela também não se iludiu, era uma mulher equilibrada. Ficamos ternos amigos. Foi um gostoso acidente que aconteceu nas nossas vidas, para mim foi realmente muito especial. Em seguida fui trabalhar em outra cidade e passei alguns anos sem vê-los. Cerca de quatro anos depois passei por Pelotas e fui na pensão visitar o casal Sofia e José. Me receberam muito bem e convidaram para almoçar.
Sofia me apresentou seu filho, já tinha 3 anos, um inteligente garoto. Enquanto almoçávamos um gato pulou no meu colo, não me importei e fiz carinho no bixo.
_ Esse gato está conosco a alguns anos. Tu não chegou a conhecê-lo quando morou aqui conosco ?
Perguntou Sofia, sorrindo.
_ Não estou lembrado. Disse, me fazendo de louco.
_ É, eu achei ele numa noite de chuva, mas foi Sofia que deu o nome a ele.
Então, dirigindo-se ao gato Seu José disse:
_ Sai daí Salvador ! deixa o moço almoçar em paz.
_ Miiiiaaaaau

Fim
Em 14 Julho de 2001

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