O que somos é tão perto
do que não queremos ser...
Não fosse o prato vazio,
à espera, por sobre a mesa,
não fosse a cruel certeza
das contas, no fim do mês,
não fossem luz, aluguel,
a gasolina, a farmácia...
teria, então, outra graça
esse ofício de viver!...
Não fosse o que sou
(e quem sou?) eu seria
uma doida metamorfose
vivendo, fosse o que fosse,
mas sendo, só por prazer.
Seria palhaço de circo,
correndo periferias
colhendo sonho e sorrisos
de crianças mal vestidas.
Seria piloto de provas,
voaria de asa delta,
seria mergulhador
de abissais profundezas!...
E quando viessem os medos
nas veredas insondáveis
de Roseirais ressequidos...
Desses sonhos malvividos,
quando doessem tristezas,
eu tentaria de novo,
sol nascente, após se por,
renascer, ser caçador
de Riobaldas certezas.
O que somos, no entanto,
é perto demais do não ser!!!
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