Queria menos ainda escrever sobre este assunto: ENEM. Não que o tema seja ruim. Só tenho uma birra grande de escrever sobre o que o jornal inteiro já comenta. Preciso fazer um esforço para deixar o senão de lado e gastar umas linhas rápidas sobre a prova do próximo fim de semana. Como acho o tema repetido, vou escrever o que bem entender sobre ele. É o preço que você vai pagar para ler este texto: será do meu jeito.
O ENEM era uma coisa, virou outra. Foi criado para avaliar como andava o ensino médio brasileiro. Parido pelo FHC, a exame fazia parte de um louvável esforço para gerar dados que servissem de base para as decisões na educação. Isso era bom. A outra coisa na qual ele se transformou ainda não está totalmente coisificada. O ENEM quer ser uma prova que sirva de acesso à maioria das instituições de ensino superior, tanto às públicas quanto às privadas. Em princípio, gosto disso por diversas razões, inclusive pela mais prática de todas: aquela que se refere ao bolso de meus alunos.
Do jeito que está hoje, o ENEM é mais uma prova entre tantas que um vestibulando se vê obrigado a prestar, já que, das grandes universidades, apenas as federais aderiram ao chamado SiSu, o que significa que elas não realizam mais seus processos seletivos e usam apenas as notas do ENEM como forma de seleção. USP, UNESP, UNICAMP, para citar apenas três das mais procuradas pelos paulistas, continuam com seus vestibulares próprios. Considerando que cada faculdade cobra cerca de R$ 110,00 por inscrição, se o aluno ainda tentar algo em Minas Gerais ou no Paraná, é possível gastar, fácil, uns R$ 1.000,00 com taxas, viagens, estada e alimentação. Com a unificação, esse valor cairia dez vezes. Sob esse ponto de vista, espero que o ENEM de fato se torne o que pretende.
Hum...Como não sou mais tão ingênuo assim, acho difícil que esse processo de complete. Se o Lula for reeleito hoje... ops!, se a Dilma for eleita hoje, nada deve mudar tão rápido. Caso o Serra consiga a improvável virada, creio que o ENEM sofra grandes mudanças. Independente disso, mantendo o pragmatismo que me assola, o tal Sistema de Seleção Unificada não vai conquistar as estaduais paulistas, nem que o PSDB abocanhe a presidência. USP e UNICAMP só aceitariam entrar do processo se pudessem interferir teórica e praticamente em todo o ENEM. A UNESP talvez pensasse na adesão, mas sem o apoio dos uspianos, duvido. As particulares de peso, que são poucas, preferem selecionar do seu modo. A maioria das outras particulares já fez a conta: cobrando R$ 50,00 por inscrição, com mil inscritos, a receita de cada processo seletivo é de R$ 50 mil. Como essas faculdades usam seus professores e funcionários para desenvolver, aplicar e corrigir as provas, a maior parte desse dinheiro vai para a propaganda. Nesse caso, quem paga a divulgação é o candidato que presta o vestibular. Que empresário do setor de educação vai trocar esse dinheirinho pelo ENEM? Levante a mão, por favor, quem souber a resposta.
Quando comecei a escrever este texto, minha intenção não era discutir assuntos acessórios. Não era, mas vou confessar que é sempre muito gostoso deixar a mente divagar, devagar, sem balizas, sobre um assunto qualquer. Aliás, não sei qual professor me disse que escrever no Tribuna é bom porque aqui eles dão uma liberdade além do normal para os colunistas, a ponto de permitir que cada um publique a bobagem que quiser. É bem possível que eu tenha feito isso muitas vezes, nos quase seis anos de publicação contínua neste mesmo espaço. Tiro dessa percepção uma dica para quem vai fazer a prova do ENEM: faça como eu aqui no Tribuna, seja dono das suas repostas. Talvez o principal mérito dessa prova seja valorizar o papel de sujeito que o ser humano deve ter na sociedade. Na hora de responder a uma questão ou de escrever a redação, apegue-se à sua experiência pessoal. O que o examinador quer de você é autenticidade e não repetição de teoria de outros. Bobagem por bobagem, prefira sempre a sua a de terceiros. |
