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Artigos-->O estilícidio e a folga deles -- 30/11/2010 - 20:47 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há uma lei, sei lá em que código, chamada lei do estilicídio. Essa palavrinha esdrúxula se refere ao gotejamento provocado pela chuva que escorre das beiras do telhado. A tal lei proíbe que a cobertura de uma casa despeje as águas pluviais no quintal de seu vizinho. Durante a seca, nem lembramos que há um telhado nas casas, mas quando uma enxurrada desce pelas telhas, começamos a achar que a lei faz sentido.

Como todas as normas, essa existe para ocupar o lugar do bom senso que se foi. É óbvio que cada um deve ser responsável pela própria goteira, assim como deve cuidar do que possui ou produz, principalmente daquilo que pode atrapalhar outra pessoa: o lixo, a fumaça, os filhos, as dívidas, os enroscos todos. Mas não é óbvio para “eles”. “Eles” não entendem que sempre existe um vizinho e que, se cada um cuidar do próprio quadrado, o mundo ficará mais... redondo (momento do trocadilho infame irresistível).

Moro no endereço atual há quase três anos, não sei o nome de meus vizinhos, mas conheço a vizinha da direita pelas bitucas que ela insiste em atirar da varanda dela ao corredor de casa. Quando achei as guimbas no quintal, quase concluí que alguém em casa estava fumando escondido. Um meteoro em brasa caiu aos meus pés, naquela hora de dúvida, e o mistério se desfez: um infeliz morador da casa da vizinha ou ainda não descobriu o cinzeiro ou está treinando a modalidade “arremesso de filtro de cigarro em quintal alheio”. E o tal atleta está ficando bom nesse esporte. É o estilicídio de bitucas! Problema de quem? Agora é meu.

“Eles” têm esse deletério hábito de transferir para mim – para nós! – o problema que deveria ser só deles. Mesmo com os quatrocentos zilhões e meio de leis existentes para compensar a falta de semancol deles, a folga segue se confirmando como a mais típica característica do homem pós-pós-moderno (ou seria pré-pré-medieval?). Poderíamos usar o sistema judicial para obrigar o folgado a ser menos ele mesmo, mas sabemos que isso, quase sempre, representa mais dor de cabeça que alívio. Além disso, “entrar na justiça” para obrigar o babaca a andar com seu carro na faixa da direita e não no meio da rua, a não furar a fila, a não falar ao telefone no cinema, a não roubar vagas no estacionamento do shopping center, a não enfiar panfletos no vidros do meu carro, a não... Ah, não!

Sei que a única saída para quem não é um “deles” é manter-se no caminho quase reto da pouca folga e do muito trabalho que sobra. Como isso cansa! E ainda agora as nuvens se reúnem sobre Ribeirão, negras. Lá vem outra tempestade de quase verão. Mais uma oportunidade para o estilicídio do vizinho inundar sua casa. Torçamos pela parada da inundação de gente espaçosa, antes que cada gotinha destrua as nossas convicções. Mas chove tanto e há tão poucas calhas!



*Publicitário, professor e diretor do Núcleo Cassiano de Língua Portuguesa. Não usa guarda-chuva.

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