A GALINHA MATREIRA
Eu não fico assustado
com assombrações pequenas,
pois, cumprindo minhas penas,
muito tenho viajado.
Do Maranhão, o Estado
onde nasci, por acaso,
ao Piauí, que deu aso
ao meu desenvolvimento,
desde o primeiro momento,
conheço o fundo e o raso.
Na Amazônia vi perigo
e ouvi tanta estória,
que enquanto eu tiver memória,
elas estarão comigo.
Esquecer, eu não consigo,
o que vi no pantanal,
onde o mundo animal
e a flora se entrelaçam
e os dois, às vezes, se abraçam
com o sobrenatural.
Mas, ali em Horizonte,
Pertinho de Pacajus,
no Ceará, veio à luz
uma estória, que há quem conte
- citando até a fonte -
como a verdade mais pura,
de uma galinha que, em postura,
era muito engenhosa,
tanto que da sua prosa
desconfia a criatura.
E essa galinha matreira
começou a despontar
quando surgiu, no lugar,
uma sua prima, estrangeira,
que, dentro da geladeira
- e não lá, no galinheiro! -
pôs o seu ovo primeiro.
E pôs lá também os seguintes,
mostrando, assim, requintes
que abalaram o poleiro.
A galinha vaidosa
mostrou-se, então, bem astuta.
E foi, disposta, à luta,
pra superar a manhosa.
E eis que, bem engenhosa,
preparou, no chão, um ninho
de muitas folhas, fofinho
sob a folha de uma palmeira,
cacarejando, faceira,
alegre qual passarinho.
E, depois do meio dia,
já surgia o resultado:
o galo, todo assustado,
sem saber o que ocorria,
pois viu o ovo que caia
dentro do ninho, no chão,
descendo, num escorrego,
pela folha da palmeira.
E lá, trepada, altaneira,
a dona da ‘arrumação’.
E durou quase um ano,
todo dia ovo rolando,
assustando muito o povo
no seu saber soberano,
pois quem é que tinha plano
de ver, daquela maneira,
uma galinha escopeteira,
cheia de astúcia, ardilosa,
ir por - para cantar prosa -
lá no olho da palmeira?
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