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Cordel-->Mimosa, a Vaca Leiteira -- 17/07/2003 - 22:38 (João Afonso Carvalho Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

MIMOSA, A VACA LEITEIRA
(OU A VERDADEIRA ORIGEM DO LEITE CONDENSADO)

Vou contar-lhes uma estória,
que juro ser verdadeira.
Por favor, não vão pensar
que é mentira, ou brincadeira;
aconteceu, realmente,
na fazenda Gemedeira.

Essa fazenda ficava
lá no Sul do Piauí,
bem depois de Floriano
e antes de Uruçuí,
na cidade Guadalupe,
que, depois, mudou dali.

Qualquer doença que tinha,
fosse em gente, fosse em gado,
se levava pro Tião,
sujeito muito letrado,
que, às vezes, até fazia
papel de advogado.

É daqueles sabe-tudo
que tem no interior,
que escuta a BBC,
sabe mais do que doutor,
ajuda padre na missa
e ensina a professor...

Já está com muito tempo
que este caso aconteceu.
Se não me falha a memória
e nem há engano meu,
isso foi no mesmo dia
em que boitatá nasceu

A mulher de Bravagente,
coronel lá do sertão,
tinha uma vaca, a Mimosa,
de sua estimação,
que até no estrangeiro
já fora, em exposição.
Essa vaca era u a mina!
E se mais leite não dava,
é que, de tanto tirar,
o vaqueiro, a mão cansava:
quase cem litros por dia.
E o bezerro ainda mamava...

A notícia se espalhou,
e não era sem razão,
porque tanto leite assim
causava admiração.
E para ver a Mimosa,
era grande a procissão.

Houve até quem comparasse,
sem fazer qualquer desdouro,
essa vaquinha, a Mimosa
- pro coronel um tesouro -
com a galinha famosa
que botava ovo de ouro.

Mas não há riso sem pranto,
nem há começo sem fim;
não há bem que sempre dure,
como não há bom sem ruim,
há comédia e há tragédia;
desde o princípio é assim.

Pois não é que uns meninos,
de férias lá no sertão,
deram chiclete pra vaca?
- vejam que vadiação! -
depois disso, em suas mamas,
houve total vedação.

O coronel, coitadinho,
era um choro sem parar;
não comia e nem dormia,
só sabia reclamar
da doença da Mimosa,
que não queria sarar.

E aí, entra da estória,
o já falado Tião,
que disse pro coronel:
- O seu choro é sem razão.
Sei que o caso é complicado,
mas eu tenho a solução.

O Tião, escopeteiro,
fez tudo num só instante:
deu uma lavagem na vaca
e aplicou-lhe um purgante.
A "carga" foi tão pesada
que ela mudou de semblante...

No outro dia, o Tião
deu-lhe um pouco de solvente
bem misturado com água,
pensando, muito contente:
- com essa dose agora
desentupo o ambiente.

Negativo o resultado:
não desentupiu, nem nada.
E o Tião, pensativo,
caminhando pela estrada,
encontrou outra saída
para aquela enrascada.

Foi, então, que ele lembrou:
- com um pedaço de arame,
bem molhadinho no álcool,
para que nada se inflame,
em futuco a teta dela,
até que o leite derrame.

Nem assim o leite vinha...
E o desespero aumentava,
por causa de outro problema
que agora se mostrava:
o úbere, de tão cheio,
pelo chão, já arrastava.

Aliás, eu esqueci
de um detalhe importante:
revelar que a Mimosa
não era vaca gigante.
De tão pequena, passava
por baixo de um elefante.

E o Tião, aperreado,
querendo ganhar dinheiro,
falou: eu vou dar um jeito
nesse germe trapaceiro.
E trouxe quatro bezerros
dos que mamam mais ligeiro.

E quem não sabe que boi
quando mama, dá marrada,
suga, empurra, puxa e bate,
até ficar saciada
a sua sede de leite,
na vaca-mãe comportada?

Imaginem quatro desses,
que já estavam sem mamar
desde a noite do outro dia,
para poder mais forçar
que a vaquinha Mimosa
leite voltasse a jorrar...

E os quatro, de uma vez,
do leite, sentindo o cheiro
partiram prá baixo dela,
todos querendo primeiro
aproveitar o petisco
que se perdia inteiro.

E todo esse muxicão,
- sem que leite algum saísse -
fez que o úbere, tão cheio,
para dentro se partisse,
e na bexiga da vaca,
uma fenda se abrisse.

Mas esse acidente grave
veio melhorar a sina
da vaca, já tão famosa,
considerada u a mina,
porque ela derramou leite
por onde botava urina.

Ficou muito mais feliz
o seu dono, o coronel,
que amarrou a Mimosa
de costas pra um tonel,
com muita ração e água.
E leite vinha a granel...

E ensinaram a ele
que cana é ração boa
para aumentar leite em vaca.
E ele, que não é à toa,
"castigou" cana e garapa
na Mimosa da patroa.

De fato, aumentou o leite
que a Mimosa produzia.
Mas, depois de muito tempo,
o coronel desconfia:
- Tá grosso demais o leite...
Alguma coisa havia...

Mas por azar, ou por sorte,
o calor de lá caiu
muito pra perto de zero,
que até congelou um rio.
Nunca se viu, no Nordeste,
um dia assim tão frio.

De manhã, buscando o leite,
o vaqueiro logo treme:
tava doce, que nem mel,
tão grosso, que só um creme.
E pensou: quando eu contar,
o coronel até geme.

Diante do ocorrido,
todo mundo preocupado,
uns dez litros desse leite
embalaram, com cuidado,
e mandaram analisar,
para ver o resultado.

Uns diziam: é milagre!
Outros falavam: é castigo!
O coronel é ruim,
homem que não tem amigo.
Pode também ser "trabalho"
de algum seu inimigo

Do resultado concreto,
não encontrei narração.
Também não vou inventar,
ou enfeitar, sem razão,
uma estória como essa
ocorrida no sertão.

Agora uma coisa é certa,
mas jura não vou fazer:
só depois desse acidente,
e da pesquisa ocorrer,
foi que o leite condensado
começou a aparecer...

O que lamento da estória
que acabo de contar,
é que, hoje, não tenho provas,
pra a verdade lhes mostrar,
porque até Guadalupe
mudou-se pr outro lugar.

A cidade original,
onde se deu a bonança,
hoje está alagada,
coberta de água mansa
da nossa grande barragem
chamada "Boa Esperança".

Até os jornais da época
- depois eu vim a saber -
não cuidaram de guardar
um, sequer, para hoje se ter...
Mas a estória é verdade
verdadeira, podem crer.

joao_afonso@zipmail.com.br
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