Ela se chamava Kelly,
Ele, Wellington.
Seus pais eram analfabetos
E eles também.
Wellington tinha um boné
Onde estava estampada a bandeira dos States.
Escutavam músicas nacionais
Sem saber o que as letras diziam
E elas dizim o que eles pensavam:
É tudo festa,
Sexo, sexo, sexo
E era só o que interessava:
Sexo, sexo, sexo.
Eleições?
"Não quero nem saber"
Os candidatos?
Dizem não conhecer.
Na última ele votou,
Mas não lembrava em quem.
Ela não votou.
Por quê?
Não quis, estava com preguiça.
Além do que,
Só ia quando acabasse a música do Zezé
"Meu doce, meu mel, minha borboleta colorida"
E descia melado pelos auto-falantes.
Não esperaram,
Ela não foi,
Mas nem se importou.
E hoje, o que ela diz?
"que m... de país!"
Kwlly e Wellington têm dois filhos:
Esclaremunda e Kennyson Wisley.
Nem sabem o que é escola.
A mãe não sabe
O que quer dizer escassez,
Mas se olhasse para dentro dos armários
E das cabeças daquela casa
Veria o arroz e a inteligência.
Ele não sabia escrever "passo",
Pois não caminhava em frente,
Mas exagerou nos "eles" nos nomes dos filhos.
Não conhecia o alfabeto
E acabou usando letras
Que não existem nele,
Mas é o que a América diz.
Moram com os pais da moça
E a casa é pequena.
Na hora da novela
Ficam todos amontoados,
Mas não podem perder a novela.
Gostam de ver a vida de rico,
Porque a de pobre é muito feia,
Mas é a deles.
Certa vez sumiu o boné de Wellington,
Procurou, procurou...
Não achou,
Cismou com o cunhado Robertson
E matou o rapaz,
Com um punhal
De cabo estampado
Com a bandeira dos States. |