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Cordel-->Com Onça não se Brinca -- 17/07/2003 - 22:45 (João Afonso Carvalho Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

COM ONÇA NÃO SE BRINCA

Já deixei de falar em pescaria,
e também de contar minhas caçadas,
pois, eu sei, logo dizem: "são piadas!"
as estórias do nosso dia-a-dia.
Só mesmo quem já "entrou numa fria",
nos rios e nas matas do Brasil,
sabe o quanto precisa ser viril,
e cheio de coragem o caçador;
e muito bem sensível, o pescador,
pra entender até o fato mais sutil.

Na pequena fazenda Liberdade,
Com o José Eduardo Guimarães,
num domingo dedicado às mães,
fui pescar para matar a saudade,
e fugir do barulho da cidade.
Pois, quando se entra no pantanal,
sente-se que o mundo, afinal,
se converte num real paraíso,
onde viver parece tão preciso
quão preciso é o bem vencer o mal.

Mas, aqui, não quero me ocupar
da beleza que há no pantanal,
pois sua fauna e sua flora, sem igual,
cantarei em destacado lugar.
Simplesmente, eu desejo é contar
um acontecimento inusitado
que eu vi e fiquei tão abismado,
lamentando não ter como filmar,
para, a quem não acredita, eu mostrar
e deixar o meu dito bem provado.

O comentário que estava correndo
e assustando o povo da fazenda,
é que tinha uma fera, tão tremenda,
muitos bichos matando e comendo...
Tanto bezerro desaparecendo,
como se fosse por puro mistério...
No início, eu não levei a sério
o que contava a rapaziada,
quis saber mais da bicha, assim danada,
para poder julgar com bom critério.



Lá no mato nós entramos, então,
na busca de ver alguma pegada,
pois a fera devia ser pesada,
se tinha o tamanho da narração.
Procuramos, com cuidado, no chão,
até que alguém gritou, com alvoroço:
"Corre aqui! Vem depressa! Vem, seu moço!
Olha a marca das patas da bitela!
Do tamanho de uma pequena panela.
Esse troço não é de carne e osso..."

Eu olhei e fiquei tão espantado
com a fundura das marcas lá na terra:
deu um palmo medida que não erra)
e ainda sobrou mais um bocado.
E fiquei também muito admirado
com o diâmetro fora do normal,
mostrando que era grande o animal
que, naquele lugar, tinha passado,
sendo, pois, muito bem justificado
tanto medo que vi no pessoal.

Andando mais um pouco, encontramos
quinze braças de mata derrubada.
Ouvimos, logo após, muita zoada.
E uma briga feroz nós avistamos.
- "Eis ali a fera que procuramos!"
Foi alguém dizendo, com euforia.
E eu vi a pintada, que queria,
duma vez só, duas antas matar.
E estimei que seu corpo singular
uns quatrocentos quilos pesaria.

Demorou pouco e a onça venceu
a contenda que ali se travara:
duas antas e uma capivara,
no tapa, a danada abateu.
A carne de uma, toda, ela comeu.
Depois, bem devagar, saiu andando.
Nós fomos, pelo mato, acompanhando,
pois estava em nosso pensamento
esperar pelo oportuno momento
de acabar quem a vida está matando.

Ela chegou, então, lá na lagoa
- onde nem de cuia a gente banha
pois é muito infestada de piranha,
aquele peixe que morde à toa -
e, achando a água muito boa,
ela bebeu até a sede matar,
e depois, resolveu atravessar,
nadando, aquela pequena aguada,
sem saber que estava preparada
a surpresa que iria enfrentar.

E a onça começou a nadar
de modo muito estranho, esquisito.
Parecia que dançava bonito,
rebolando inteirnha, sem parar.
Só quando acabou de atravessar,
foi que pude, então, bem entender
o que estava ali a acontecer
com a felina tão forte e tão temida,
que, ligeiro, perdeu a sua vida,
sem qualquer meio de se defender.

Ao chegar, a fera, ao outro lado,
começou a correr e logo caiu.
O esqueleto, todinho, se partiu,
parecia um brinquedo desmontado,
pois só osso, todo esbranquiçado,
é que tinha debaixo do seu couro.
Sua força, o seu maior tesouro,
com sua carne e seus nervos fora embora.
Acabou-se, em menos de meia hora,
quem matava, num tapa, até um touro.

Não me causou tanta admiração
as piranhas comerem a felina.
Sabemos que quem mata, tem a sina
de morrer, segundo a lei do sertão.
Se uns bichos morressem e outros não,
de uma coisa se teria certeza:
corrompia-se a própria natureza,
como em grave problema fisiológico,
pois, sem o equilíbrio ecológico,
o mundo perde a vida e a beleza.

Quando junto à onça, então, chegamos,
e vimos só a pele e os ossos
- nós até pegamos nos seus destroços -
foi aí, então, que acreditamos
nesse fato que nós testemunhamos,
e ainda hoje eu não compreendi:
carne, a onça não tinha, eu mesmo vi,
- pois mexi nos seus ossos separados -
e aí nos perguntamos, intrigados,
como ela correu até aqui?

Joao_afonso@zipmail.com.br
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