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Contos-->Se tudo fosse diferente -- 13/10/2002 - 15:12 (DENIS RAFAEL ALBACH) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos








Não era a primeira vez que Priscila abria o portão para mim. Todas as manhãs de quinta-feira minha aluninha me esperava na entrada da escola: ‘Bom dia, professor!” Eu lhe respondia com meu silêncio meio distante, acenando com a cabeça uma demonstração positiva. Priscila sorria encabulada, escondendo o sorriso abaixando seu queixo, um quanto envergonha e tímida. Priscila era assim e hoje falo dela porque é quinta-feira.
Revirei os antigos materiais de português e encontrei entre os papéis o último bilhete de Priscila que diz assim: “Gosto de você professor, nunca esqueça de mim”. Jamais poderia esquecê-la, mas nunca disse isso a ela somente para manter minha burra disciplina de professor distante de aluno.Priscila entregou-me o papel dobrado como cartinha e colocou no meu bolso. Li de relance na volta para casa, e distraído escondi por entre o material como mais um recado insignificante.
Hoje ainda fiquei pensando o motivo que a levou a escrever esta carta. Priscila era carente e imaginou que quando crescesse fosse embora e perdesse o professor que ela mais amava. Sua fala faz eco em minha memória quando deito meu rosto no travesseiro e o escuro da madrugada me traz a sensação de que Priscila ainda fala aos meus ouvidos: “Gosto de você, professor. Você é meu preferido”.
Era uma menina carente. Hoje recordo sua história e seu sofrimento. Sua família decaída, a falta de carinho de um pai, tudo a fez com que se apegasse a mim. E tudo fez com que se pusesse a rabiscar frases soltas no caderno e dá-las para mim: “Eu nunca mais vou ficar longe de você professor, nem desobedecerei às suas ordens. Vou ser bem obediente, ta, professor! “.
Tinha feito dois dias que não chamava mais sua atenção quando falou estas palavras. Mantive uma certa distância por me ter desobedecido na última vez. Na hora do recreio não a vi correndo com as colegas. Encontrei-a, portanto na sala de aula. Estava lá no canto, encolhida, com as mãos no rosto e o rosto entre as pernas chorando baixinho.
- Por que choras minha menina?
- O professor não gosta mais de mim? Você ainda não respondeu se gosta de mim ou da Andressa.
- Claro que gosto de você Priscila assim como gosto de Andressa e de todos os alunos.
- Mas o senhor não respondeu as minhas cartas.
- Que queres que escreva Priscila?
- Traz para mim amanhã, num bilhete, a resposta se o professor gosta de mim.
Deixei para devolvê-la na próxima manhã de quinta-feira, o dia seguinte, minha carta para Priscila. Levei alguns minutos para escrevê-la e pô-la entre minha mala. Lá estava ela, com suas palavras, pronta para ser entregue.
Avistei Priscila que me aguardava sorrindo no portão como se esperasse uma surpresa. Disse-lhe: “Você é esperta demais para uma menina de nove anos”. Priscila sorriu como se fosse o melhor elogio que recebera.: “Mas só te entregarei a carta na saída”.
Priscila passou a manhã toda feliz e cantando. Abordei no recreio decorando uma cantiga: “Um dia vou fazer uma música só para o senhor. Você vai se admirar. Tenho certeza que o professor nunca se esquecerá quando eu lhe dizer cantando que o professor é quem eu mais gosto no mundo.” “Por que gosta de mim Priscila? “Você não sabe professor? Te gosto professor, nunca esqueça de mim”. A menina saiu correndo para disfarçar sua timidez. Perto do meio dia me esperaria no portão para pegar sua cartinha esperada.
Foi de repente que as coisas aconteceram. Se eu tivesse feito diferente e amado Priscila como ela queria, então ela teria sentido o meu amor. Procurei Priscila na saída, mas não a vi entre os coleguinhas. Entrei em meu carro, liguei e saía de repente quando de repente ouvi um grito chamando por mim.Meu pescoço de súbito virou pra trás enquanto guiava, e distante dali avistei outras crianças que me davam tchau e interrompiam minha direção.
Logo que passava a esquina da escola, Priscila vinha correndo na contra mão a meu favor gritando pelo bilhete: Esqueceu minha carta professor!?
Não era verdade. Estava ao alcance de minhas mãos para entregá-la. Priscila teria lido casou tivesse chance. As palavras estão ali ainda escritas e guardadas: “Gosto de você Priscila. Nunca te contei, mas é a minha aluna preferida. Te gosto pra sempre!”.
Por que Priscila não prestava atenção por onde corria? Foi tanta pressa que a fez corre em busca da carta que nem percebeu os carros que vinham na sua direção.Tentei impedir tal acidente, gritando alto por seu nome para que saísse da rua e tivesse cuidado. “Priscila, não!”.
Não consegui frear a tempo, ela foi parar embaixo do meu carro, caída no chão, com o rosto ferido quando a socorri. Não poderia deixar que morresse, mas não tinha mais a salvação. Ficou em mim suas últimas palavras que fazem eco no meu ouvido: “Gosto de você professor!”.

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