Ao cruzares o Rio Doce
apaga o teu archote.
Esquece o teu cigarro
de pontas irresponsáveis.
E lembra-te:
"Para além do Rio Que Morre
reina, solitária, a Pedra Que Chora..."
Agora, enquanto caminhas,
penetras um reino estranho,
que já foi belo,
que já foi verde,
que já foi vivo.
E que hoje te pede apenas
que te esqueças do fogo
que, aos poucos, pode matar
o que ainda resta de Vida.
Sobes por caminhos
que antes serpenteavam
entre árvores seculares.
Sobes por caminhos
que agora, envergonhados,
deixam que o sol te queime
com o calor dos descampados.
Atravessas um deserto
construído por tuas mãos.
Filho da agaressão de muitos
e da omissão de todos.
Atravessas um deserto
cuja marca registrada
é a passagem do Homem.
E, vencida a caminhada,
pára. Comtempla a Cidade.
E lança teu grito rouco,
canta teu desencanto
aos que mataram a Pedra.
Pois, para ver Valadares
do alto do Ibituruna
é preciso estar à altura!
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