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cronicas-->Morte em vida -- 08/08/2002 - 11:06 (Floriza Gomide Sales Rosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nos últimos dias, dei pra ler coisas alheias e, súbito, disparava em mim um mecanismo (dizem os meus amigos que eu deveria patentear essa expressão) de antropofagia literária, na medida em que, a partir do que eu lia, sentia a necessidade de escrever algo sobre o conteúdo da leitura. Mas não era uma necessidade proveniente de uma contemplação retórica ou análise textual. A carência sentida estava intrinsecamente relacionada ao sentido subjetivo atribuído ao texto lido e, concomitantemente, ao sentido que o texto emprestava à minha subjetividade sentida.
Era, por assim dizer, uma catarse texto-emocional. Uma forma de expurgar as sensações catatónicas que me impingiam um estado letárgico; quase fatal.
E nessa fatalidade iminente, nessa sensação mórbida de privação da vida ou do que acreditamos ser sua representação, recordei de uma alegoria à vida, escrita por Tanussi Cardoso, que começa falando por morte.
Mais uma vez, a constatação de que é preciso encontrar o óbvio, o já sabido, no dizer do outro. Talvez pela nossa real e inegável necessidade do(s) outro(s) ou pela simples assunção de que não somos inéditos e de que nada temos de original em se tratando de amor e ódio, de alegrias e tristezas, de vida e morte... Ou ainda pela minha pura e simples incompetência em dizer o que sentia sem apelar para os dizeres da obviedade, já reconhecidos publicamente.
Mas, voltemos ao Tanussi. O texto começa descrevendo a sensação de morte que as perdas, ao longo da vida, nos provocam. "Quando meu primeiro amor morreu, eu disse: morri..." E ele continua relatando outras perdas: o pai, as irmãs, a avó do Norte, os amigos da sorte; e conclui, por fim, "estou vivo (...) acho que só vou morrer depois de mim".
E era exatamente assim que eu me sentia: morta por dentro! O texto era a tradução literária do meu sentir, ou melhor dizendo, do meu não-sentir (afinal, eu estava morta!). E ainda que a lembrança de outras perdas, outras ausências, outras presenças roubadas, ao longo dos meus 27 anos, me fizessem corroborar o epílogo daquela obviedade ridícula e cruel, não fazia a menor diferença.
Dominici havia `morrido´ e ponto final! E como podia eu manter-me impassível diante da morte de um grande amor? Como ignorar a saudade ad eternum das horas compartilhadas?
Os cafés, os jantares, os olhares, as confissões, as confissões nos olhares, os sorrisos, os silêncios, as músicas, as poesias...
Não, não poderia deixar de chorar aquela(s) morte(s)!
Talvez essa seja a pior mortificação: a de quem ainda vive (principalmente dentro da gente). Mas como disse Shakespeare, "não importa em quantos pedaços seu coração foi partido; o mundo não pára pra que você o conserte".
Concordo que só vou morrer depois de mim, mas, depois de ti, morri tanto que já começo a pensar nas exéquias desse imenso e vivo amor.


SLZ, 04.08.2002 às 20:45h
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