Assunto: A CAIXA PRETA DA PETROBRÁS
Meus caros,
Acidente grave passa a ser incidente?
A caixa-preta da Petrobrás
Leia um dos editoriais do Estadão de hoje:
Há uma caixa-preta na área de comunicação da Petrobrás. Por iniciativa da
empresa, só notícias boas merecem ser dadas a conhecimento público, com
preferência para os recordes de produção e novas descobertas na área do
pré-sal. Desde a última semana do ano passado, a Petrobrás informou que
bateu recordes na produção diária de petróleo e gás natural, na produção de
gasolina e de asfalto, registrou aumento de reservas e divulgou uma nova
descoberta de óleo na Bacia de Santos.
Quase sempre, esses dados são considerados fatos relevantes, comunicados aos
acionistas, publicados em jornais e registrados pela Bolsa. Mas quando as
notícias são ruins, a Petrobrás esconde o quanto pode.
Na última sexta-feira, a empresa estatal limitou-se a confirmar que a
Plataforma Cherne 2 (PCH-2) na Bacia de Santos está paralisada desde o dia
19 por causa de um incêndio, que não deixou vítimas. Vinte dias depois do
acidente, a assessoria da Petrobrás informou que “está preparando” um
comunicado a respeito, mas não divulgou a data em que isso ocorrerá. Com
tanta delonga, até parece que a nota oficial, além de ser aprovada pelo
presidente da empresa, deve passar pelo seu conselho de administração, pela
Agência Nacional do Petróleo (ANP) e, quem sabe, até pela presidente da
República, Dilma Rousseff.
A Petrobrás age como se o País ainda estivesse mergulhado nos anos de
chumbo. Felizmente, o Brasil tem uma imprensa atenta ao que se passa e que
ouve as queixas dos que moram ou trabalham nos locais atingidos.
No caso, foi o Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro) do Norte Fluminense
que, com presteza, informou a irrupção de um incêndio de “grandes
proporções” no módulo 5 da PCH-2, com duração de mais de uma hora. É natural
que a companhia institua uma comissão para investigar o que chama de
incidente, contando para isso com a colaboração da Marinha. Mas isso não
justifica, em absoluto, a ausência de uma nota oficial dando conta do
ocorrido.
A demora para informar constitui um desrespeito não só à população, que tem
o direito de ser informada, como aos investidores. Como empresa de capital
aberto, a Petrobrás tem compromisso assumido com normas de transparência na
condução de suas operações. Quanto a isso, a empresa apresentou a desculpa
capenga de que não informou o episódio aos investidores por não considerá-lo
relevante, uma vez que seu impacto na produção é pequeno (9.300 barris/dia
de petróleo, representando 0,5% do total). Ainda assim, segundo o
Sindipetro, o incêndio na plataforma poderia ter resultado em uma tragédia,
uma vez que o “sistema de dilúvio” (contra incêndio) não funcionou.
A tentativa de esconder o fato alimenta as suspeitas de que as plataformas
mais antigas da estatal não estão operando em condições de total segurança.
Não é a primeira vez que se verifica um acidente desse tipo em plataforma
marítima da Petrobrás. Já houve um princípio de incêndio na P-35 e, no ano
passado, a ANP interditou a P-33 por falta de segurança.
Se houve um injustificável atraso na divulgação do último acidente, há
pressa em que a plataforma danificada retome o funcionamento normal, o que,
como foi noticiado, deve ocorrer já neste início de fevereiro.
Presume-se que, até lá, esteja concluído o relatório sobre as causas do
acidente e, principalmente, que já tenham sido tomadas as medidas
necessárias para reforçar a segurança e prevenir incêndios, o que é
duvidoso. Não se sabe igualmente se a ANP, se foi notificada, fez ou fará
inspeção no local.
O que se pode concluir é que a Petrobrás não quer perder tempo em elevar a
sua produção, principalmente em uma fase em que o óleo está em alta no
mercado internacional. Este é um objetivo compreensível, mas não pode ser
perseguido custe o que custar. Como este jornal tem insistido, a Petrobrás
não deu sinal, até agora, de que tem um plano de emergência para a hipótese
de acidentes graves na produção offshore, incluindo a da camada do pré-sal,
sendo desnecessário lembrar as consequências catastróficas que eles podem
acarretar.
Por Reinaldo Azevedo
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