Isso que estou sentindo deve ser aquela febre de fevereiro, uma Februa ou Februatio, o fogo febril do ritual de expurgação dedicado a Februus, deus da morte e da purificação na mitologia etrusca e que dá nome ao segundo mês do ano. Por isso me sinto como se fosse à consciência da paisagem que meus olhos vislumbram, como se eu ouvisse aquele morro verde que fica atrás da minha casa gritando: Pasto! Pasto! Árvore! Gado! Gado! Ou então posso contar sobre o dialogo das nuvens que vejo voando nos céus: “Vamos nos beijar para fazer chover?”.
Essa febre de fevereiro me faz ver a realidade além das arestas dos relacionamentos ou dessa linearidade chata do tempo, dessa aparência suja do mundo, dessa podridão do caráter oculto pelas máscaras da hipocrisia. Eu vejo as linhas prateadas, mas invisíveis, que ligam as pessoas uma as outras, escravas da solidão, vejo o vazio dentro delas, vejo a tristeza dentro delas, vejo a penúria de suas almas, a miséria de seus espíritos. Deus como são feias essas pessoas!