UMA PEDRA NO CAMINHO
No meio do caminho tinha uma pedra. Não era a pedra do poeta, pedra literária, metafórica, significando alguma dificuldade que atravancou seu destino. Era uma pedra mesmo, elemento mineral, com arestas pontudas. Minha retina cansada não póde captá-la, mesmo porque o parabrisa do carro estava embaçado. Não deu outra: o veículo passou por cima e o pneu direito dianteiro foi pro caixão.
Aí, houve outra constatação. O macaco não estava em seu galho, quer dizer, em seu lugar. Isso nada tem a ver com o famoso ditado, um pouco preconceituoso, dando a entender que cada indivíduo deve conhecer seu lugar. Estou me referindo à ferramenta com manivela que serve para levantar o veículo. Certamente o filho havia utilizado e deixou sei lá onde. Me lembrei então do Pedro Maranguape, um forçudo que fazia demons-trações nas praças. Ele conseguiria, fácil, fácil, levantar o carro somente com um braço. E se duvidassem trocava o pneu com a mão livre. Mas eu, que nem frequento academia, tinha que permanecer no meu lugarzinho.
Que fazer? O jeito era deixar o carro na estrada e procurar ajuda. Quando fui lançar mão do triàngulo, verifiquei que este estava irregular. Não, amigo, não se tratava de um triàngulo com os lados desiguais ou mesmo de um triàngulo com a forma trapezóide. É que se encontrava com a base danificada, não sendo possível mantê-lo de pé. Triàngulo do carro é uma coisa que você só verifica quando precisa dele. O mesmo acontece com o estepe. Estepe, leitor culto, não é aquele espaço amplo, de vegetação rasteira, habitat comum dos cossacos na Rússia. É o pneu mais careca e estuporado que se guarda como sobressalente. Ignoro sua origem etimológica.
Ao final, como o sol estava muito quente, fiquei sentado à beira do caminho. Não evidentemente no sentido conotativo da expressão, à margem da vida, vendo a banda passar. Apenas esperando uma boa alma que me desse uma colher de chá. Quando falo em colher de chá...pombas, será que tenho de explicar tudo?
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