Sou apenas uma boca que tece
a carne que forma os passos secos,
bocas-pássaros na demanda do desejo
ao ritmo em que a terra se despe,
uma língua que se insinua nas pedras
em busca da mecânica exata da luz
que ultrapasse as fronteiras da pele,
é neutra a carne que se agita no poema,
suspensos numa trégua adocicada
só os dedos inúteis ainda emergem
nos pulmões largos de mastigar a terra
em consonância com o espaço e o desejo de sonhar.
in, A CARTOGRAFIA DA PURIFICAÇÃO,2003 (INÉDITO)
|