Como professor de História da Arte, eu me ocupo de forma séria com o gênero. Não possuo preferências quando se trata de apontar os maiores artistas. Qualquer manifestação artística me interessa com igual peso. Resolvi pegar a oceânica tarefa de enumerar os artistas que mais possuem obras primas em todas as artes. E o valor que dou a cada artista ou obra depende da pré-análise de estetas, críticos e especialistas em geral. Por isso, quero afirmar que as listas que aqui apresento não se baseiam em gosto pessoal ou algum fenômeno variável.
São listas axiomáticas e extremamente sérias.
Através de intensa pesquisa cheguei à conclusão de que apenas sete cineastas conseguiram realizar mais de 8 obras primas. Isso significa que alguns diretores – como, por exemplo, Woody Allen, Chabrol e Jean Renoir entre outros – apesar de sua importância, não conseguiram alcançar a meta mínima de 9 obras primas.
Não quero ser injusto aqui; apenas apontar os cineastas que escreveram mais obras primas para o cinema. Isso não diminui em nada os outros diretores.
Kieslowsky ou Almodóvar, por exemplo, possuem, os dois juntos, apenas meia dúzia de obras primas; mas quem irá diminuir a importância desses diretores para a História do Cinema apenas por causa desses dados?
Mas, afinal, quais são os 7 cineastas com mais obras primas?
Charles Chaplin ( Inglaterra ), Luis Buñuel ( Espanha ) e Orson Welles ( EUA ) empatam em quantidade de obras primas para o cinema. Os três criaram, cada um, 9 obras inquestionáveis.
Charles Chaplin, este mito, criou O Garoto, Em busca do ouro, O circo, Luzes da cidade, Tempos Modernos, O Grande Ditador, Monsieur Verdoux, Luzes da Ribalta e Um rei em Nova Iorque.
9 obras mestras indispensáveis para os chaplinianos.
Luis Buñuel, o surrealista, criou Un chien Andalou, L’age D’or, Escravos do rancor, Nazarin, Veridiana, O Anjo Exterminador, A bela da tarde, O discreto charme da burguesia, Esse Obscuro objeto do desejo.
Essas 9 obras igualam Buñuel, em quantidade de obras primas, à Charles Chaplin. Surpreso? Às vezes a mídia não mostra tudo...não mostra coisas que uma pesquisa pode elucidar.
Orson Welles, este artista tão revolucionário quanto James Joyce na Literatura, criou Cidadão Kane (considerado por muitos, o melhor filme de todos os tempos), Soberba, O Estranho, A Dama de Shangai, Othello, Macbeth-Reinado de sangue, Grilhões do Passado, A Marca da Maldade e O Processo.
São 9 pérolas do cinema que fazem de Welles um artista completo.
Agora quero apresentar-lhes os 4 cineastas que conseguiram a difícil façanha de superar esses 3 gênios.
O primeiro é John Ford ( EUA ). Este monstro do cinema americano conseguiu a marca incrível de 10 ( dez ) obras primas cinematográficas.
Ele criou O Delator, Maria Stuart, No Tempo das Diligências, As Vinhas da Ira, Como era Verde o meu Vale, Paixão dos Fortes, Depois do Vendaval, Rastros de Ódio, Marcha de Heróis e O Homem que matou o Facínora.
Já pensou um artista criar 10 obras primas, seja lá qual for a linguagem artística? Sentiu a dimensão da façanha? Pois é...gravem este nome e procurem em locadoras seus filmes. Se você já assistiu um desses filmes, saiba que são únicos.
Federico Fellini ( Itália ), o maior gênio do cinema feito na Europa, se desconsiderarmos a Suécia como país europeu. Fellini é - reconhecido por todos - um dos poucos maiores diretores de todos os tempos. E se formos considerar o meu critério de avaliar um artista – que trata de contar simplesmente a quantidade de obras primas que escreveu – Fellini ainda é um dos maiores.
Este gênio europeu escreveu nada mais nada menos do que 11 obras primas, superando Ford, Chaplin, Buñuel ou Welles. Superando muito mais ainda os outros diretores de alto quilate que ficam abaixo desses líderes em quantidade de obras mestras. Você tem noção do que tem perdido em termos de qualidade se nunca assistiu um filme-arte de Fellini?
Ele criou 11 obras primas essenciais: A Estrada da Vida, A Trapaça, Noites de Cabíria, A Doce Vida, Oito e meio, Julieta dos Espíritos, Satiricon, Amacord, Ensaio de Orquestra, Cidade das Mulheres e La Nave Va.
Quem supera este gênio italiano é um gênio de mesmo quilate, porém superando-o em quantidade de obras primas. E supera muito!!!
Ingmar Bergman ( Suécia ) criou 15 ( quinze!!! ) películas mestras. Só para termos uma noção da grandiosidade de Bergman, ele escreveu quase o dobro de obras mestras de Charles Chaplin. A vantagem do criador de Carlitos é a sua linguagem mais acessível – não menos genial – do que a de Bergman.
O humor em Bergman é ácido e obscuro, enquanto em Chaplin é mais lírico.
Chaplin é popular e genial – duas qualidades que Bergman não conseguiu reunir.
Bergman criou, para nosso deleite, Sede de Paixões, Monika e o desejo, Noites de circo, Sorrisos de uma Noite de amor, O Sétimo Selo, Morangos Silvestres, No Limiar da Vida, O Rosto, A Fonte da Donzela, O Silêncio, Persona, A Hora do Lobo, Gritos e Sussuros ( o filme que mais sintetiza os elementos de Bergman ), Sonata de Outono e Fanny & Alexander...ufa! E olha que Bergman ainda não morreu...que venham mais obras primas!!!
Somente Alfred Hitchcock ( Inglaterra ) conseguiu reunir a popularidade de Chaplin, a variedade temática de Fellini, a genialidade ácida e obscura de Bergman e, além disso tudo, superá-los em quantidade de obras primas.
Quem nunca se chocou com o ataque em massa dos Pássaros? Quem esperava a morte da heroína no meio da história de Psicose? Quem não ficou tonto com Vertigo? Ou não se sentiu íntimo dos vizinhos de Janela Indiscreta?
Nunca um cineasta promoveu tanto estardalhaço em meio a tentativas frustradas, sucesso e experiências inéditas como em Festim Diabólico.
É, sem dúvida, o diretor-cineasta mais completo, pelos motivos que indiquei.
Quais suas obras primas inquestionáveis?
Filmado na Inglaterra – O Homem que Sabia Demais 1934 (refilmado depois),
Os 39 Degraus e Frenesi (o penúltimo filme de sua vida fora filmado na sua pátria).
Filmado nos EUA – Correspondente Estrangeiro, Suspeita, Sabotador, A Sombra de uma Dúvida (para Hitchcock, seu melhor filme), Um barco & nove Destinos, Interlúdio, Festim Diabólico, Pacto Sinistro, A Tortura do Silêncio, Janela Indiscreta, O Homem que Sabia Demais ( refilmado nos EUA), O Homem Errado, Vertigo (Um corpo que cái), Intriga Internacional, Psicose e Os Pássaros.
19 ( dezenove ) clássicos inegáveis do cinema!!!
Pode-se ver que os EUA (Welles e Ford) e a Inglaterra (Chaplin e Hitchcock) são os únicos países que contribuem com dois cineastas, mas considerando que o ambiente de trabalho de Chaplin e Hitchcock foi muito mais os EUA que seu país de origem, isso faz dos país americano o verdadeiro palco de tamanha quantidade de obras primas cinematográficas.
Depois vem a Itália de Fellini, A França, palco de grandes mestres do mundo todo além de Buñuel (espanhol de nascimento) e a Suécia de Bergman.
Texto original : Denison
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