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Ensaios-->Augusto dos Anjos: na claridade da meia-noite -- 02/12/1999 - 17:12 (Andrey do Amaral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Augusto dos Anjos na claridade da meia-noite
Prêmio Fundação Biblioteca Nacional, categoria ensaio

“Poucos autores suscitam tanta curiosidade biográfica quanto Augusto dos Anjos. Ela é despertada, sobretudo por sua poesia noturna e estranha, mas decorre em parte da própria figura do poeta. Em Augusto, existência e obra se entrelaçam. Ele não teve uma grande vida, e a sua obra não é a de um aventureiro ou revolucionário. É a de um melancólico cheio de mágoa e remorso, cujo perfil literário se coaduna com o do indivíduo estudioso e reflexivo que foi. Muitos estudos já referiram, a propósito, o vínculo que existe entre meditação e melancolia – vínculo esse que a poesia de Augusto sobejamente confirma.

Neste Augusto dos Anjos na claridade da meia-noite, Andrey do Amaral alinha-se a estudiosos como Humberto Nóbrega, Ademar Vidal, Raimundo Magalhães Júnior (e mais recentemente o paraibano Fernando Melo), no propósito de desvendar particularidades biográficas, históricas e literárias ligadas ao autor do Eu. Conforme sugere na antítese feliz do título, seu propósito é iluminar aspectos obscuros do poeta e da sua obra, contrapondo a luz da pesquisa e da razão à noturnidade em que ambos têm estado imersos. Em boa parte do trabalho ele ratifica o que disseram aqueles autores. Noutro tanto, sobretudo por haver ido a fontes primárias, traz achados que sem dúvida concorrem para uma apreciação mais rigorosa e justa do paraibano.

A partir de duas dedicatórias em exemplares do Eu oferecidos a Alberto de Oliveira e Luiz D’Amaral, por exemplo, ele nega que Augusto não tenha tido contato com os parnasianos. E contesta, por extensão, pelo menos parte do episódio em que, ao saber da morte do poeta por Órris Soares e Heitor Lima, Olavo Bilac teria afirmado que não o conhecia. Esse pequeno relato, que mais parece uma anedota fúnebre, está registrado por Francisco de Assis Barbosa nas Notas Biográficas para a trigésima primeira edição do Eu, da Livraria São José. Conta o estudioso que, ouvindo então o soneto “Versos a um coveiro”, Bilac teria comentado que um autor tão ruim fizera bem em morrer... Em sua impiedosa mordacidade, agravada pela ocasião em que fora proferido, esse comentário veio em desabono senão do poeta, do homem Bilac. Qualquer registro que lhe sugira o caráter fictício é, pois, bem-vindo e digno de atenção.

Andrey do Amaral observa, a certa altura, que a sua “modesta contribuição foi encontrar (além dos volumes do Eu endereçados aos poetas acima referidos) algumas datas, cartas, críticas sobre o livro e outros achados relevantes”. Pelo material que enfeixa na Adenda, é perceptível que fez isso com critério. E orientado, além do mais, pelo zelo de um pesquisador e o faro de um repórter. Andrey tanto remonta à genealogia do poeta (resgatando por exemplo o telegrama que noticia a morte do tio Augusto, de que aquele herdou sombriamente o nome), quanto se detém na história das sucessivas edições do livro famoso.

O que lhe interessa é estabelecer a verdade, diga ela respeito a um fato relevante ou se limite a ocorrência de somenos importância. Com certeza não se inclui neste segundo caso o papel que ele atribui a Alexandre dos Anjos, irmão de Augusto, na preparação da segunda edição do Eu. Até então só se falava no amigo Órris Soares, autor de uma introdução que, apesar de polêmica, se tornou clássica. Alexandre, conforme o demonstra Andrey, não só idealizou a publicação como também se empenhou na pesquisa de novos poemas.

Embora enfatize dados biográficos e acontecimentos ligados à época em que Augusto viveu, o autor deste Augusto dos Anjos na claridade da meia-noite não deixa de apreciar-lhe a obra, tecendo comentários sobre o artesanato do poeta e retomando a velha polêmica acerca da sua filiação estético-literária. Ele também investiga a exitosa recepção do Eu, confirmada em sucessivas edições, bem como as iniciativas levadas a efeito com o objetivo de perpetuar a memória de Augusto – domínio esse em que, infelizmente, a minha Paraíba tem ficado atrás da mineira Leopoldina, onde hoje repousam seus restos mortais. Basta citar, quanto a isso, a existência do Espaço dos Anjos, mantido com dedicação e fervor pelo artista plástico Luiz Raphael Dominges Rosa e que funciona na casa onde o paraibano morreu.

Registros como esse enriquecem o presente trabalho, que se constitui num misto de biografia, resenha crítico-interpretativa e investigação histórica. Mais pela abrangência do que pela verticalidade, ele representa uma boa introdução à poesia de Augusto – satisfazendo, ao mesmo tempo, o insaciável interesse de quantos são atraídos pela obra e, sobretudo, pela personalidade do autor paraibano.”

Prof. Dr. Chico Viana, UFPB
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