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cronicas-->A TERRíVEL HORA DO ADEUS -- 10/08/2002 - 16:05 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Ana dirigia o carro azul silenciosamente. Chovia bastante, e as sombras da água pára-brisas formavam manchas disformes nas duas pessoas dentro do veículo. Henrique olhava para frente, mas de vez em quando virava o rosto pra ver a expressão nos olhos da namorada. Numa dessas ocasiões, viu uma lágrima escorrendo.
Ela não parecia nervosa. Sabia que tudo tinha um fim. Tudo mesmo, até o amor. Acreditava nisso, apesar das juras do Henrique. Mas por dentro, várias situações lhe vinham na memória. Como quando eles foram viajar para o Rio de Janeiro e o carro quebrou em plena Avenida Brasil. Foi uma loucura. Ou quando levaram seus sobrinhos, os gêmeos, para o Hopi Hari. Os dois ficaram enjoados na viajem de volta e vomitaram ao mesmo tempo no banco de trás. Eles tiveram que andar ainda uns vinte quilómetros até encontrarem um posto decente, onde pudessem limpar o carro. Foi horrível, mas depois eles riram muito.
É, foram momentos felizes... mas tudo tinha um fim. Ela tentou prolongar, gastou seu tempo, gastou até dinheiro. Mas sabia que não podia continuar assim. Sabia que iria mudar para algo melhor, e tal, contudo, uma grande tristeza lhe doía no coração. A vida é isso, pensava, temos que nos acostumar com as novidades, temos que estar sempre prontos para as mudanças. Henrique permanecia calado, sabia o que se passava na cabeça da namorada. Não estava nervoso, já havia passado por aquilo várias vezes. Já estava calejado.
Enfim chegaram. Ana desligou o motor, e sem tirar a mão esquerda do volante, ficou olhando fixamente para o painel. Henrique segurou sua mão direita, que estava apoiada sobre o càmbio, e disse "eu entendo, mas vamos lá, vai ser melhor assim". Ana olhou para o namorado e não póde conter as lágrimas. Abraçou Henrique e chorou convulsivamente. Era a hora de dizer adeus.
Depois de se acalmar, Ana desceu do carro seguida por Henrique e entraram na concessionária. Preferiram fazer a coisa rapidamente. Henrique deixou as chaves do carro velho com o vendedor e os dois entraram imediatamente no carro novo. Ana continuou chorando, e chorou mais ainda ao olhar pelo retrovisor seu velho carrinho azul, seu primeiro, sendo deixado sozinho no pátio da concessionária, debaixo de uma triste chuva de agosto.


Renato Cação Cambraia assume que tem problemas em jogar coisas velhas fora mas, definitivamente, adora cheiro de carro novo.
Jornal A SEMANA/BECO12 - 10/08/02
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