Segundo a vã filosofia: “o homem é um produto do meio”; acrescento: é ou poderá ser. E esse é o medo que começa a perturbar-me desde quando abro o jornal do dia e constato novas incoerências (ou incompetência) dos governantes em exercício.
Já estou achando natural ou dando pouca atenção ao caos sócio econômico em que vivemos, com o desemprego, o fechamento de hospitais, a miséria, a insegurança, a deterioração e perda de elevados estoques de gêneros, enquanto se apela à sociedade para que doe alimento aos famintos.
Começo a sentir-me infenso às denúncias de apropriação indébita, contratos superfaturados, comportamentos imorais em camarotes de bicheiros, exibições etílicas de ministros, indiferença e despreocupação com os destinos do país – mormente com o povo, com o baixo nível dos políticos atuantes, enfim, já não sei mais distinguir probidade de improbidade. Vez por outra meu senso de dignidade reage e se questiona: quem está certo, você ou eles?
Isso gostaria de submeter aos leitores de um jornal, através daquelas colunas especializadas, para aguardar respostas que permitissem me situar ou fazer auto-análise.
Vejam: banqueiro do jogo do bicho é contraventor; presidente da república não? Ambos são conhecidos, possuem endereço fixo e bancam ou exploram o jogo. Jogo de azar não é ilegal?
O do bicho mantém milhares de empregados, aos quais dá assistência social, jurídica e médico hospitalar, exigindo retidão e honestidade. Não se vê um deles envolvido com drogas ou com a marginalidade. O bicheiro não majora o valor das apostas nem cria novas modalidades, sendo um exemplo de pontualidade e correção.
O outro “banqueiro” não contrata ninguém, utiliza o pessoal de uma autarquia, aumenta o número de apostas e de modalidades, não dá satisfação do que arrecada nem porque fecha hospitais por falta de recursos. Lança títulos pagando 65% de juros ao mês quando a Constituição os fixa em doze.. E não é agiota nem contraventor. ransfere para a sociedade a solução dos problemas que cria, convocando inocentes úteis, tipo Betinhos, para que assumam as conseqüências e lava suas mãos como Pilatos.
E por incrível que pareça já estou considerando tudo isso normal! Chego a pensar que de fato o banqueiro do bicho é mesmo nocivo à sociedade e à estabilidade social, fazendo concorrência e que o “outro” é que está certo, por locupletar-se com a contravenção, desmontar a assistência médica , fechar hospitais, aumentar a miséria e superlotar as cadeias, para incrementar as apostas, não dando satisfação do quanto arrecada nem do que faz com a receita.
Vou pedir a um redator que publique meu apelo. Preciso ter certeza de que já não sou um psicopata. Quero submeter-me ao julgamento dos leitores antes de obedecer aos impulsos do sub-consciente e internar-me numa clínica particular, por não mais existir instituição oficial que me acolha.(out/94)