Ensinar a Língua? Por quê?
José Cláudio Luiz Nobre
Sou professor de Língua Portuguesa desde 1990 e venho, infatigavelmente, durante esse tempo, buscando alternativas para que se possa levar os nossos alunos, através da leitura, à compreensão da realidade que nos cerca, e conseqüentemente possibilitá-los de se comunicarem através da escrita de bons textos, claros, concisos e coesos. Além disso, o desejo e a necessidade de realização como estudioso da Língua e professor a falantes da mesma são cada vez maiores.
Atualmente, lecionando Língua Portuguesa e Redação para o segundo grau, sinto a necessidade de fortalecimento enquanto profissional, instrutor e facilitador de leitura e compreensão de textos, como também do mundo de tantos jovens, que nem sempre desenvolveram a capacidade de analisar criticamente o meio em que vivem.
Tem-se notado, mais recentemente, que o texto escrito se distancia cada vez mais dos nossos estudantes, da nossa gente, com o aparecimento do rádio, do cinema, da televisão e do advento do computador. A memória coletiva dos povos passou a ter outros meios de materialização. Não se pensa numa gravação como escrita, mas de fato uma representação magnética (ou digitada) dos sons, sendo de certo modo a maior sofisticação dos sistemas alfabéticos, operados, agora, não pela análise lingüística, mas eletrônica da fala. E o que se percebe é que os instrumentos de escrita também têm-se transformado muito, ao longo dos tempos, indo desde o pincel, o cinzel, o estilete, o lápis, a caneta, até as teclas das máquinas de escrever e dos computadores, que fazem, refazem, cortam, eliminam, copilam, corrigem, tudo automaticamente.
Diante das mais recentes conquistas tecnológicas e dos novos hábitos da vida moderna, talvez o letramento, na forma tradicional, seja um anacronismo: é curioso notar, atualmente, uma preocupação, certamente a mais séria da História, com relação à alfabetização do tipo tradicional, num momento em que breve será considerado analfabeto quem não conseguir operar as máquinas e computadores. Não ser alfabetizado nas belas letras hoje representa uma ameaça bem menor a quem pretende deter as formas de poder da sociedade do que não aprender a operar os computadores, que são agora as verdadeiras bibliotecas, o lugar da memória coletiva da nossa sociedade, em que não só se guardam os valores em uso de um povo, mas que se traçam também os destinos das pessoas e da própria humanidade, como antigamente faziam as bibliotecas, os livros, os pergaminhos e as próprias representações pictóricas das cavernas.
Pretendo então pensar que a língua materna é o instrumento através do qual o aluno tem acesso a todas as outras formas de comunicação supracitadas. Mais do que simples instrumento de comunicação, a língua, como forma de linguagem, na Era da Informática, em um mundo globalizado, é fator de integração, de dominação e, conseqüentemente, instrumento de trabalho e progresso. Se a cultura é um sistema de discursos e a língua um dos instrumentos desses discursos, torna-se imprescindível seu domínio para o efetivo conhecimento dos mecanismos que regem a sociedade e de suas contradições ideológicas.
Assim, o objetivo do ensino da Língua (minhas expectativas) é instrumentalizar o aluno para atuar, como sujeito crítico e criativo, no processo escolar e social. Daí a necessidade que tive e tenho de sempre rever o meu papel de professor que garanta aos alunos o direito de apropriação dos bens culturais, do saber elaborado, úteis à melhoria de vida e indispensáveis à participação efetiva na sociedade. Isso exige o domínio da leitura e da escrita, o que confirma a estreita interdependência entre ler e produzir textos; razão pela qual fiz pós graduação na área.
Saliento que, através da leitura e da escrita, portanto, adultos letrados (os professores), deveriam servir como mediadores entre o jovem e esse objeto sobre o qual ele deverá atuar, no sentido de construir hipóteses que o permitam compreendê-lo e, manipulando a própria escrita, finalmente, apropriar-se dela e usá-la de forma significativa.
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