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Ensaios-->UM BICHO CHAMADO POESIA -- 05/04/2000 - 10:38 (Luis César de Sousa Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM BICHO CHAMADO POESIA

Afirmam os estudiosos que Homero (um Iniciado), com a sua Odisséia, foi o primeiro poeta do Ocidente. Seus versos funcionavam como uma cartilha educadora da nobreza da Grécia Antiga. No Oriente, outro épico, o Mahâbhârata (Grande Índia), provavelmente o mais extenso poema do mundo – com 220.000 versos -, de autoria de Vyâsa (um Avatara), tem a prerrogativa de ser o mais antigo, cerca de 5.000 anos atrás.

No Brasil, Gregório de Matos Guerra (o Boca do Inferno) é considerado o nosso bardo inaugurador. Formado em direito em Portugal, foi obrigado a retornar por conta de suas sátiras. Daqui – pelo mesmo motivo – é degredado para Angola, e só retorna anos depois, sob duas condições: não pisar em terras baianas e não apresentar seus versos satíricos: “Eu sou aquele, que os passados anos/Cantei na minha lira maldizente/Torpezas do Brasil, vícios e enganos.” Onde estará sua reencarnação?

Desses remotos tempos pra cá, a poesia impressa continua a ser um terreno meio inóspito, um território destinado aos cultos, aos artistas, professores de literatura, etc. Por que será, já que reflete profundamente a alma, a cultura de um povo? Várias são as razões, dentre elas a de que a nossa educação não valoriza tanto esta jóia rara.

Ora, a impressão que temos é que nossos estudantes necessitam conhecer da literatura, da poesia, apenas o suficiente para passar no vestibular, quando em verdade ela traz belas lições de vida, de sonho, de beleza. Não é o artista “antena da raça”? Aquele que está um passo além, indicando rumos, o futuro?

Pois bem, não são valorizados devidamente. Uma dívida, uma dúvida cruel, fruto de nossas imperfeições cartesianas. Em geral estuda-se linearmente, não se prepara a criança, o jovem, para compreender o sentido da existência, o porque de estarmos no mundo. Mas são tratados utilitariamente. O aspecto racional é sobrevalorizado. O emocional é deixado de lado. Como se “vencer” na vida dependesse de erudição. Um ser humano integral requer algo mais que dinheiro.

Voltando à poíesis (formação, creação), ela está presente em todas as manifestações artísticas: cinema, teatro, dança, fotografia, artes plásticas, VERSOS. É a questão do olhar, do ver, vivenciar. Da sensibilidade. Ela é uma espécie de ruptura da visão comum, um ângulo obscuro, difícil, profundo, abstrato, às vezes paradoxal. Foge à lógica rotineira. É essência.

Se as palavras definem o universo, os seres e as coisas existentes, a poesia é o imo, o âmago, íntima das palavrinhas. Daí porque os poetas brincam com elas, pois o lúdico é também educativo, pedagógico. Se atentarmos para a antigüidade, veremos que ela tinha essa função, com relação à nobreza, já que a escrita e a leitura era privilégio de poucos.

Nos dias que correm, todos têm a possibilidade de aproximação desta “selvagem” linguagem. Sim, da Natureza, da espontaneidade, da saudável subversão e sedução: o poeta não teme a felicidade, mas a busca incessantemente, e muitas das vezes sofre com isso, ao ver o mundo ao redor, embrutecido, materialista, de seres com dupla face.

Muitos morreram jovens, por viverem intensamente, e talvez não suportarem o peso do mundo: Rimbaud, Van Gogh, Castro Alves, Torquato Neto (“O poeta não se faz com versos”), Cazuza, Renato Russo e muitos outros. O poeta é um inconformista. Todos deveriam sê-lo.

A música populariza a poesia, hoje em dia. E grandes letristas estão ao nosso alcance, na voz de cantores conhecidos: Fausto Nilo (Fágner), Aldir Blanc (João Bosco), Vítor Martins (Ivan Lins), Fernando Brant (Milton Nascimento), Ronaldo Bastos, Murilo Antunes, Márcio Borges (Beto Guedes, Flávio Venturini, Lô Borges) e por aí vai.

Sem contar os próprios compositores-cantores: Geraldo Azevedo, Gil, Caetano, Chico Buarque, Chico César, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Zé Ramalho, Sá e Guarabyra, Djavan, Paulinho Pedra Azul, Elomar, Edu Lobo, Tom Zé, Raul Seixas, Renato Teixeira, Luiz Melodia, Paulinho da Viola, Adriana Calcanhoto, Vital Farias, Orlando Morais; e bota gente nisso.

A música instrumental, então, é a poesia em puro estado. A música clássica é recomendada, inclusive, como terapia, das mais variadas formas: para as fobias, relaxamento, encorajamento. Para as crianças – e adultos - a audição de música clássica promove-lhes elevadas energias mentais. Além disso, existem os mantrans, medidas canônicas do som, encantamentos.

O poeta maranhense Ferreira Gullar, num estilo modernista, diz: “Onde está a poesia?/Indaga-se por toda parte./E a poesia vai à esquina comprar jornal.” Como vêem, o bicho poesia não morde tanto assim. É só ir chegando-se, devagarinho, e a gente acaba gostando. Muito.


Luis César de Sousa (ex-Cesário de Sousa)
(Jornal A União, João Pessoa-PB, 24-11-99)


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