N I E M E Y E R – U m m i t o
O assunto dos jornais nestes dias tem sido a exposição Niemeyer, a acontecer em Brasília, tão logo a verba necessária, (além dos R$ 300 mil do governo) tenha sido alcançada. Não custa pouco um evento dessa natureza e importância, assim como não é fácil justificar um investimento não prioritário ante as necessidades da assistência médico hospitalar - praticamente implodida e desativada.
Por pejo, não ousaria desconsiderar a importância cultural de um evento pelo qual deve estar ansiosa a intelectualidade candanga, ávida por promoções de tal quilate. Vale registrar também que, após dezesseis anos de jejum, neste primeiro de abril e com lotação já esgotada, os amantes da arte estarão, extasiados, degustando “ Carmen”, de Bizet. Falo em jejum e degustação no sentido cultural, já que, segundo dizem, arte é alimento. tanto para a mente como para o espírito.
Mas ao lembrar Niemeyer e sua criação, não consigo entender ou separar a obra material das razões filosóficas que, segundo consta, nortearam a concepção de.Brasília. O projeto habitacional, buscando eliminar o elitismo - “por todos serem iguais, sem distinção” ou o não comunismo, com o isolacionismo patente em seus projetos. residenciais.
Segundo os princípios socialistas – ou comunistas, se quiserem, altas autoridades residiriam em prédios também destinados aos seus mais modestos subordinados. Ministros/contínuos, Generais/motoristas, Reitores/bedéis. “Mauismo” ou ingenuidade ? Confesso-me confuso, admitindo que Brasília seja, de fato, divinamente predestinada, ensejando a prática de todos os tipos de experiências - das pranchetas aos tubos de ensaio.
Concepções como setorização, padronização, uniformidade devem fazer Brasília única no mundo com edifícios de quatro prumadas distintas, com a média de 48 apartamentos e, pasmem, oito elevadores em cada prédio, ou, se existir dúvida uma dessas máquinas para cada seis apartamentos.! A encomenda deve ter provocado enfarte emocional nos empresários do setor.
Outra concepção estranha e discutível - que contraria a filosofia socialista proletária, foi a separação das unidades residenciais por prumadas distintas em um mesmo prédio, restringindo a convivência a grupos isolados. Temos experiência própria: vivemos há vinte e dois anos num mesmo prédio e não conhecemos ou nunca falamos com cerca de 50% dos condôminos. Filosofia própria do arquiteto ou comunismo protestante ? Conviver sem distinção de classes: reitor e bedel, diretor e contínuo, coronel e cabo, ministro e motorista?. Como pensou Niemeyer ? Teria influenciado Lúcio Costa, com seu traçado urbano transformador de pernas em rodas?
Esse censo crítico pode ser mordaz, mas em nossa concepção seria diferente, sem ilusões, sem utopia. Ser ou não ser não seria a questão. Comunista intelectual – como os poetas, não se liga a quantidades ou custos (um elevador para cada seis moradores), comunidades ou promiscuidades (4 prumadas num único prédio), elites ou ralés (reitor e bedel)
Rio de Janeiro, hoje talvez com uns vinte milhões de habitantes marcou trinta mil presenças à mostra Niemeyer. (0,2,5%), Brasília, com seu 1,5 milhões deverá registrar de quinhentos a mil visitantes (0,05%), com um custo “per capita” de R$ 773,00 graças às autoridades, ao intelectuais e às representações diplomáticas aqui instaladas. Vale torcer para que a influência dos promotores desse evento alcance o nível financeiro necessário. NIEMEYER (mais que os hospitais) MERECE !!! (abr/oo)
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