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Ensaios-->Uilcon Pereira, um Escritor do Século XXI -- 11/04/2000 - 23:52 (Nilto Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UILCON PEREIRA, UM ESCRITOR DO SÉCULO XXI


Salvo engano, meu primeiro contato com Uilcon Pereira se deu em 1987, quando ele residia em Araraquara. Enviei-lhe exemplar de um de meus livros e imediatamente ele me mandou uma carta. Dias depois me ofertou exemplar de 're-lances do Livro de Biúte': 'preciso da sua opinião sobre os meus conticos.' Trata-se de um pequeno livro, 32 páginas, fragmentos de um livro maior: 'este é um trabalho em curso, ainda no canteiro de obras. Publico re-lances para sondar um pouco as reações dos leitores', avisa na página inicial.
Antes do 're-lances', Uilcon havia publicado 'No Coração dos Boatos', trilogia dividida em 'Outra Inquisição' (1982), 'Nonadas' (1983) e 'A Implosão do Confessionário' (1984). Infelizmente, não tive oportunidade de conhecer essa obra.
Ao longo de dez anos, Uilcon e eu mantivemos correspondência regular. Falávamos de nossos projetos e nossas realizações literárias. Não consegui ainda organizar as cartas dele, porém tenho quase certeza de que me escrevia cerca de cinco ou seis por ano. Não faço cópia das cartas que escrevo, mas devo ter enviado a ele o mesmo número de missivas.
Uilcon não falava apenas de si mesmo. Comentava, com freqüência, os escritos dos outros, como os colaboradores da revista 'Literatura'. E vivia prometendo colaboração. Ora 'pequeno texto sobre poesia visual', ora '8 contozinhos sob o título geral 'sobre arte moderna e contemporânea'', ora 'ensaio de Elisa Guimarães' (este saiu na edição n.º 8 de 'Literatura' e intitula-se 'À Margem da Obra de Uilcon Pereira').
Desde o primeiro momento, impressionou-me muito a originalidade da obra ficcional de Uilcon. Ao mesmo tempo, senti-me incapaz de esposar qualquer opinião ao público. Temia dizer tolices, fazer comparações infundadas, dar rótulos desnecessários à sua obra. Nas cartas, ao contrário, eu me sentia à vontade e fazia comentários aos livros dele.
Quando li 'Ruidurbano: entre/vistas' e 'Ruidurbano: uma antologia'
meu pasmo foi maior. Ora, então a obra intitulada 'Ruidurbano' já havia sido escrita. Nas 'entrevistas', Uilcon fala a diversos 'entrevistadores'. No entanto, tudo é mentira, invencionice, ficção. Uilcon nunca escreveu um livro intitulado 'Ruidurbano'. Melhor dizendo, as 'entrevistas' e a 'antologia' são fictícias. Logo, o 'entrevistado' e o autor 'antologiado' são um Uilcon Pereira personagem de Uilcon Pereira. Bem escreveu Camilo Mota ('Fragmentos e refinamentos do Ruidurbano de Uilcon Pereira'): 'Qualquer um que se atreva escrever sobre Uilcon Pereira corre um sério risco de se tornar um de seus insuspeitos personagens. Isto porque em sua obra ocorre uma sobreposição de realidade, não se sabendo bem onde começa a ficção, onde existe a fantasia, ou mesmo se existe um Uilcon - que se transforma a cada página através de seus personagens pré-e-pós-cibernéticos. A realidade, por sua vez, passa por um filtro que mais parece um calidoscópio verbal - e o que antes habitava ao nosso lado, repentinamente é arremessado para dentro de um romance, ou de um suposto romance, como é o caso de Ruidurbano. Na verdade, o livro de 'entrevistas' e a 'antologia' são dois romances. Ou duas versões de um romance. Duas formas diferentes de um romance. Um meta-romance, no dizer de Elisa Guimarães. Pois não se trata de romance na sua forma tradicional (mesmo os romances mais originais, como 'Ulisses' de James Joyce, os de Oswald de Andrade, William Faulkner e do Nouveau Roman). Talvez um novo gênero literário, forma híbrida de narrativa ficcional, jornalismo, almanaque, crítica literária, crônica de costumes, humor, deboche... Enfim, romance de romance, meta-romance.
A leitura dos livros de Uilcon me abalou tanto que passei a me ver como um velho escritor, um narrador ultrapassado. Senti-me no século XX, um pequeno contista-romancista do final do século XX. Quase tive vergonha de mim mesmo. E prometi mudar. Não sei se consegui mudar, buscar novas formas de escrever, de inventar. Pus-me a imaginar, a fazer rabiscos, anotações e cheguei a escrever um livro, uma série de pequenas narrativas cujos personagens principais são reis, generais, heróis, santos. Um desses contos é 'O Gato Preto de Darwin', que Uilcon chamou de 'obrinha-priminha'. E comentou: 'foi integrada, já, ao meu pacote de minis perfeições que vou utilizando nos meus cursos sobre as possibilidades do minimal em ficção (virará livro de ensaio, no futuro)'. Uma das preocupações constantes dele era exatamente isso: a síntese ('única saída para os ventos do verbo, hoje e amanhã' - afirmava). Falei da influência dele em minhas obras mais novas. Ele, que era professor de Literatura e mestre na arte de ler e escrever, não parece ter levado a sério a informação que lhe dei. Talvez não acreditasse na possibilidade de me tornar seu discípulo, seu imitador. Também não acredito nisso. Porque continuo um escritor do século que finda. Ele, Uilcon Pereira, é um escritor do século XXI, do futuro, o criador de uma nova literatura.
Brasília, 10 de novembro de 1997.

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