“Desde que o samba é samba é assim...”
CAETANO VELOSO
Samba: música que acompanha a dança. Música ritmada, compassada. Samba é música, é dança, é alegria. Samba é amor à música. Desta maneira se define a mais recente obra de Jovino Machado, SAMBA (Orobó Edições). Lançado no dia 29 de setembro de 1999, o livro de poesias tem como referência constante o amor. O que não poderia faltar a este poeta que ama as mulheres, a vida e a poesia. Quem conhece Jovino Machado sabe que ele é um resistente. Um incansável. Um poeta, como tantos outros, defensor da poesia, “esse prato indigesto que agrada a poucos” (ANELITO DE OLIVEIRA).
SAMBA é a coletânea das mais importantes poesias contidas nas obras anteriores, contando também com alguns poemas inéditos. O melhor que há entre o que fora publicado até então, é como se poderia defini-lo. Para os amantes da poesia, a edição trata-se de um convite: “...bebadosamba, bebadosamba, bebadachama também...” (PAULINHO DA VIOLA).
Este é seu sétimo livro. Coincidência ou não, sete é o número da transformação e da integração. Como as sete notas musicais, os sete dias da semana ou as setes cores do arco-íris.
Em “Poema dos trinta anos” (p.27) há uma explícita referência ao ‘sete’. Como a perda de uma qualidade, em conseqüência o ganho de outra melhor. Renovada. A plenitude alcançada.
“aos sete perdi a infância
(...)
aos dezessete perdi a virgindade
(...)
aos vinte e sete perdi a ingenuidade”
(...)
Jovino é um Baco abrasileirado, amante do vinho e do cinema. Na poesia “Juízo Final” (P.73), o fim do mundo é (re)visto com humor. É o final dos tempos sob o olhar de um sambista. Enquanto “a saudade será devastada”, os “suicidas tocarão pandeiro” e celebrarão a vida. Como numa visão apocalíptica, mas com muita ironia as “nuvens destilarão vinho” e “sairá cerveja das neblinas”. É a festa de Baco.
A poesia “Antena” (P.53) revela o que o poeta é e sempre será, pela característica do verbo no presente: “eu sou sambista”. Aquele que articula as palavras. Brinca com elas.
O poeta é movido pela paixão de um grande amor e pela poesia. “Todo samba, no fundo, é um canto de amor” (NOCA DA PORTELA). Seus versos têm a harmonia dos componentes, da bateria, da ala das baianas. Em “Samba” (p.65) as palavras dançam no papel. E pela passarela desfilam: Diadorim, João Gilberto, Macunaíma, Policarpo e Dolores. O autor é um sambista que nasceu de improviso, porque Deus estava em crise e ele era o último da fila.
NO RITMO DO CORAÇÃO
“Ah, coração leviano
não sabe o que fez do meu”
PAULINHO DA VIOLA
“O coração significa o amor como centro de iluminação e felicidade”(CIRLOT). No coração reside a alma do poeta. Ele nos diz em poucas palavras o momento afetivo pelo que passa. “Coração 1, 2 e 3” (P.17/18/19 respectivamente) de DESELEGÂNCIA DISCRETA revela um coração como porta fechada (mas sem o cadeado) semi-aberto para o amor. Um coração carente.
“Fechado para balanço
agradecemos a preferência”
“Aberto por motivo de luto
venha velar comigo”
“Permitida a entrada
de pessoas estranhas”
“Coração de galinha, coração de pato e coração de bobo” (p.34/35/36 respectivamente) de TRINT’ANOS PROUST ‘ANOS, o sambista apaixonado está com o coração aberto.
“para sua própria insegurança
aguarde sua vez
depois da faixa amarela”
“não há vagas
insista”
“fila única”
“Coração 1, 2 e 3” (P.67/68/69 respectivamente) de SAMBA, o coração permite (exige) a infração das leis. Tudo é válido para que o amor se instale de novo em seu devido lugar. Aqui é proibido proibir.
”Feche o cruzamento”
“Permitido afixar cartazes”
“Não reduza a velocidade”
O poeta é um fazedor de versos sem a preocupação de mostrar ao mundo que é um mestre naquilo que faz, porque “01 poeta/ que se preza/ não precisa ser perfeito/ tem que ousar” (AROLDO PEREIRA). A simplicidade perfila nas entrelinhas na medida certa. “Sou um cisco no olho de Deus/a minha poesia é o colírio”.
Bibliografia:
CIRLOT, Juan-Eduardo. Dicionário de Símbolos. Ed. Moraes, São Paulo, 1984.
As páginas citadas referem-se ao livro SAMBA.