Você está indo de São Paulo para o Rio de Janeiro, ou então de Sampa para Campos do Jordão.
Cerca de 30 quilômetros depois de São José dos Campos, à beira da Rodovia Presidente Dutra, você vê uma placa: QUIRIRIM.
Um nomezinho aparentementemente sem importância. Olhando para a margem esquerda da estrada, você realmente, nada vê digno de nota.
Todavia, vale a pena entrar num pequeno trevo, passar por debaixo da rodovia e ir conhecer essa perolazinha desconhecida de quase todos os brasileiros, principalmente se você é fã da novela 'Terra Nostra', porque Quiririm foi o primeiro núcleo de imigração italiana no Vale do Paraíba paulista.
O distrito de Quiririm, que pertence à vetusta Taubaté, é uma cidadezinha digna de seu nome, que em língua tupi-guarani quer dizer: 'Local de Muito Sossego', não obstante, nos anos mais recentes, a localidade tenha recebido muitos novos moradores devido ao surto de desenvolvimento industrial e à instalação da fábrica da Volkswagen, nas proximidades.
Mesmo assim, ela não supera hoje, maio de 2.000, mais que 20.000 habitantes.
A cidadezinha continua guardando suas principais tradições de comunidade rural, ligada ao cultivo do arroz na várzea do Rio Paraíba, do feijão, da batata, esta introduzida pelos imigrantes italianos, no início do século.
E são justamente as tradições peninsulares que oferecem o lado pitoresco do distrito e que deve ser conhecido pelo visitante atento.
A começar pela Igreja Matriz, dedicada à Imaculada Conceição, construída por italianos, cuja arquitetura é idêntica a das pequenas igrejas dos 'paesi' do norte da Itália.
Ao lado da Matriz, um monumento erguido em homenagem aos imigrantes italianos, a maioria paduanos, piemonteses e genoveses e, mais adiante, o mirante, um lugar de vista ímpar, de onde se contempla todo o banhado e o vale do Paraíba e os macissos centrais da imponente Serra da Mantiqueira.
Se você encontrar na praça da cidade um natural do local, dos antigos, ele vai lhe explicar um pouco mais da cidade:
'Quiririm era uma aldeiazinha de caboclos um tanto indolentes, mistura de portugueses e índios, até o final do século passado, quando os italianos chegaram e deram impulso e valor econômico à produção local. Eles sempre trabalharam muito e fizeram progredir a lavoura e o comércio.'
E ficará sabendo que, embora a padroeira da cidade seja Nossa Senhora, a festa de Santo Antônio de Pádua, no dia 11 de junho e a festa comemorativa da imigração italiana, no dia 30 de abril, são as mais importantes da localidade.
A de 30 de abril é imperdível.
Naquela data, todos os anos, a cidade inteira se veste de vermelho, verde e branco em uma festança e comilança que duram dia e noite, com shows de tarantela, comida farta e muita massa, além de desfile de carros alegóricos. Muita gente vem de todo o Vale do Paraíba e mesmo de São Paulo para participar da festança e engordar alguns quilos que é impossível resistir à tanta comida deliciosa, às receitas das nonas.
Uma outra visita obrigatória para quem vai a Quiririm, são os dois casarões que marcam a chegada dos italianos à localidade: o armazém dos Castilhos, próximo à estrada de ferro, e o casarão dos Indiani, este último também construído com material importado no fim do Século XIX.
Lamentavelmente, ambos estão abandonados, com suas pinturas internas semi-destruídas, num lamentável e revoltante descaso de parte das autoridades incompetentes e de parte da comunidade. Uma vergonha!
Nos feriados e domingos, uma boa pedida é, depois de visitar a localidade, é almoçar ou jantar nos restaurantes, na beira da rodovia que leva a Campos do Jordão, e que servem comida típica do Vale do Paraíba, aí sem qualquer remissão aos italianos, mas sim à caboclada da beira do rio, ou seja, leitoa à pururuca, frango frito ou ensopado, ou ainda a maravilha que é o frango caipira ao molho pardo, se você conseguir encontrar como prato do dia.
No carnaval, uma manifestação folclórica ímpar: o bloco dos Piraquaras, com suas 'Marias Angus', bonecões de pano, mascarados, feitos de retalhos, típicos do lugar.Os mais exigentes podem ir até o Clube da Polícia Militar, próximo à Dutra, famoso por seus bailes de carnaval animadíssimos.
Mas, como a maioria dos que passam e param em Quiririm querem mesmo é sossego, o melhor mesmo é ir passear no Clube de Campo Triângulo, com direito a mata atlântica e banho de cachoeira ou no Clube de Campo Abaeté, esse já mais moderninho e cheio de 'gatas e gatos' de biquinis e calções de banho sumários.
À noite, nas proximidades da Ponte do Paraíba, ao lado do barzinho existente no local, onde se come mandioca frita e linguiça de porco feita no local, além da cachacinha pura, o desfrute de grilos cricrilando, sapos coaxando e ao farfalhar das palmeiras imperiais que coram o seminário enorme, existente na entrada da cidade, que também merece ser visitado e que tem até um restaurante que oferece almoço aos bem-aventurados turistas que conseguem parar ali apesar de nada disso poder ser visto da rodovia Presidente Dutra, por onde os carros passam desabalados, sem nem suspeitar do privilégio de sossego oferecido pelos pacatos e amistosos habitantes do Quiririm.
Caso acredite, visite e confira.
Mário Galvão é jornalista e profissional de RP
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