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Ensaios-->os acertos de um sistema de erros -- 16/05/2000 - 20:36 (jorge pieiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS ACERTOS DE UM SISTEMA DE ERROS

“Quem, na álgebra do engano
tomando por duplo
o uno em dano?”

Aqueles que buscam a verdade podem espelhar-se nos poetas, como exemplo prático de vida, desde que essa verdade seja induzida pelo artifício da vaidade. Essa premissa cabe perfeitamente dentro dos sentimententos da maioria dos poetas. Há aqueles que admitem o erro poético como ponto de partida da absolvição dos seus desejos. Isso já é vaidade, uma parte integrante do seu outro reflexo. Da mesma maneira, existem poetas que nunca erram, pelo menos assim são levados a pensar, e tornam-se perigosos quando contrariados. E, ainda, a vaidade verdadeira encontra poetas que muitas vezes possibilitam o erro, mas demonstram-no envolvido em camadas de sutil ironia.
“Sistema de erros”, de Fábio Weintraub, com ilustrações do gravador Fernando Vilela, é o volume 5 da coleção ah! de poesia brasileira, uma bem cuidada edição da Arte Pau-Brasil Livraria e Editora (São Paulo, 1996), e se insere naquela última possibilidade.
Fábio Weintraub (1967) é um poeta em formação. Publicou “Toda mudez será conquistada” (SP, Massao Ohno, 1992) e tem participado de algumas antologias. Sendo também psicanalista, certamente o título dessa obra recente esboça o contra-desejo da sua irônica vaidade. Ou a mais verdadeira “síntese de uma poética”, como adverte Viviana Bosi, na apresentação do livro: “Fosse sistema de acertos e já não seria poesia.”
A poesia de Weintraub oscila entre a corda lírica e própria e o estigma do que já foi definido no passado. Nada contra a releitura de Mário de Andrade (em “Dois poemas para Mário de Andrade”) ou a possibilidade de desvelamento desconstrutivo do arcadismo brasileiro (em “A flauta e a forca”). É preciso, no entanto, fazer sentir no poeta que há melhores possibilidades de vôo embutidas na sua lírica sintética.
Seguindo em conteúdo, vale bem mencionar, e como não poderia deixar de aqui inserir-se, considerando a função civil do poeta, com que frieza são tratados os seus personagens domésticos: Weintraub na dedicatória diz: “para a minha, em erro e perdão”, embora logo no primeiro poema, “vendetta”, anuncia que “há gelos que o tempo não funde // cerro os olhos depois / guardo um punhal sob a língua / para o beijo / em mamãe”. Também em “O avô”, encerra: “Chega um tempo / em que toda máscara serve”. Fazem parte também do baú psicanalítico os reprises sintéticos e satíricos dos contos da carochinha (“O patinho feio”, “Chapeuzinho vermelho” e “A bela adormecida”), os sonhos, e poemas a seres constituídos em mitos, tais como Jó, dois Narcisos - mirando-se? -, Dédalo, Ícaro, Tirésias e Prometeu.
Aliás, em todo o “Sistema de erros”, a poesia é precedida pela análise dos lapsos do autor ou pelos elementos que compõem seu aprendizado, como fonte viva dos artifícios do divã, o que só induz à realização do texto poético com maior rigor, tal aquele percebido por meio da sua “Lição”: “punge / o que me pune / o ouvido gasto / de aluno”.
Fábio Weintraub demonstra conhecer o ofício de poeta. Há que cumprir apenas mais uns “passos para a transfiguração”, no dizer de Manoel de Barros, pois já administra bem a sonoridade dos versos, a sua forma e a tão complicada concisão.
Seu “Sistema de erros” tem muitos acertos. Afinal, errar no alvo é acertar. Fábio Weintraub tem boa mira e sabe disso. Em seu poema-título adverte: “Quero mover-me / indestinado / colher o dia / antes do fado (...) Errar de cor / toda lição / nos labirintos / do coração”. Assim, ele não se engana.
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