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Ensaios-->o espantalho de pedro salgueiro -- 16/05/2000 - 20:37 (jorge pieiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ESPANTALHO DE PEDRO SALGUEIRO

“O muito que espero deste meu espantalho é que assuste
alguns passarinhos mais inocentes e faça rir a outros
menos ingênuos - mas que nunca passe despercebido:
não há castigo maior para um espantalho”
(P.R.S)

Em princípio, um texto narrativo tem a virtude de ser melhor absorvido pelo leitor ou, pensando em termos de falsa qualidade, absolvido - o que não acontece com tanta facilidade quando o pecado cometido vem sob forma poética. No entanto, ao aprofundar-se o leitor em meandros e enigmas de uma narrativa, certamente concluirá que essa arte desvela-se como ofício traiçoeiro, tanto faz se experimenta sintomas de romance, novela, crônica ou conto, pois cada uma dessas formas próprias descobre-se plena de peculiaridades e, naturalmente, de enormes dificuldades de elaboração.
É no conto, admitimos, que a possibilidade de acertar torna-se mais complicada, pela distância sutil que separa o escritor do instante por se flagrar e se realizar como tal. Realmente, não é fácil aplicar-se à escrita da idéia que contempla “um momento, um flash, uma fatia da vida”, como requer o conto moderno, conceituado por Moreira Campos, um dos nossos maiores contistas.
Sem dúvidas, a literatura cearense tem anotado em sua história lista de cultuadores do gênero, quer sejam especialistas ou aventureiros, dentre os quais Oliveira Paiva, Juarez Barroso, José Alcides Pinto, Carlos Emílio Corrêa Lima, Gerardo Mello Mourão, Nilto Maciel, entre outros.
Entre nós, os vivos de hoje, pouco se tem realizado individualmente no gênero, pelo menos em nível de publicação, excessão feita à aparição de algumas antologias, dentre essas o “Talento cearense em contos” (São Paulo,1996), editada pela Editora Maltese. Mesmo assim, há pouco a se extrair como exemplo de revitalização dessa tão difícil forma de narrativa. Ou caminha-se pela formalidade do conto tradicional ou se esbarra no vácuo da sempre igual e ineficiente expressividade.
Pedro Rodrigues Salgueiro (1964), dos novíssimos, é uma promessa que se torna expectativa na história futura do conto cearense. Depois de muito protelar, lançou em 1995 “O peso do morto” (Editora Giordano/Biblioteca O curumim sem nome). Estréia bem planejada em termos de lançamento e distribuição no corpo-a -corpo. Os textos seguidores de ordem mais tradicional no âmbito das narrativas curtas, com suas unidades - dramática, de espaço, e de tempo -, foram bem recebidos pelo público - tanto o crítico, de faro mais apurado, como o de leitores menos exigentes.
Depois do primeiro feito, Pedro Salgueiro novamente desnudou-se literariamente com seu “O espantalho”, uma boa edição realizada pela Universidade Federal do Ceará, para a Coleção Alagadiço Novo. Sem querer ser extemporâneo, vale ainda a tempo por olhos nesse livro.
“O espantalho” vem dividido em sete partes, perseguindo temas recorrentes ao seu primeiro trabalho. Revelam-se histórias de mortos-mortos e mortos-vivos, que ora se apenam ou se desolam, ora possibilitam humores e aflições. Em “O espantalho”, a tradicionalidade fica em segundo plano, dando vez a uma diversa possibilidade de narrativas. Há momentos em que os textos lembram a grande síntese perseguida por Dalton Trevisan, outros mais se aproximam das anedotas e uns poucos exibem influência ambígua entre as formas do conto e da crônica.
Nessa coletânea, vale destacar os preciosos instantes dos contos “Os inimigos”, “O espantalho”, a nosso ver o melhor do livro, e o extenso “Manual do funcionário público”. Além deles, há que se observar a inclusão de vários textos que admitem a possível classificação de contemas, adotada com relação àqueles escritos que, ao traduzirem uma duplicidade de sentido, têm uma forma breve, sutil, mais voltada para a percepção ao nível do imaginário que para o desenrolar narrativo dos fatos, além de se apresentarem com características de poema e prosa, sem exclusividade para qualquer das formas.
Entre esses são bons exemplos “A mãe de Gregor Samsa”, a concisão da melancolia, numa referência dupla à “Metamorfose” e à “Carta ao pai” de Kafka, o próprio “O espantalho” e seu desfecho surpreendente, o envolvimento pelo tema do fantástico em “Jeremias ou o vampiro da rua das Flores”, ou o insólito em “O barbeiro”, “A fotografia”, “A festa” e em “O jogo de damas”.
Pedro Salgueiro, enfim, expôs-se dessa vez como um caçador em busca da sua presa na própria sombra ou no alto de um dilema, valendo dizer, que isso significa a aproximação do estilo tão ambicionado por todos os escritores.
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