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Ensaios-->o exílio do bárbaro piva -- 16/05/2000 - 20:38 (jorge pieiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O EXÍLIO DO BÁRBARO PIVA

“no momento sou um deus devasso
no parapeito frágil do destino
a névoa que me carrega é horizontal”
(R.P.)

Leyla Perrone-Moisés, em prefácio à edição brasileira de “O rumor da língua”, de Roland Barthes (Brasiliense, 1988), afirma que “a empresa utópica da libertação da linguagem se desenvolve entre dois pólos perigosos: a bobagem e o ilegível”. Esses dois pólos represam o ideal literário, enquanto manifestação sensível do ser humano, no entanto, muitas vezes evidenciados com tal superioridade (?), que aborrece o leitor ou transmite-lhe um repudiante sofrimento.
A poesia brasileira atual que se estoca em cadernos literários de massa, alternativos ou oficiais ou, ainda, em publicações sob as expensas do próprio autor sofre de um compromisso estético e de responsabilidade com a literatura, que afugenta caprichos editoriais e estimula as ressalvas de impossibilidades de publicação.
Algumas jovens editoras, surpreendentemente, reacendem a tocha arcaica e oferecem ao público a poesia reprisada ou atuante, caso da Nankim Editorial e Arte PauBrasil, ambas de São Paulo. Essas tratam não apenas da expectativa literária, mas primam pela completude do projeto editoral.
Entrando no assunto, a Nankim, lançou no ano passado, o quarto volume da coleção “janelas do caos”, de poesia brasileira, com projeto gráfico de muito bom gosto de Claúdia Lammoglia, “Ciclones”, do poeta paulista Roberto Piva (1937), autor de “Paranóia” (1963), “Piazzas” (1964, 1980), “Abra os olhos & diga ah!” (1975), “Coxas” (1979), “20 poemas com brócoli” (1981), “Quizumba” (1983), além de uma “Antologia Poética” (1985).
Sem me ater nas obras passadas, ou seja, na estética de Piva construída a partir da permissividade “beat” dos anos 60 e da marginália dos 70, dentre os quais entre seus pares estéticos ele mantinha-se com respeitoso destaque, esse “Ciclones”, ao meu ver, acumula na mesma veia, a erudição desperdiçada do seu autor. Isso quer dizer que, o Roberto Piva, iconoclasta, farejador de inocências e interpretações xamânicas poderia muito bem atualizar a sua estética ao lado da sua crescente cosmovisão, e não deixar que, simplesmente, “as cordas de um velho contrabaixo esfaqueiem o silêncio” (p.97).
“Ciclones” vem dividido em 7 partes: Tempo de tambor; Na parte de sombra de sua alma em vermelho; Incorporando o jaguar; Poemas violetas da cura xamânica; VII cantos xamânicos; Inventem suas cores, abatam as fronteiras; e Menino curandeiro (poema coribântico). Sob esses títulos, encontram-se as insurgências de versos substantivos, concisos, algumas vezes operantes e outras não. Repetindo, a erudição desperdiçada de Piva afeta o relacionamento com o leitor, assim como a frouxidão característica daqueles tempos marginais, repletos de is comerciais (&) e desbundes familiares a uma sociologia da ruptura. É óbvio que com essa afirmação não queremos pender ao pólo da ilegibilidade, ou da censura, senão sugerir uma possibilidade.
Essa substância poética está presente em Piva, “ali onde o arco-íris da linguagem está / carregado de vinho subterrâneo” (p.67). Eis dois exemplos debulhados: “esqueleto da lua / o tempo / tambor tão ágil / vomitando a noite” (p.15); “Que você conheça este relógio sem nuvens / chamado morte / dependurado no planeta / como volúpia secreta (p.63). A voz transgressora do poeta denota-se em suas asas possuídas de xamanismo, o que talvez o torne um exilado na sua própria pátria, reacionário e monarquista, um bárbaro possuído de força arcaica, tal como identificou-se em depoimento a Heloísa Buarque de Holanda no oitavo número da revista “Poesia Sempre” (Rio, jun.1997), compilado nas orelhas do “Ciclones”.
Diante dessas atitudes, o que vale mesmo é mais uma vez registrar o trabalho valoroso que vem sendo realizado pela Nankim e demais editoras que se preocupam em regastar e registrar a poesia brasileira, tão escamoteada pelos seus próprios autores, quanto pelas idiossincrasias comerciais de editores de grande vulto.
Certamente, é preciso que os poetas de plantão recuperem a dignidade da Poesia, para assim se declararem, preferencialmente em silêncio, por intermédio de seus versos. Afinal, o mundo não pode sofrer o descalabro da linguagem. Como o próprio Roberto Piva afirma, “os poetas brasileiros têm de deixar de ser broxas para serem bruxos”.
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