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Ensaios-->Almeida Prado genialidade musical -- 02/06/2000 - 10:24 (elcio henrique ramos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A genialidade musical de José Antonio Rezende de Almeida Prado começou ainda criança, ao lado de um piano, com os olhos atentos nas aulas de sua irmã mais velha Teresa Maria. Aos seis anos de idade, surpreendeu à família e a músicos de Santos, onde morava na época, com a apresentação de sua primeira autoria musical. Após dois anos, já estava fazendo recitais com orquestras sinfônicas e aprimorando seus estudos.
Ganhou Festivais de música erudita, uma bolsa de estudos na França onde morou por cinco anos. Compôs para o governo Francês 'ilhas afortunadas' e o 'oratório do amor a Deus', obras que ficou mundialmente conhecidas e lhe deu o prestígio de ser comparado à Villa Lobos. Voltou ao Brasil e começou a lecionar música na Unicamp. Foi um dos responsáveis pela reestruturação do currículo de
música e diretor do instituto de Artes da universidade. Foi o primeiro professor universitário de música
no Brasil a defender uma tese de doutoramento. Sua vasta obra é tema de teses de mestrado no Brasil e no exterior. Atualmente compôs a pedido do Ministério da Cultura brasileiro uma trilogia sobre o descobrimento do Brasil. A obra de Almeida Prado não pára por aí...

Quando começou o interesse de Almeida Prado pela música?

Acredito que desde que nasci. Minha irmã e minha mãe tocavam piano diariamente. Olhava-as, ora estudando, ora tocando e ficava escutando com muita atenção. E foi assim que nasceu meu ouvido musical. Comecei os estudos em Santos com uma professora chamada Lourdes Joppert que me ensinou teoria musical. Depois aprendi com Maria José de Oliveira a desenvolver
ritmos. Fui para São Paulo capital onde tive a oportunidade de estudar com Dinorah de Carvalho, Osvaldo Lacerda e Camargo Guarnielli. Foi aos quatroze anos que comecei a ser um compositor autêntico.

Qual a origem da família Almeida Prado?

Minha família é tipicamente brasileira, de Jaú, interior do estado de São Paulo. No início do século, meus avós trabalhavam com o cultivo do café. Meu pai, José Avelino, aproveitando o ramo cafeeiro mudou-se jovem para Santos e começou a lidar com exportação. Nessa época, 1915, conheceu minha mãe Ignes Benevides, filha de Gabriel Rodrigues de Rezende, professor de direito do largo são Francisco. E foi por intermédio dela e de minha avó Maria Constância de Rezende que a música 'chegou ao meu berço'. Maria Constância era cantora de saraus e teve a chance de cantar para Carlos Gomes e também para a atriz francesa Sarah Bernard. Não era cantora lírica, porque na em 1882 era proibido uma mulher cantar óperas líricas.

A família o incentivou muito na formação musical quando criança. Você acha que hoje isso ainda acontece?

Creio que nas famílias onde há artistas existe o incentivo, caso contrário, as chances são mínimas Dou tanto valor à arte que minhas duas filhas seguiram vertentes culturais. Atualmente uma é arquiteta e a outra violinista com carreira no exterior.

Como a carreira de músico erudito em um país com pouca identificação cultural clássica atingiu projeção
internacional?

Comecei dar aulas em 65 e em 69 ganhei meu primeiro prêmio no festival Guanabara, no Rio de janeiro. Essa foi a porta de entrada
para o exterior. Fui à Paris estudar música. Tive aula com os maiores expoentes da música erudita mundial e acabei ficando por cinco anos. Nessa época despontei como revelação. Por conseqüência disso recebi uma encomenda pouco comum para um latino americano: o governo francês queria minhas composições! Compus na França minha obra-prima chamada 'as ilhas afortunadas' e também 'o oratório o amor de Deus'. Inevitavelmente fui considerado o sucessor de Villa-Lobos. Estava com apenas 28 anos.

Almeida Prado voltou ao Brasil e virou professor de música. Como foi a história que o trouxe de Paris para São Paulo?

Mesmo com todas as honras do governo francês voltei para o Brasil para tentar conseguir a mesma notoriedade por aqui. Estava muito distante de minha família e tinha muita solidão. Inicialmente virei professor de um conservatório em Cubatão. As dificuldades estavam por vir. Minha primeira grande desilusão profissional foi minha tentativa de dar aula na Usp, em São Paulo. Eles não tinham grandes expoentes musicais e mesmo com todo meu mérito disseram não haver espaço para eu dar aulas. Tinha trinta anos nessa época e diversos concertos agendados na Europa. Não entendia como a Usp não tinha espaço para Almeida Prado.

Em contrapartida à recusa da Usp o senhor conseguiu dar aulas na Unicamp. Foi melhor assim?

Não tenho dúvidas. Logo em seguida, por intermédio do compositor campineiro Raul do Valle comecei a lecionar música na Unicamp. Ele ficou sabendo que eu estava no Brasil porque os oratórios estavam sendo estreados no Rio de Janeiro com crítica internacional favorável. Estava nascendo o instituto de artes da Unicamp na ocasião. O físico Rogério Cerqueira Leite, diretor do instituto de artes oficializou o convite com um bom salário. É claro que não iria recusar. Tive o mérito em conjunto com outros músicos titulares da Unicamp em reestruturar a base do currículo do novo departamento de música da universidade. O primeiro vestibular foi em 79. Foi um sucesso. Tornei-me diretor do instituto de artes na gestão do reitor José Aristodemo Pinotti. Nessa época continuei minhas turnês de concertos pela Europa, sempre com críticas louváveis. Estava no meu auge. Graças a deus que a Usp não me quis.

Ser músico e ter reconhecimento internacional lhe trouxe prestígio e notoriedade?

A música erudita não me trouxe dinheiro, notoriedade sim. Atualmente vivo com o salário de professor da Unicamp. Em julho devo
estar me aposentando da vida acadêmica. No Brasil, infelizmente, não há tradição e por isso meu nome não é massificado como os grandes músicos da MPB. Acredito que deveria ter esse mérito. Se tivesse ficado na Europa a história poderia ter sido outra. Porém, seria uma pessoa muito solitária e 'sem pátria'. A notoriedade continua. Fui o primeiro doutor em música do Brasil, pela Unicamp. Analisei como tese minha obra chamada 'cartas celestes'. Tenho alunos que hoje são mestres. Tenho sido tocado muito no exterior, minha música é sempre tocada pela orquestra sinfônica de Campinas, pelo meu companheiro Benito Juarez. Fiquei emocionado ao acompanhar uma tese de mestrado feita sobre minha obra e defendido na escola nacional da música, no Rio de Janeiro, o templo da música erudita brasileira. A tese foi deslumbrante. Tive o privilégio em vida de acompanhar um fato desse. Isso nem Villa-lobos assistiu. Os grandes compositores precisaram morrer para alguém fazer uma tese. Eu em vida fui enaltecido e por isso sinto-me realizado.

Como Almeida Prado vê a atual música popular brasileira?

Tirando o time da velha MPB, como Caetano e Chico Buarque, não há música de qualidade no Brasil. O que faz sucesso hoje é pura repetição musical. A mesmice e a coreografia limitam, tira a liberdade do artista. Quem dera tivéssemos um Tom Jobim entre a gente. Num futuro próximo pretendo arranjar obras musicais de nomes de peso como Tom Jobim e João Gilberto. É uma forma de
disseminar mais o Almeida Prado e tentar juntar o erudito como o melhor do popular.

Quais são as principais obras de Almeida Prado?

'Ilhas afortunadas', 'oratório do amor a Deus', que fiz na França; minhas dez 'cartas celestes' entre elas o céu do Brasil, os signos zodiacais e o céu da bandeira. Como já deu para perceber as estrelas tem uma força muito grande sobre o meu trabalho. Existe também a 'fuga para piano para Bach maior'. A obra é interessante: peguei as quatro letras do nome de Bach que significa na cifra musical alemã as notas si bemol, lá, dó e si natural e fiz um arranjo com elas. Tenho hoje cerca de trezentas e cinqüentas obras, entre suítes e movimentos... Posso ter uma sinfonia com duas horas de duração, opus de minutos e óperas de oito horas. São tantas peças e tantos 'momentos' que fica difícil prevalecer uma sobre as outras.

Como é o processo de criação de suas obras?

Não consigo compor do nada. Tenho que estar inspirado seja por um belo quadro, uma escultura ou um bom filme, ou seja, tem que haver no ar o sentimento pela arte. Até posso compor do nada, mas não vai ficar Almeida Prado.

A música erudita lhe proporcionou encontros com diversas personalidades?

Conheci muita gente importante. Em Paris: Leonard Bernstein, Helliot Carter, grande compositor americano, entre outros. Em certa
ocasião jantei com Maria Callas, cantora lírica de primeira... Ainda criança lembro de um dos encontros mais marcantes; com Villa Lobos. Ele era um homem fascinante, sempre com um charuto na boca. Toquei piano para ele e foi emocionante. Entre os
professores que foram meus mestres estão Camargo Guarnielli e Gilberto Mendes, considerado o papa da música experimental de vanguarda. Hoje ele deve estar com uns 75 anos. Aprendi diversos macetes.

Quais são seus últimos trabalhos?

Eu compus recentemente três obras, uma trilogia a pedido do ministério da Cultura do Brasil sobre os quinhentos anos de descobrimento do Brasil. A primeira chama-se Orê-Jaci Tátá que quer dizer em tupi guarani 'nossas estrelas'. É baseada nas constelações da bandeira que são: cruzeiro do sul, escorpião, cão maior e cão menor. Depois compus uma segunda obra chamada concerto do descobrimento do Brasil, estreada em Genebra no dia oito de abril pelo pianista Luis Carlos de Moura Castro. Descreve a chegada de Cabral em Porto Seguro. A terceira e última peça chama-se 'Da carta de pero Vaz de caminha', feita para
trompa, piano e violino, estreada nos Estados Unidos pelo pianista Caio Pagano com a orquestra sinfônica de Fênix.
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