Era um amor arrasador e de tanto amar, de tanto querer, Deus enviou um anjo até meus
sonhos e esse anjo trazia uma tentativa de amenizar meu sofrimento.
- Osmar, o todo poderoso comoveu-se ao ver seu sofrimento...tentou facilitar as coisas para você,mas ingênuo do jeito que és, não captaste as mensagens vindas Dele. Por motivo dessa comoção, o céu todo se moveu a seu favor.....Ele tentou lhe dar Lucimara novamente...mas como ela tem o poder do livre arbítrio, um poder que está até acima Dele próprio, foi concedido a você a oportunidade do: "um grau". A ti será concedida uma mulher que seja um grau a mais do que Lucimara ou um grau a menos que ela. O que decides??
Ponderei....já que não podia tê-la, seria uma felicidade enorme poder ter alguém tão
próximo, tão semelhante e distante apenas "um grau" da mulher que amo. E prevenido que as vezes
tento ser, resolvi pecar por excesso, e por excesso pedi uma mulher que fosse "um grau" a mais que minha amada.
- Osmar, o céu então te concede: Lucimmara.
...
Acordo com um gosto doce na boca e o peso de um braço cingindo minha cintura...
Dou um pulo da cama!! E lá está uma mulher,aliás, menções dela, pois o edredon cobria-lhe o corpo deixando os cabelos castanhos aparecerem. Devagar, me aproximo. Vou puxando o edredon e começo a vê-la. Era ela! Lucimara, ou como o anjo havia dito: Lucimmara; mas era tao parecida que isso era um grau de detalhe. A mulher que eu tanto queria e que durante tanto tempo foi meu ideal estava ali em minha cama.
Ao se espreguiçar, me olhou sorrindo, aquele sorriso lindo que fazia qualquer homem se
desmanchar inteiro. Nao pensei duas vezes, e num beijo pareceu-me que a vida voltava a
solavancos para meu corpo novamente. Nesse dia nao fui trabalhar, fiquei de beijos e abraços com meu amor.
E o dia passou.
Veio a noite e com ela, toda a volupia que um amor antigo pode trazer e naquele fogo
nos amamos como se aquela fosse a ultima vez de nossas vidas. Estava feliz. Era tudo o que eu queria...e agora tudo estava tão perto, tão ao meu alcance. A não ser por um alguns pequenos detalhes na forma de olhar ou de dar carinho, era exatamente como eu havia sonhado a tanto tempo.
Fez-se festa em meu coração e no resto da noite eu chorei agradecido pela sorte que tinha.
Outro dia veio e junto com ele a ternura de um sentimento reprimido, e se não fosse minha saudade desenfreada, Lucimmara, com aquele "um grau" teria me deixado em frangalhos. Como
Lucimara original é por natureza curiosa e pesquisadora, Lucimmara era um grau a mais e isso me deixava inquietamente animado.
Era tanta pergunta e vontade de saber que aquele um grau de curiosidade me deixava tonto.
Os dias se passaram e nossas conversas eram debates interminaveis que questionavam tudo e todos.E aquele um grau a mais de questionamentos fazia minha cabeça girar a mil para tentar me colocar a altura de tais diálogos.
Por ser um grau mais ciumenta, ao sair na rua, agarrava-se em mim e olhava todas as mulheres como concorrentes em potencial e no começo isso me pareceu engraçado, mas com o passar
dos dias a soma desses graus começaram a pesar. Apesar de todo amor, tudo era um grau a mais e
passou a incomodar-me de forma estranha. Um grau mais amiga, um grau mais amante, um grau mais
feminina, mas também um grau mais medrosa, um grau mais insegura e um grau mais inquisidora.
Graus e mais graus começaram a somar-se em uma avalanche sem fim fazendo-me perceber que
Lucimmara nao era Lucimara nem de longe com todos aqueles graus somados de diferença. Pouco a
pouco, fui percebendo que por mais parecida que fosse, por maior semelhança fisica: morena,
pequenininha e dedos finos, esta Lucimmara exarcebava-se em relacao a Lucimara que eu queria.
E o coração começou a ficar inquieto. Era como se esta mulher que agora eu tinha fosse
uma outra pessoa, e o pior: era outra pessoa! Com a sua infinidade de "um grau" a mais do que a que eu buscava.
E os dias se passavam lentos agora, pois o fardo de estar com quem não se quer leva o homem a loucura em pouco tempo. E de tanto pesar e sofrimento, numa noite; depois de um debate
desgastante e estranho com Lucimmara, o anjo ( aquele do começo da história ), veio visitar-me
num sonho e questionar-me sobre a infelicidade que assolava minha alma.
...
- Osmar, pelas questões de livre arbítrio, Lucimara só voltará para você se ela mesma
quiser, pois para o todo poderoso, nao há forma de interferir nesse direito, mas com todo o
cuidado, ofertamos a ti alguém que fosse de seu agrado, contando-se um grau a mais ou a
menos da mulher que amas para deixá-lo feliz, para fazer-te seguir em frente. Mas parece que
isso não ajudou. Estás infeliz...Por acaso queres aquela que seja um grau a menos?
- Não, obrigado! Assim como o todo poderoso faz pessoas únicas e insubstituíveis,
Lucimara será insubstituivel para mim. Os graus a mais ou a menos me afogam ou me fariam
falta.Assim como cada noite pertence a um dia em sua unicidade, o que posso dizer é que o que sinto está justo para Lucimara e ela, com todos os graus ora mais altos ora mais baixos, está
perfeita para o que espero durante toda essa vida. Então, caro colega das alturas, só te peço
duas coisas. Faça um outro ser de minha semelhança mas que seja um grau a mais do que eu em todos os pontos, para que Lucimmara nao fique sozinha...
Houve silêncio e o anjo perguntou:
- Sim, e a segunda coisa?
- Me leva com você! Para um lugar onde eu possa esperar para sempre...
