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Contos-->Desejo -- 23/10/2002 - 16:37 (Dôra Penna) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Desejo


Dôra Penna





De onde estava podia ver bem o sexshop. Queria muito ir até lá, entrar. Mas, e se alguém a visse entrando ou, pior ainda, saindo... com um pacote na mão?! Não, não podia! O que iriam pensar? Logo ela, uma mulher distinta, discreta, uma cidadã acima de qualquer suspeita.
Passou direto, olhando em frente, porque olhar a vitrine já poderia ser comprometedor.
Teve vontade de dar uma volta e passar por lá novamente. Talvez então tivesse coragem. Não, e se alguém a estivesse observando, poderia estranhar a sua presença ali novamente. Poderia desconfiar. Sentia-se uma delinqüente em potencial, prestes a cometer o seu primeiro crime.
Mas seria isso um crime aos olhos da sociedade? Ter desejos? E aos olhos de Deus? O que pensariam os outros freqüentadores da sua igreja? Será que nunca ardiam à noite?
Seria ela louca? Tarada? Talvez o marido achasse que sim. Foi deixando de procurá-la... fugindo de seu assédio... recusando-se a tocar no assunto... Se pelo menos procurasse um médico. Podia ser um probleminha simples, de fácil solução. Ou talvez psicológico. Aí uma terapia poderia resolver, quem sabe?
Ela só sabia que havia perdido as esperanças. A última foi o viagra que deu a ele, dizendo ser vitamina C, "um santo remédio contra gripe". É, não tinha mais jeito mesmo. Não com ele. O jeito que tinha estava lá dentro, no sexshop.
Mas era uma covarde. Uma escrava da opinião dos outros. "O que os outros vão pensar?" Cresceu ouvindo isto. Hoje talvez fosse tarde demais para se libertar. Mas quem sabe amanhã? Voltaria amanhã e entraria. Nem que fosse de lenço na cabeça e óculos escuros. Não, assim também não. Poderia fazer efeito contrário. Veriam que estava tentando se esconder. Precisava de um plano melhor.
Lá estava ela outra vez. Olha para um lado, para o outro, disfarça, olha uma vitrine, olha para lá outra vez, quase sem virar a cabeça. De óculos escuros dá para fazer isto muito bem. Foi uma boa idéia. O lenço, não. Ninguém mais usa, chamaria mais a atenção.
Entrou uma mulher! Que coragem! E de cara limpa, sem óculos nem nada. Podia aproveitar agora. A vendedora (ou, na pior das hipóteses, o vendedor) ficaria com a atenção dividida.
Tomou coragem, tomou a direção da loja com passo firme, decidido, e... passou direto. Fraquejou no último minuto, que vergonha! Mais uma oportunidade perdida. Mas quem sabe amanhã?
Desta vez chegou até a porta e quando ia entrar... sai de lá um homem. Quase se esbarram! Disfarçou, fingiu que procurava algo no chão. O homem passou direto! Claramente sem jeito. Eles também tinham vergonha! Não era só ela. Isso lhe deu novo ânimo. Amanhã, sem falta!
Hoje, não... Não estava se sentindo nada bem. Amanhã...
Uma semana! Há exatos sete dias nem tentava. Desanimador. Nunca foi mulher de desistir de seus projetos, de seus planos. E por falar em plano, talvez precisasse de um outro. Pensou em pedir um grande favor a uma amiga, mas a qual delas? Nenhuma. Talvez até cortassem relações. E aquela sobrinha? Moça moderna! Mas, e se comentasse com algum parente? Que contasse para outro? Acabaria a família inteira sabendo! Seria a fofoca do ano! O jeito era ela mesma dar seu jeito.
Fixaria uma data definitiva. Metas são importantes em qualquer planejamento. Isto! E seria no dia de seu aniversário, daí a duas semanas. Teria tempo de sobra para se preparar. Além do mais, era uma idade redonda, merecia ser comemorada em grande estilo. Ela merecia ganhar um presente há muito almejado. E estreá-lo neste dia! Seria um aniversário memorável! Afinal, completar oitenta anos não é para qualquer um.
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