----- O que é que andei fazendo neste Domingo à tarde? Andei por aqui, pelas ruas da minha cidade a contemplar o que ainda de verde resta entre a enorme montanha de cimento.
----- Sentei-me num dos bancos públicos do jardim da Praça da República, atitude que já não me lembrava sequer de tomar. Num banco diante de mim, um idoso impecável tamborilava os dedos sobre a pega curva de sua bengala, quiçá a cogitar futuros de suavidade ou a remorder longínquas saudades.
----- Tomei a esferográfica e numa das bordas brancas do JN comecei a rabiscar:
----- Amiga de tão longe aqui tão perto,
----- Sarça de luz ardente benfazeja
----- Que ilumina e faz no meu deserto
----- Um oásis de esplêndida cereja.
----- Entre o vento agreste da inveja
----- Serves-me de manto e guarida
----- E também de túmulo, salvo seja,
----- Donde ressuscito a minha vida.
----- Amiga minha, Musa, Fada erguida,
----- Varinha mágica da consolação
----- Que me toca de alvo esplendor...
----- Amiga por destino a mim cinjida
----- Pelo enlace intenso da razão
----- Que acredita ainda no amor!
--------------- Torre da Guia --------------------