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Ensaios-->OS MISTÉRIOS ARARAQUAROSOS (1) -- 29/09/2000 - 23:12 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
'OS MISTÉRIOS ARARAQUAROSOS' é o relato provisório de um acontecimento teatral e de sua recepção.
Em se tratando de um ensaio de certa extensão, decidimos publicá-lo em capítulos. Por ser um relato, esta forma de publicação também pode acrescentar-lhe um naco da expectativa que cercava os folhetins. Em algumas passagens, isto fatalmente acontecerá.
Que o leitor não se impressione com o capítulo inicial, na verdade um preâmbulo explicativo inevitável.
O texto foi apresentado como trabalho de conclusão de um dos cursos que fiz, como doutorando, na UNICAMP. O curso era sobre as possíveis aplicações da 'estética da recepção' no estudo do teatro, mais particularmente o brasileiro, visto pela autora à luz da presença marcante do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Kathrin Sartingen publicou sua tese na Alemanha sob o título de 'Über Brecht hinaus...'. Em sua proposta mais ousada, ela sugere que Boal teria ido além do teatro de Brecht. Coube-me traduzir esse livro para a editora Hucitec (este sendo um assunto para posteriores investidas ensaísticas no âmbito da tradução). Se houve algum empenho na divulgação desse lançamento, não terá sido suficiente. Quem se der ao trabalho de percorrer periódicos e revistas da época - o lançamento se deu por volta de setembro de 1998, em pleno ano comemorativo do centenário de Brecht, pasmemos - pouco vai encontrar. Me lembro apenas de uma breve menção pela revista CULT.
Na capa, muito bem realizada por sinal, um letra 'b', minúscula e cursiva, sustenta um charuto. Foi um momento privilegiado no meu trabalho como tradutor, com a possibilidade de um diálogo muito próximo com a autora, o que me permitiu, entre outras façanhas, algumas aventuras do tipo 'over-translating'. Ao assumir essa tarefa, além desse aspecto, uma outra coisa me movia, qual seja, a chance de refletir sobre temas e acontecimentos de enorme relevância para a minha própria formação. Pude reler Boal, com o seu 'Teatro do Oprimido', 'Murro em Ponta de Faca', uma de suas peças mais conhecidas e encenadas mundialmente; acompanhar a leitura, feita pela autora, de alguns dos textos mais marcantes do teatro brasileiro (Guarnieri, Paulo Pontes, Vianninha, Chico Buarque, Luiz Antonio Martinez Correa, entre outros), bem como verificar a presença de Brecht em Glauber Rocha ('Deus e o Diabo na Terra do Sol').
Tudo muito belo, muito edificante, muito produtivo, digamos, se quiséssemos e pudéssemos deixar de considerar as 'condições de produção' do nosso incipiente mercado editorial. Mas este, repito, é assunto que ainda aguarda o melhor momento para ser dado ao público.
A minha parte está feita. O livro está na praça. A 'InterNationes', orgão de difusão cultural do governo alemão, terá pago o acertado para que o meu trabalho tivesse a sua 'merecida' compensação. Resta à Editora Hucitec cumprir, mesmo com atraso, ou talvez, se necessário, estimulada por alguma forma de pressão, a sua parte.
A partir de agora, o leitor vai acompanhar um acontecimento exemplar sob todos os pontos de vista, e sem precedentes na história da recepção teatral em escala planetária.
Entre os meses de junho e julho de 1995, Araraquara voltou a ocupar lugar de destaque no cenário jornalístico de todo o país. Triste papel, diga-se a bem de toda a verdade. Só muito recentemente, coisa de duas semanas, o diretor Zé Celso Martinez Correa, que é filho da terra, foi absolvido das acusações que contra ele pesavam. Este meu texto, consta, serviu para compor a defesa do diretor e de sua troupe. Ele foi publicado no opúsculo 'Mosaicos de Brecht', editado por Kathrin Sartingen, contendo os trabalhos de todos os meus colegas do curso acima referido. O jornalista e crítico teatral Nelson de Sá, me disseram, da Folha de São Paulo, foi quem primeiro descobriu o meu ensaio, tendo-o passado ao diretor do Oficina, que me ligou, em seguida, para se dizer emocionado com o que eu ali apresentava.
Que o leitor do usinadeletras também possa, pelo meu relato, acompanhar esse capítulo, exemplar em inúmeros aspectos, da nossa história recente.
Estas reflexões também poderiam incluir um dado profundamente relevante. Poucos dentre os que, direta ou indiretamente, nele tomaram parte, tiveram acesso ao texto que você vai ler agora.


CAPÍTULO 1


Este ensaio não pretende ser muito mais do que o relato de um acontecimento teatral recente: a apresentação, pelo grupo Uzina Uzona, sob a direção de Zé Celso Martinez Correa, do espetáculo 'Mistérios Gozosos', no Teatro Municipal de Araraquara, nos dias 17 e 18 de junho de 1995. O espetáculo era uma adaptação de um texto escrito por Oswald de Andrade em 1950, que originalmente trazia o título 'O Santeiro do Mangue'.
Com este relato, estaremos buscando, de certa forma, nos confrontar também, no quadro do acontecimento relatado e de seus desdobramentos, com as propostas da chamada Estética da Recepção. Em se tratando de acontecimento muito recente, com implicações para nós muito próximas e envolventes, pareceu-nos mais apropriado optar pela forma do relato, desobrigando-nos assim de imediato quanto a pretensões estritamente crítico-analíticas. Esta proximidade com o acontecimento relatado, entre outros riscos, nos sobrecarrega ainda com o ônus de estar a tratar de posturas e opiniões de um círculo, muito estreito, de pessoas do nosso convívio. Elas certamente saberão compreender e aceitar esta nossa ousadia, em nome da necessidade de construir inclusive a memória das nossas relações.
Por se tratar de um acontecimento extremamente particular, com tantos elementos externos ao fato teatral propriamente dito e com proporções inusitadas no que diz respeito à recepção e ao efeito de uma representação teatral, era inevitável uma retomada de tudo o que, até então, vínhamos pensando sobre o teatro e sua recepção. De resto, qualquer pretensão de isenção tornaria desaconselhável a nossa decisão relativa ao tema a ser tratado. Além disso, foi preciso assumir todos os riscos de uma distância inevitável com relação a uma abordagem mais acadêmica.
E não seria descabido afirmar: é esta, por natureza, a relação, nas reflexões sobre a arte de um modo geral, entre os fatos observados e as teorias, ou seja, uma relação em que estas se produzem a partir daqueles. Dito de outra forma, a observação e a reflexão colocam necessariamente em risco a existência das próprias teorias.
Ainda assim, mesmo tendo optado pela forma do relato, foi impossível não nos aventurarmos, às vezes de forma mais insistente do que desejávamos, pelos caminhos da teorização. Nesses momentos, o que deveria ser um mero relato envereda perigosamente rumo a reflexões e conclusões de caráter mais geral. Que tais considerações e reflexões sejam recebidos com as ressalvas que merecem. Se por um lado nos desobrigamos, como foi dito, com relação a pretensões de precisão crítico-analítica, por outro lado sabemos estar abrindo mão de poder contar com as certezas das teorias já assentadas e dos fatos ditos consumados. Se levarmos em conta, no entanto, as características do acontecimento em questão, esta parece ser, por ora - e apenas provisoriamente talvez - a opção mais acertada.
Mais tarde, passado o calor da hora, talvez passe a ser possível uma visão mais precisa do acontecimento. Se isso não vier a ocorrer, terá ficado o relato.
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