Usina de Letras
Usina de Letras
13 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50669)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->OS MISTÉRIOS ARARAQUAROSOS (2) -- 03/10/2000 - 22:04 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(continuação)

Mas, antes ainda de passarmos ao relato propriamente dito, trataremos de arrolar alguns dos pressupostos teóricos que norteiam os nossos esforços. Como foi dito acima, buscaremos, no exemplo desse acontecimento teatral, compreender algumas das propostas da assim chamada Estética da Recepção, o que também significa: algumas das propostas da Estética da Recepção podem servir de base para a compreensão desse acontecimento.
No primeiro semestre de 1995, um curso oferecido pela Profa. Dra. Kathrin Sartingen junto ao Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária da UNICAMP, propunha justamente a retomada de alguns dos textos teóricos de Iser e de Jauß e de algumas de suas aplicações, como é o caso da análise da recepção de Brecht no Brasil, que ela defendeu como tese na Universidade de Bonn sob o título 'Über Brecht hinaus...' . Muito do que estaremos considerando aqui é decorrência da leitura desse seu trabalho e das reflexões e considerações feitas ao longo do curso.
Vale registrar a colaboração valiosa (em vários níveis) de todos os participantes daquele curso. Estar pensando agora o teatro é, em certa medida, estar dialogando com eles. A nossa tradução dos capítulos teóricos de 'Über Brecht hinaus...' [em português, literalmente: 'Para além de Brecht...'], onde a autora discorre sobre a recepção produtiva de Brecht no Brasil, foi lida e discutida em classe pelo grupo. A todos, o nosso mais sincero agradecimento.
Estaremos dialogando necessariamente ainda com os diversos textos por nós traduzidos ao longo dos últimos dez anos.
Sem nenhuma intenção de estar meramente citando aqui realizações pessoais, o nosso percurso como tradutor foi perseguido, apesar de todas as circunstâncias e com o favor também de inúmeros acasos, no sentido de compor um panorama do que foram os anos 60. No plano teórico, às traduções das obras do teórico marxista Peter Bürger, junta-se agora esta nossa investigação acerca da Estética da Recepção.
[Foi nesse quadro, que nos decidimos pela tradução da tese de Kathrin Sartingen, que parte de uma pesquisa da recepção - analisando e aplicando as abordagens de Wolfgang Iser e de Hans Robert Jau& 61538;, nomes já bastante conhecidos entre nós, e recorrendo aos conceitos de pesquisadores como Dietrich Krusche (estranheza), Alois Wierlacher (literatura de uma cultura estranha como comunicação intercultural) e Hannelore Link (recepção produtiva em contraposição a uma recepção reprodutiva), com interesse centrado na aplicação das referidas propostas ao plano das relações interculturais - , para chegar à pesquisa da influência, na esteira dos trabalhos de Harold Bloom . Todo esse arsenal teórico é mobilizado para tratar das encenações brasileiras de Brecht, verificar a influência deste sobre a criação de alguns dramaturgos brasileiros e sobre o cinema novo, Glauber Rocha em particular.]
Retomando: foi a mesma efervescência cultural dos anos 60 que produziu a obra 'Teoria da Vanguarda' de Peter Bürger e a Estética da Recepção, duas das mais importantes vertentes da Teoria Literária alemã, resultantes dos esforços, vitórias e - sobretudo, na visão de Peter Bürger - dos fracassos revolucionários do movimento estudantil.
Hubert Fichte e Peter Handke são, cada qual a seu modo, representativos desse mesmo período, no plano da criação e da experimentação literária. Especialmente Peter Handke, cujo primeiro e enorme sucesso no teatro, em 1967, nasceu de um projeto original de escrever um ensaio sobre o teatro. Handke preferiu escrever então uma peça, que, depois de provocar inicialmente a incompreensão e a ira de uma platéia habituada aos cacoetes de um certo realismo, ficaria durante cinco anos em cartaz. A peça trazia um título bastante sintomático e ilutrativo: 'Insulto ao Público'.
De Peter Handke, traduzimos ainda dois ensaios programáticos: 'Eu sou um morador da torre de marfim' e 'A literatura é romântica', escritos igualmente nesse fértil ano de 1967. No ano seguinte, o mundo inteiro iria viver o que se convencionou chamar de “maio de 68” ou “a revolução estudantil”.
Panorama bastante propício, diga-se de passagem, para a leitura de uma produção teatral como a de Zé Celso, à frente agora do grupo Uzina Uzona, firmemente enraizada nas inquietações vanguardistas daqueles anos, em que a arte buscava novas formas de relação com o público. O teatro Oficina radicalizou nesse sentido, com suas experiências, inspiradas entre outras coisas por um trabalho conjunto com o Living Theater, de um teatro grupal, de agressão e de violentamento do gosto vigente.
Vale lembrar que, para Peter Bürger, os anos 60 representaram o momento privilegiado para a compreensão das chamadas “vanguardas históricas”, dos movimentos que procuravam, nos primeiros trinta anos deste século, tornar a juntar arte e vida. Para ele, cumpre hoje ainda retomar o modernismo, como forma de superação do beco sem saída do assim chamado pós-modernismo, cujo risco maior é a quase impossibilidade de se continuar a fazer metalinguagem.
Com a montagem de 'O Rei da Vela', Zé Celso Martinez Correa e o Grupo Oficina propuseram ao teatro brasileiro a releitura de Oswald de Andrade e do Modernismo Brasileiro, proposta esta congenial ao surgimento do movimento tropicalista, que, vindo da área das artes plásticas, inspirou uma revolução não só na Música Popular Brasileira, mas, e sobretudo, nas idéias e nos costumes de uma cultura que já conhecia a radicalidade do “um banquinho, um violão” da Bossa Nova e o “quero que vá tudo pro inferno” da guitarra elétrica introduzida pela Jovem Guarda.

(Voltando no tempo: os comentários de alguns dos espectadores presentes aos espetáculos apresentados em Araraquara, sobre o estilo engajado e delirante do encenador, apresentam um tom francamente condenatório e desdenhoso, vendo nele apenas as marcas de alguém parado no tempo, mais precisamente nos anos 60. Mas, se acertam na localização do estilo e da época, erram no tom e no julgamento.)

De resto, a Estética da Recepção também voltou suas baterias contra a visão historicista que, suponham ou não os opinantes, subjaz a considerações desse tipo.

(continua)
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui