O Anjo da Verdade se aproximou trazendo a Tábua dos Desígnios junto do coração.
Seu corpo envolto em bruma de resplandescência violácea parece flutuar acima do chão. As vestes têm uma luminosidade incomum, incandescente.
Estranho. O Anjo não sorri. Parece não ter nenhuma emoção, nenhum sentimento, embora seus traços sejam de uma suavidade acalentadora.
Instintivamente, sabia que aquela Tábua de escrita indecifrável, contém a história de minha vida, desde sempre. Não importa os caminhos que percorra, ou quantas mudanças sofra durante a existência. Está tudo lá, calculado, contado, pesado e medido.
E se está tudo alí, secretamente contido, qual é o final da minha história?
Olhei para o rosto do Anjo em busca de resposta, mas não estava pronta para a pergunta.
Outros seres alados foram surgindo não sei de onde, e se postando ao lado do Anjo da Verdade. Em poucos instantes já eram vários. Todos resplandescentes com suas luzes coloridas. Tanta claridade, que se torna impossível distinguí-los ou ver nitidamente seus rostos.
Apenas o Anjo da Verdade, com sua energia lilás se sobressai... ou será que sou eu, quem não consegue desviar os olhos da figura amável e ao mesmo tempo amedrontadora?
Ouço minha voz, mas meus lábios não se movem... Qual o significado disso tudo..?
Ainda não estou pronta para a pergunta!
Acordei imediatamente num sobressalto, sentindo dificuldade para respirar, mas logo tudo se normalizou. Era como se meu corpo fosse destituído da energia vital por um breve instante. Uma ligeira interrupção no fluxo da vida que me faz pensar se a morte não é apenas uma colisão do “ser” com o “não-ser”, ou seja, um mero acidente de percurso...
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