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Ensaios-->OS MISTÉRIOS ARARAQUAROSOS (4) -- 13/10/2000 - 20:38 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sobre o cenário do acontecimento que pretendemos relatar


Araraquara é uma cidade com seus 160 mil habitantes (números oficiais), situada na chamada Califórnia brasileira. Vale mencionar que ali, numa das inúmeras fazendas de café daquela região, Mário de Andrade escreveu o 'Macunaíma'. Hoje, onde antes se plantava café, cana de açúcar e laranja, fumaça de queimadas e um cheiro adocicado de xarope, e o sabor provinciano de recordações gloriosas e nostálgicas, como o fato de ter possuído um dos maiores teatros da América do Sul, com palco giratório. Este teatro, como tudo o que chegou a anunciar para estes municípios do interior de São Paulo um futuro dos mais promissores, teria sido elogiado, como se conta, pela grande Cacilda Becker . Tendo sido derrubado nos anos 70, deu lugar ao edifício que abriga hoje a Prefeitura Municipal, bem no coração da cidade. O Clube Araraquarense, situado no mesmo quarteirão central e o Hotel Municipal , são construções imponentes, relíquias de um passado digno de admiração e de saudades. O novo Teatro Municipal, embora igualmente elogiado por todos quantos nele se apresentem, paga o alto preço de ser o resultado de uma política desatenta para com as tradições da cidade. Além disso, situa-se fora da área central, num bairro nobre, o que afasta definitivamente de seu recinto e de suas proximidades o grosso da população da cidade. Os eventos ali promovidos são freqüentados, em sua maior parte, por uma elite que ainda pode pagar ingressos, quando os espetáculos são cobrados, e por uma diminuta classe intelectual, que faz o que pode para acompanhar ainda a vida cultural em suas ainda que esporádicas manifestações.
(Entre as glórias de sua vida cultural pregressa, consta uma visita de Sartre e Simone de Beauvoir à cidade, onde proferiu palestra e reuniu personalidades hoje muito importantes na nossa vida cultural e política.)
O status elitista de que goza o teatro, a postura também decididamente elitista com que são administrados tais recintos públicos, a postura muitas vezes equivocada dos promotores culturais ou simplesmente a pouca ou nenhuma divulgação dos eventos, tudo isso explica o abismo existente entre o Teatro Municipal e a população da cidade. Mesmo quando os eventos são gratuitos, como foi o caso da apresentação do espetáculo Mistérios Gozosos.



Sobre dois ilustres filhos da cidade: Zé Celso e Luis Antonio Martinez Correa


Araraquara gerou alguns grandes nomes para a vida cultural brasileira, que se produz preponderantemente a partir de São Paulo ou do Rio de Janeiro. No teatro, dois nomes saíram de uma mesma família: Zé Celso Martinez Correa e Luis Antonio Martinez Correa .
Zé Celso é referência obrigatória para tudo o que se diz sobre o teatro brasileiro a partir dos anos 60. Com o grupo Oficina, ele fez história em São Paulo e Rio, entre a segunda metade dos anos 60 e a primeira metade dos anos 70. Depois disso, o período da ditadura militar veio determinar seguidas perseguições a todos quantos buscavam formas novas e provocativas de realização artística, culminando com o exílio de uma boa parte dos nossos criadores de então. Zé Celso e seu grupo foram viver alguns anos em Portugal, França e África portuguesa. De volta ao país, tentou em vão, ao longo de quase vinte anos, reerguer o Teatro Oficina, não tendo realizado, por razões mais do que óbvias, senão algumas leituras e eventos de pouco alcance em termos de público, embora com a devida repercussão na mídia. Seu carisma pessoal fêz com que continuasse sendo uma figura notória no nosso cenário cultural, sem negligenciar ainda sua capacidade para criar fatos em torno de si mesmo. Essa sua prolongada 'inatividade' já lhe valeu a tirada ferina de um colunista , que lhe aplicou o epíteto de 'o decano do ócio'. Nada mais realizou que se comparasse ao sucesso obtido naquele período inicial do grupo Oficina. Só agora, muito recentemente, tornou a ganhar espaço e prestígio pelas montagens de Ham-let e Mistérios Gozosos.
Mas essa é uma história que todos conhecemos muito bem. Há uma história oficial, em vias de ser escrita, que busca ignorar sobretudo aquilo que se apresenta como mais problemático. Procura-se avidamente uma história sem tantos conflitos, uma história de esquerda, de resistência, mas com uma linearidade garantida, para que alguns coadjuvantes consigam, a posteriori, galgar os postos principais.
Do nosso ponto de vista, não se pode falar do teatro brasileiro sem considerar a experiência do Teatro Oficina, que resgatou para a nossa cena Oswald de Andrade e a Antropofagia, que foi contemporâneo e congenial ao movimento Tropicalista em música popular, que congregou nomes como o de Chico Buarque e Caetano Veloso, atores como Raul Cortez, Cláudio Correa e Castro, Ioná Magalhães, Etty Fraser, Renato Borghi, entre outros, que trouxe para o Brasil o Living Theater e suas experiências radicais. Quem viveu esse período, sabe que a história foi essa, e que, num certo momento da vida cultural brasileira, era necessário optar entre ser 'arena' ou ser 'oficina'. Mesmo quanto à recepção de Brecht entre nós, há-que falar de uma recepção do tipo 'arena' e uma do tipo 'oficina'. Nas décadas seguintes, lamentavelmente ou não, a maior parte desses nomes que fizeram a história do nosso teatro nos anos 60 e 70 foi obrigada a buscar sua sobrevivência, não apenas material, nas novelas da televisão.
O Casamento do Pequeno Burguês, encenação criada no porão do Teatro Oficina, revelou um nome que se tornaria obrigatório no teatro brasileiro a partir de então: Luís Antonio Martinez Correa. Essa montagem, depois do sucesso em São Paulo e Rio, haveria de realizar uma bem-sucedida tournée pela Europa. Luis Antonio faria depois uma carreira cheia de êxitos, culminando com a montagem da Ópera do Malandro (Buarque/Gay/Brecht). Tendo sido brutalmente assassinado às vésperas do natal de 1987, Araraquara houve por bem homenageá-lo, batizando com o seu nome uma de suas instituições, a Casa da Cultura.
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