GÊNESE DO AMOR E DO PECADO
Deus fez o homem logo após ter feito
o mundo todo: céu e terra e mar.
E, dando ao homem vida,
olhou-o com respeito.
Era a sua obra-prima de beleza
a dominar a própria natureza.
Mas, olhando por dentro a criatura,
foi vendo que nem tudo era perfeito
naquela frágil estrutura.
Averiguando bem peça por peça,
encontrou uma lá dentro do peito
que estava fora do programa.
E exclamou, contrafeito, mas com certa emoção:
"Ora essa,
isso eu nem sei como se chama..."
E chamou à pecinha coração.
Depois, parou, refletiu, meditou,
admirando seu trabalho.
E o coração de novo olhou
pensando: "vai dar galho..."
Mas, tendo espírito esportivo,
deixou de lado essa preocupação.
E, ao ver o homem vivo,
o próprio Deus quis ter um coração.
Contente e satisfeito,
o Criador se convenceu
de que era o artista mais perfeito.
Ninguém sabe que tempo decorreu,
nem que tempo passou,
pra se fazer sentir o efeito
da peça estranha que o Senhor deixou.
Só se sabe que o homem
antes de reclamar
de sono, sede ou fome,
ou de uma dor qualquer,
se pôs, desesperado, a suspirar,
pedindo uma mulher.
E Deus, depois daquela trabalheira,
querendo descansar,
largou tudo, dizendo:
"Eu vou providenciar-te a companheira!"
Dormindo Adão, tirou-lhe uma costela
e, com muito cuidado,
fez uma plástica mais bela
e pôs-lhe ao lado.
Quando Adão acordou,
vendo aquele pedaço,
uma morena linda, um mulheraço,
pronto... se apaixonou!
Deus sorriu e gostou.
Bem discreto, depois,
todo orgulhoso se afastou
para dar chance aos dois.
Adão, sentindo uma atração fremente,
sem receio investiu.
Eva, ainda tonta e ingenuamente,
nem resistiu.
Deus veio ver o que é que aconteceu
pois que ouvira gemidos...
E achou-os unidos, tão unidos,
que pensou: "um já desapareceu..."
Mas, olhando melhor, o bom Senhor
viu que aquela união
era o primeiro ato de amor,
e logo se lembrou do coração:
"Por causa de uma peça, pô,
quanta atrapalhação!"
E foi saindo, um tanto envergonhado...
"Quis inventar o amor
e inventei o pecado."
Desde então,
todo e qualquer prazer,
tudo que é bom,
passou a ter,
para o homem confuso e renegado,
o nome de pecado.
Mas o casal primeiro,
que no campo do amor foi pioneiro,
apesar de perder o paraíso
e do sermão levado,
foi transmitindo a cada geração
a técnica precisa
do primeiro pecado.
Muito tempo passou, até que um dia,
Deus parou pra rever a velha história.
E, com certa euforia,
foi dizendo:
"Ora, ora,
essa estranha atração
entre mulher e homem,
é natural... assim como é a fome,
e, mais que posse, é doação.
Se tudo isso fui eu que inventei,
deve ser bom.
Não pode haver pecado
num casal abraçado.
Ao condenar errei
- disse Deus a sorrir -
e devo corrigir.
Foi quando mandou Freud para o mundo,
num desejo profundo
de se redimir.
E Freud, nosso amigo,
fundiu a cuca estudando o segredo
desse processo antigo
que, sendo bom, causava tanto medo.
E saiu a dizer em altos brados,
como fiel porta-voz do Senhor:
"Homens, mulheres, vivam abraçados,
já não há mais pecado, tudo, TUDO É AMOR!"
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Os que aceitaram alegremente,
vivem amando, só amando,
- são aqueles chamados "pra frente".
E os que insistem no drama dos pecados,
vivem pecando, só pecando,
- são aqueles chamados "quadrados".
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