FARRA-D0-HOMEM
Algumas comunidades trouxeram de seu país de origem uma tradição estranha. Trata-se da farra-do-homem. Em primeiro lugar, escolhe-se um homem. Mas não é assim tão fácil como parece. Deve ser um homem diferente: um homem honesto, fiel, cumpridor da palavra. Viu como não é fácil? Em algumas comunidades, é comum isolarem essa espécie humana desde pequeno, preparando-o para a ocasião certa.
Como funciona a brincadeira? Em princípio, solta-se na rua o homem escolhido, doravante denominado de homem honesto. Na sua frente colocam dois obstáculos: de um lado, um financiamento da SUDAM; de outro, as precatórias do governo. O homem honesto, certamente, pula os obstáculos com categoria. Ainda se encontra disposto. Mais adiante, um empresário propõe lhe pagar propinas para liberar um documento na repartição. Desvia-se do obstáculo. Crianças lhe jogam pedras. Adultos começam a vaiá-lo. Isso faz parte da brincadeira. No próximo bloco, você verão (ou lerão) outras peripécias dessa deliciosa farra.
O homem honesto não anda nem mais dois passos e encontra um cobrador. Se fosse outro, desviaria a trajetória, fingiria que não estava vendo o fulano. Mas o homem honesto, não. Ali mesmo tira o talão de cheques do bolso, pede desculpas pelo esquecimento, e quita o débito. Novas vaias. Em seguida, vê-se diante de uma morena provocante, que faz de tudo para conquistá-lo (é um teste de fidelidade). O homem honesto atende-a com educação e respeito, mas recusa de imediato as propostas sensuais que lhe são dirigidas. Sai correndo, com o povo todo atrás de si.
Uns lhe puxam os cabelos, outros rasgam-lhe as roupas. O homem honesto tem um olhar bovino. Começa a cansar.
Aí os farrista aproveitam: oferecem comissões, vantagens, participações em negócios escusos, cargos bem remunerados... o homem honesto vacila, mas não se deixa comprar. Leitores, é preciso acabar com essa brincadeira cruel. Homem honesto também é um ser humano.
|